Na madrugada de 10 de Setembro de 2014, a bófia despejou a TeLOS em Saronno, um espaço ocupado há mais de 5 anos.
Como resposta a 25 de Setembro três novas casas foram okupadas, e no dia seguinte 26 de Setembro, uma outra okupa foi criada, destinada a espaço auto-gerido.
Abaixo, encontra-se um comunicado dos companheirxs da okupa TeLOS, datado de 12 de Setembro de 2014.
Falando sobre o despejo da TeLOS…
Porquê?
Queremos deixar claro: o despejo de um espaço ocupado, não fechado sobre si próprio, sempre aberto ao exterior, decidido a meter pauzinhos na engrenagem daquelxs que aspiram a criar a cidade – dormitório, cidade – movida noturna, etc, não nos deixa nada surpreendidxs. No entanto ficámos atónitxs: com a solidariedade impressionante que entretanto recebemos, um dia depois apenas.
A razão pela qual fomos despejadxs é do domínio público: xs proprietárixs não sabem o que fazer com o edifício, não têm projectos para ele, a não ser ideias bizarras e vagas de sítios comerciais e estradas.
Nada de surpreendente, também. Não somos uma ameaça – como a propaganda dxs políticxs e da bófia nos retrata – para as pessoas de Saronno, mas representamos uma ameaça real à ordem dos Senhorxs de lá: a ordem daquelxs que são donxs de edifícios vazios na nossa cidade, esperando por uma chance de especulação; a ordem daquelxs que proíbem seja o que for nas ruas; a ordem daquelxs que atrás das suas secretárias e nos seus fatos confortáveis, pensam que podem brincar com as vidas e espaços dxs outrxs; a ordem daquelxs que acreditam que o mundo inteiro deveria ser propriedade de alguém que pode decidir por nós o que fazer; a ordem dos Carabinieri (um corpo militar desenvolvendo actividades policiais) e a ordem da bófia, escravxs nojentxs e defensores deste estado de coisas repugnante. Foi o capitão dos Carabinieri de Saronno quem ordenou a desocupação, pedindo permissão à prefeitura de Varese, porque – na sua opinião- Saronno tinha-se tornado incontrolável e ingovernável por causa do pessoal da TeLOS, que punham e despunham. Resumindo: a bófia ordenou o despejo porque somos um incómodo para elxs.
Assim que os políticos souberam do futuro despejo, deram azo a um verdadeiro linchamento nos media: estavam a jogar pelo seguro, porque sabiam que a data do despejo já tinha sido decidida. Foi o caso.
Como?
As últimas desocupações que tiveram lugar em Saronno, indicam claramente uma viragem categórica de ritmo na repressão. Quando a bófia se apercebeu do seu próprio embaraço (desocupações prolongadas por horas ou dias, e nos últimos anos com pessoas a resistir no telhado), mudaram de estratégia. A desocupação deixa de ser uma operação teatral e uma demonstração de força: hoje em dia é um subterfúgio e um engodo. Não vieram com montes de carros, ferramentas, tesouras, escadas, etc. Vieram com um par de carros, 40 polícias da Digos (MDPs) e com um estratagema conseguiram entrar na TeLOS. Gostaríamos de partilhar o truque deles e difundir o máximo possível a situação: perto das 4:30 da manhã, alguns habitantes da TeLOS viram luzes estranhas e fogo-de-artifício em atividade, às janelas. Alguém passou por cima da janela barricada que leva ao terraço para ver o que se estava a passar e é imediatamente caçado por cerca de vinte polícias da Digos, à espera nas sombras: precipitaram-se para dentro, pontapeiam o cão e bloqueiam toda a gente no edifício, que apesar disso consegue fazer um apelo.
A bófia conseguiu executar o despejo sem os companheirxs darem por isso: tanto pior! Um foguete ruidoso lembra-os dxs companheirxs, alguns segundos após entrarem.
Do lado de fora, por volta das 5.15 da manhã, companheirxs chegam e tentam aproximar-se para saber como estão as pessoas lá dentro. Imediatamente, são atacadxs e perseguidos alguns pela bófia. Um companheiro é parado, ameaçado e levado de carro à entrada da auto-estrada, onde a bófia acabou por o deixar.
O resto da manhã será relativamente calma: os objetivos principais eram trazer para fora a maior parte das coisas e ver regressar xs sete companheirxs que estavam temporariamente detidxs.
No mercado da cidade, uma pequena fila informa o que se passa, os condutorxs presos no trânsito são informadxs dos acontecimentos, também.
Ao final da tarde, uma pequena manifestação de repúdio transforma-se num selvagem e apaixonado desfile. A bófia provoca mas são mantidos à distância, no seu devido lugar: atrás de nós. Palavras de ordem e gritos quebram o silêncio, a TeLOS está em movimento.
Quando a manifestação acabou, demos as informações para os próximos dias, que serão cheios de atividades.
E então?
Desocuparam o edifício que abrigava a TeLOS, mas a TeLOS está viva e de boa saúde. Adaptamos-nos às novas condições, foi simples. Todas as coisas que planeávamos fazer na TeLOS vão ser feitas na mesma, apenas noutro sítio em Saronno. Na quinta-feira à noite vai haver um filme na praça do mercado; sexta-feira. um jantar na via Don Monza; no sábado haverá evento benefit, a partir do meio-dia até à noite.
A TeLOS eram as relações e as acções criadas em conjunto, nunca nos sentimos “donos” de coisa nenhuma, ninguém que cuidava ou cuidou da TeLOS se sente envolvido, sente que ele ou ela devem encontrar uma maneira de continuar as suas lutas e a sua presença na cidade.
E depois? E depois… ainda temos alguma coisa para dizer diretamente, é uma surpresa, especialmente (assim o esperamos!) para a bófia.
A TeLOS está em movimento
27 de Setembro: manifestação em Saronno.
Outras atividades serão comunicadas em seu devido tempo…