Rede tradutora de contrainformação

Porto Alegre, Brasil: Sobre os protestos contra a PEC nos dias 25/11 e 13/12/2016

Recebido em 28/12/2016:

Nos querem acordadxs no primeiro horário do dia pra trabalhar e todos dias se possível e por toda nossa vida até os últimos anos de nossas forças… Pra que? Nós já entendemos e não vamos aceitar.

A destruição da terra e de tudo que é vivo as transformando em dinheiro é a lei. As leis que em seu conjunto formam a constituição, que é a bíblia do estado, da democracia, são um conjunto de tratados e imposições dos políticos, dos proprietários, dos ricos, dos capitalistas e falsos críticxs. Tudo que vier daí é nocivo a liberdade. O parlamento é um covil e de lá sempre sairá a vontade de por uma canga sob a coletividade humana que vive no território controlado pelo estado brasileiro. No tiroteio contínuo que o parlamento alveja a população o novo Projeto de Emenda Constitucional PEC 241/55 é um morteiro. É a mais genuína expressão do poder: nós mandamos, vocês obedecem, trabalhem! Ainda está por vir mais, o novo governo segue sendo inimigo como todos seus antecessores, se atualiza na sua depredação e ataque contra as populações, as terras, contra tudo.

Quando chegamos a guerra já estava declarada simplesmente rejeitamos a obediência, o comportamento ordeiro e cidadão. Não nos orientamos pelos valores ditados pela escola, pela TV e propagandas, pelas igrejas, partidos e empresas… não nos interessa a boa imagem desta sociedade doente e suicida.

Boa imagem? Os rios contaminados com lama tóxica e todo detrito urbano/industrial, seu leito e barrancas transformadas em concreto, escavações até o esgotamento com minerações depois transformada em lixões, as terras sistematicamente saqueadas dos povos originários, desmatamento, agronegócio, envenenamento em massa com agrotóxicos, hidroelétricas, cemitérios urbanos industriais, vidas transformadas em massa para a engrenagem do “desenvolvimento sustentável”.

Esta forma de vida não há como sustentar, nós não a sustentaremos. Podem dizer que extrapolamos com a violência nas ruas durante as manifestações, mas perguntamos: Nós? Armados com vontade, pedras, rojões, molotovs e tudo que a rua trouxer e formos capazes? Ou as leis que garantem todo este desastre, seu bando de assassinos armados, suas retroescavadeiras, blindados, noticiários, aviões de pulverização e juízes?

Valorizamos o momento de ruptura com a ordem estabelecida que se vive durante certas manifestações como ocorreu nas manifestações contra a PEC 241/55 nos dia 25/11 e 13/12 na cidade de Porto Alegre. São momentos onde a autoridade está sendo questionada e podemos nos vingar um pouco mais abertamente destruindo a materialidade que representa e faz funcionar este sistema, vandalizando e atacando a policia. Fomentando com este exercício uma cultura informal de combate na rua contra o sistema de dominação e suas forças repressivas. É um momento diferente do dia-a-dia em que, em teoria, a munição da policia é não letal.

As múltiplas vontades de bandos de vândalos dispersos se unindo nas ruas na cumplicidade da destruição deste mundo plástico durante as manifestações desde 2013 conseguiram garantir seu espaço, quebrando com a monotonia e passividade de manifestações ordeiras e cidadãs, obedientes e dentro do estabelecido, cooperando assim para o discurso e fortalecimento da democracia. Os vândalos conseguiram romper com a passividade das manifestações no centro de Porto Alegre e tem mantido o animo.

Ao mesmo tempo que se quebra com a passividade, se estilhaça a normalidade, o vai e vem do fluxo das mercadorias, da continuidade deste desastre. É simbólico e tem força, no noticiário sempre choram prejuízos e serviços avariados… malditos vândalos!

Sim também há a policia interna nas manifestações, escudada pela liga defensora das lixeiras. Muitxs se dizem pacifistas, mas são capazes de agredir um vândalo mascarado que se negue a ser uma ovelha do rebanho, ou até o apontaram para a policia. Lemos com atenção os relatos da manifestação contra a PEC 241/55 de 13 de dezembro ocorrida na cidade de Fortaleza, no Ceará (1). Lá a polícia vermelha MTST espancou encapuzadxs do “bloco autonomista” que pixavam na rua, caminhavam no rumo que queriam, desobedeciam ao carro de som. Quem quer o poder e não visa destruí-lo arrumará sempre um pretexto para defendê-lo. Vale recordar aquela cena emblemática dos protestos na Grécia contra pacotes de austeridade do governo (uma PEC) onde os manifestantes vermelhos formaram um cordão de choque na defesa do parlamento grego contra vândalos encapuzadxs… foram rudemente rechaçados… por de trás da policia vermelha venho o segundo grupo de choque defendendo o poder desta vez o bando governamental policial oficial. Não perdoaremos nem esqueceremos, quando nos tocam a um/a nos tocam a todxs em Porto Alegre, Fortaleza, Atenas ou Santiago.

Guilherme Irish (2) está vivo nas ruas de Porto Alegre segue na luta e não descansa em paz. Lá estava ele nos protestos dos dias 25 de novembro e 13 de dezembro, encapuzado no bloco negro, pixando, passando panfletos, apedrejando bancos, provocando fogo nas barricadas e em nossas ações. Guilherme Irish vive! Junto a Nicolas David Neira (3), Alexis Grigoropoulos (4), Punky Maury (5), Pelao Angry (6). Vivem em nossa anárquica dança de guerra contra toda autoridade.

Nos questionamos sobre o papel que os fotógrafos desempenham nas manifestações. Nós estamos ali animadxs por nossa vontade, elxs estão a trabalho. Trabalham pra quem? Pra quem vendem suas imagens? Para alimentar o espetáculo punitivo jornalístico? Ah claro suas imagens servem como banco de dados aos aparatos repressivos! Pense. (7)

Durante estes enfrentamentos há caído gente detida pelas garras policiais. São agredidxs, humilhadxs e fichadxs. Recordamos que a solidariedade com xs que sofrem com a repressão é a única resposta possível.

Um salve a todxs indomáveis! Nos vemos nas ruas!

Com amor e ódio Vândalxs Mascaradxs

Contra toda dominação pela libertação total

Que viva a anarquia

(1)

(2): Guilherme Irish jovem anarquista assassinado por ser um ingovernável a tiros em Goiânia dia 15 de novembro de 2016 por seu pai.

(3): Nicolas David Neira jovem anarquista assassinado pela policia de choque ESMAD durante as manifestações do 1º de Maio de 2005 no centro da cidade de Bogotá, Colômbia. Vídeos: i, ii

(4): Alexis Grigoropolous jovem anarquista assassinado pela policia grega no bairro de Exarchia em 6 de dezembro de 2008. A partir deste assassinato desencadeou-se uma onda de revolta que marcou a Grécia. Ano após ano a memória rebelde volta as ruas em dezembro.

(5): Punky Mauri, apelido de Mauricio Morales, anarquista que morreu em 22 de maio de 2009 em decorrência da explosão de uma mochila/bomba que transportava nas proximidades da escola de carcereiros em Santiago, Chile.

(6): Pelao Angry, apelido de Sebastian Oversluij Seguel, anarquista assassinado por um segurança na manhã de 11 de dezembro de 2013 durante uma tentativa de expropriar um banco em Pudahuel, Santiago, Chile.

(7): Comunicado anônimo de 2014 com uma oportuna reflexão sobre repórteres.