Abaixo está uma breve atualização do protesto de rua contra o cerco à okupa de refugiadxs na rua Ohlauer em Kreuzberg, ameaçada com o desalojo desde 24 de Junho . Escrevemos isto para partilhar a experiência que tivemos no dia 1 de Julho , esperando que isso pudesse servir de alguma maneira para que outrxs companheirxs formassem uma opinião sobre a situação .
Chegamos ao bairro por volta das 16:00 e depois de dar uma volta para verificar onde a bófia tinha feito bloqueios, fomos para a rua Ohlauer, onde se encontra a escola okupada, cercada por forças policiais massivas. No telhado do edifício antigo da escola era possível ver 2 ou 3 pessoas, enquanto na junção das ruas Ohlauer e Reichenberger estava uma multidão, cerca de 500 manifestantes. A bófia antimotim tinha mudado as barreiras de metal para a frente, ganhando alguns metros de terreno, e puseram-se em linha com armadura corporal completa e dezenas de carrinhas da polícia atrás. Não havia nenhuma maneira das pessoas chegarem perto da entrada do edifício, a não ser quebrar violentamente as linhas da polícia, algo que estava fora de questão no momento, dado que estávamos em inferioridade numérica com os porcos, mas principalmente devido ao carácter da concentração que era tudo menos combativo.
Junto à Livraria Tempest estavam 2 pontos de recolha de informação, quer dizer 2 mesas com um grupo de pessoas sentadas atrás delas, a organizar coisas (não conseguimos compreender o que era exactamente a matéria desses assuntos). Ao mesmo tempo, no meio da rua estava uma pequena carrinha com um sistema de som, da qual pessoal (na maioria refugiadxs hip-hopper e imigrantes) iam cuspindo rimas e cantando. A maior parte dxs manifestantes estavam sentadxs no chão, de costas para a bófia e a ver o concerto improvisado. Achamos que momentos de expressão livre nas ruas são realmente importantes no dia a dia, mas consideramos que festividades alegres, em alturas cruciais como esta, são no mínimo ingénuas senão reacionárias. O sentimento geral era o de um protesto pacificado de direitos civis ou de festa de rua, desprovido de qualquer sentimento de raiva contra a militarização da zona pelas forças policiais. Além do mais, a música e anúncios através do microfone eram contínuos, não deixando espaço para gritar palavras de ordem, praticamente obrigando toda a gente a assumir o papel de espectador.
Não obstante, o que achamos completamente irresponsável por parte daqueles que fizeram a convocatória e/ou organizam estes protestos é o facto de aceitarem (senão convidarem) a imprensa durante o ato. Carrinhas da TV, câmaras, repórteres fotográficos e jornalistas estavam misturados com os manifestantes, a filmar, a tirar fotos, a gravar e a monitorar tudo em geral. Não é do nosso conhecimento se haviam ou não companheirxs entre a multidão que tivessem a mesma opinião que nós mas que preferiram manterem-se discretos. No entanto, não houve nenhuma reação visível de ninguém contra esta presença de facto dos bastardos dos mass media. Assim, dirigimo-nos a um ponto de informações, explicando que o ambiente não parecia seguro para manifestantes, porque todos os nossos movimentos estavam a ser monitorados não apenas pela bófia como também pela imprensa, recebendo apenas a resposta de que havia pessoas que queriam os media presentes (entre elas também refugiadxs). Tentamos gritar frases como (“ A imprensa está a trabalhar para o Estado, jornalistas fodam-se daqui para fora agora!”) mas em vão, já que as nossas vozes foram abafadas pelo sistema de som.
Passado um bocado fomos para a esquina da rua Lausitzer com a Reichenberger, a um quarteirão da escola dxs refugidxs, onde a bófia tinha confinado cerca de 100 manifestantes que realizavam um protesto sentados na estrada para bloquear a chegada de mais carrinhas da polícia que se dirigiam para a rua Ohlauer. O ânimo estava ligeiramente melhor aqui, havia pessoas a gritarem frases bem alto, mas a acção não excedeu os limites da desobediência civil. Dadas as circunstâncias os protestos sentados podem ser eficazes em termos de bloquear o avanço da bófia, mas não há garantias para os activistas que botas da polícia não lhes vão pisar as cabeças quando lhes apetecer. A bófia usou a violência contra os manifestantes, mas não conseguiu romper a manif sentada; certificaram-se então de espalhar mais terror, fazendo avançar esquadrões da polícia em uniformes negros e balaclavas a cobrir as características faciais. Não há dúvida, o Estado é o único terrorista.
Permanecemos na zona até perto das 20:00, indo de um protesto sentado para outro (havia pelo menos mais 2 no bairro). Antes de decidirmos deixar o local, fizemos uma breve intervenção nas festividades da Rua Ohlauer quando a música parou, declarando alto que os mass media são a voz do inimigo e que deviam ser expulsos imediatamente por isso. A imprensa é em grande parte responsável pela preparação deste despejo em termos de propaganda, e é realmente triste ver que algumas pessoas não reconhecem o óbvio. Esta luta, como qualquer outra luta parcial, ou será radicalizada e assumida tanto por refugiadxs como pelxs solidárixs como um episódio de uma guerra social em curso, ou irá acabar por ser mediada e assimilada pelo Poder.
Aqui está um documento datado de 1 de Julho com várias exigências (assinado por um certo número de pessoas de diferente origem), numa tentativa de alguns/algumas refugiadxs chegarem a um “acordo” com as autoridades distritais de Friedrichshain-Kreuzberg, e evitar a sua acusação judicial e o desalojo violento da Gerhart Hauptmann Schule.
Entretanto, o ministro federal do Interior, Thomas de Maiziére, apelou a um voto urgente num reforço das restrições na legislação de asilo, que tornará praticamente impossível às pessoas (é particularmente contra xs ciganxs) vindas da Bósnia Herzegovina, Macedónia, ou Sérvia, entre outros, de obter asilo na Alemanha, visto que a lei irá alterar o status de tais regiões para “países de origem seguros”. Espera-se que o parlamento alemão decida sobre esta medida racista de forma acelerada.