Rede tradutora de contrainformação

Anarquismo nas Filipinas

coletivo Mindsetbreaker Press , Filipinas

Companheiros/as do leste distante no florescimento do anarquismo nestas terras:

Muito está sendo feito nas conexões históricas entre anarquismo e as Filipinas. Nada menos do que o trabalho formidável de Benedict Anderson e seu livro “Sob Três Bandeiras”, que consiste em um documento da relação entre anarquismo e anti-colonialismo filtrado através da vida e dos trabalhos de Jose Rizal, uma das figuras primordiais na luta pela independência das Filipinas, a qual Anderson descreve como “o denso entrelaçamento do internacionalismo anarquista e do anti-colonialismo radical”.

O escritor político José Rizal, que foi executado em 1896 pelas autoridades espanholas nas Filipinas aos 35 anos de idade, junto de seu contemporâneo, pioneiro folclórico, ativista sindical e escritor Isabelo de los Reyes foram as principais influências na disseminação das idéias anarquistas para as ilhas

josé rizal
José Rizal

De los Reyes foi preso em Manila após as violentas insurreições de 1896, e mais tarde deportado para a Espanha onde foi encarcerado, junto de anarquistas Catalães, nas infames Prisões do Castelo Montjuic em Barcelona. Foi nessa ocasião que de los Reyes conheceu e iniciou uma amizade com o anarquista Ramon Sempau. No seu retorno para Manila em 1901, agora sob ocupação estadunidense, ele trouxe consigo livros do Proudhon, Marx, Kropotkin, e Malatesta. Logo após, ele organizou operários gráficos e com sucesso, organizou greves, imbuindo os trabalhadores com idéias anarco-sindicalistas que conduziram para a criação da Union Obrera Democrática (UOD) em 1902. Foi a primeira federação sindical moderna no país e o seu congresso fundador adotou os princípios de dois livros – “Vida e Obra” de Karl Marx e “Entre Camponeses” de Errico Malatesta, enquanto fundamentos políticos do movimento. Em seu auge, em 1903, a organização somava 150 sindicatos filiados, com mais ou menos 150.000 membros em oito províncias de Luzon. Após a UOD ter organizado um protesto massivo, o governador os colocou sob vigilância policial, os estereotipando como “radicais, subversivos e anarquistas”.

Desde a publicação do livro “Sob Três Bandeiras” em 2005 as Filipinas tem visto um aumento significativo nas atividades anarquistas.

Existem grupos como o Coletivo Como um Todo, composto por anarquistas e artistas que gestionam uma infoshop na cidade de Davao, Mindanao, e as atividades envolvem a realização de manifestações contra a exploração corporativa, e foram parte de uma campanha ativista de sucesso que resultou na completa proibição de pesticidas aéreos que eram lançados sobre as plantações de banana. O grupo também estabeleceu um espaço chamado “Cozinha de Saydee”, do qual estão oferecendo refeições grátis duas vezes por semana, alimentando em torno de 100 jovens e também pessoas mais velhas. Mas o mais recente projeto anarquista é a “Mindsetbreaker Press and Distribution” (“Imprensa Destruidora de Paradigmas”), que é uma entidade anarquista de mídia independente, de publicação e distribuição de informação, alojados nas Filipinas, e estão procurando suporte e solidariedade através de seus esforços. Deixaremos que o/as companheiro/as da Mindsetbreaker Press falem sobre

ele/as mesmo/as:

Descrição do Projeto

Mindsetbreaker  Press deu início às suas operações no começo de 2010 enquanto um projeto individual cujo enfoque era principalmente, a tradução de literatura anarquista (em inglês) para línguas locais para que fossem mais aplicáveis e relevantes para o cenário político, social e econômico bastante complexo das Filipinas. Enquanto o tempo passa, a imprensa cresceu eventualmente em número após estabelecer uma colaboração pessoal com algun/mas amigo/as envolvido/as na rede social anarquista e em ativismo. A imprensa está agora funcionando pelos esforços de quatro pessoas que trabalham especificamente com campanhas de publicação e distribuição, além de outros projetos existentes que estão sendo conduzidos pelos membros.

Os membros atuais do projeto estavam envolvidos em diferentes projetos antes e atualmente, individualmente e coletivamente. Alguns administram centros sociais ou infoshops, fazem zines e publicações alternativas, organizando eventos radicais de trabalho de base e shows, protestos e manifestações, panfletando por campanhas, abrindo mercados livres e comida livre nas ruas, fóruns, organizando redes e hospedando sites informativos, trabalhando com comunidades (camponeses, pescadores e indígenas), lutando contra o capitalismo e contra o desenvolvimentismo estatal invasor (mineradoras, freeports, agronegócio, etc.). Essas ações têm sido conduzidas independentemente da intervenção estatal, dos negócios, da mídia burguesa, ONGs e instituições religiosas.

Dando uma olhadela

Desde que o país foi colonizado por interesses ocidentais, foram 300 anos de ocupação espanhola, invasão japonesa por um tempo, e mais tarde, influência estadunidense, possivelmente, seria simples o suficiente entender porque o arquipélago tem sustentado tal complicação que resulta na indiferença de perspectivas, prioridades e interesses entre a sua própria população. Além disso, é um país extremamente pobre acorrentado em dívidas; persuadido com o escárnio da mera sobrevivência. Os índices de pobreza, fome e corrupção são visivelmente muito altos. Da mesma forma, o conservadorismo e a influência religiosa (isto é, catolicismo) não é novidade. Então, a repressão diária pelo Estado (Forças Armadas das Filipinas e a Polícia Nacional das Filipinas) é violenta e descontrolada, direcionada para crimes insignificantes, exilados e insurgentes; a mídia cobre imagens de terrorismo e acusa diretamente pessoas inocentes de envolvimento com grupos guerrilheiros armados (esquerda maoísta) para justificar o assassinato legal. De modo geral, algumas pessoas podem ter observado isso como um efeito sem precedentes em função das coações econômicas que estão sendo impulsionadas e sentidas realisticamente todos os dias, levando à maiores injustiças e abusos insuportáveis.

Alvo e objetivos

O alvo do projeto é providenciar idéias radicais nas ruas e nas universidades, particularmente, conscientização contra-informacional e alternativa que nós sentimentos ser rica em diversidade e aberta para argumentos/discurso, como também para dar coerência à situação prática da localidade e do tempo. Isso se dá através da republicação de obras dos mais variados autores radicais que nós escolhemos, para então distribuir para as pessoas massivamente. Além disso, o principal objetivo do projeto, fora a republicação das obras de vários autores, é dar apoio a escritores anarquistas locais (individual e coletivamente) que estão lutando para fazer circular seus trabalhos em diferentes setores da sociedade (como por exemplo, estudantes, camponeses, povos indígenas, pescadores, vendedores, trabalhadores (empregados ou desempregados), squatters, mulheres e homens, gays, lésbicas, jovens, etc.), não se limitando apenas à subcultura e seu próprio meio. Também escolhemos alguns títulos escritos por companheiro/as locais que conhecemos, e um escritor está atualmente envolvido no projeto. Nós esperamos estabelecer redes, e aprofundar nosso conhecimento sobre as idéias anarquistas, suas esperanças, sonhos, e a sua prática, não só para determinadas pessoas, individuais ou agrupamentos, mas sim, diferentes setores da sociedade, inseridos na luta cotidiana pela sobrevivência. Isso nos inclui, nós mesmos, e não estamos acima de ninguém. Pouquíssimos títulos locais cobrem a história e a política das Filipinas baseados em perspectivas anarquistas contemporâneas. Esta distribuição regular de grandes quantidades de literatura anarquista nas ruas e nas universidades das Filipinas pode ser vista como a primeira vez que isso ocorre em sua história, visto que conseguir financiamento para impressão, às vezes é muito difícil. Idéias anti-autoritárias dificilmente alcançam uma grande diversidade de pessoas nos setores sociais em que está contida a classe trabalhadora. Necessidades básicas como comida na mesa é muitas vezes a principal preocupação de todo/as. A economia atual nunca será útil para garantir estas necessidades, e só proverá o povo com morte e destruição. Todos os recursos valiosos que providenciam a vida são roubados, monopolizados pelo capital através de acordos comerciais.

Atividades atuais

Após republicar a versão em inglês de “O que é anarco-comunismo”, nosso plano é fazer circular o texto em diversas universidades ao redor de Manila. Existem quatro diferentes universidades, como a Universidade Politécnica das Filipinas (PUP), a Universidade das Filipinas (UP) e outras escolas progressistas como “Ateneu de Manila” e Universidade Tecnológica das Filipinas (TUP). A PUP e a UP são conhecidas tradicionalmente por abrigarem idéias da esquerda autoritária, organizando estudantes em manufaturas para cegá-los à submissão da ideologia autoritária (Marxista e Maoísta). Isso é sempre perigoso e absurdo, visto que objetiva a derrubada do Estado existente para agarrar o poder com o pretexto da gestão e soberania proletária e nacionalismo para apenas facilitar que uma vanguarda governe o povo. “A Frente Democrática Nacional (NDF) se tornou o bloco mais influente entre a esquerda das Filipinas durante os anos da gestão Marcos. Foi diretamente influenciada pelo Partido Comunista das Filipinas (CPP), reforçado por seu grupo armado (O Exército das Novas Pessoas) que foi capaz de formar batalhões em diversas regiões estratégicas em Luzon, Visayas e Mindanao. O radicalismo demonstrado pelas organizações, que se iniciou com o CPP, atraiu diversos setores, principalmente os mais jovens” – Jornal Gasera.

Nós pretendemos distribuir 1000 cópias dos materiais publicados em cada universidade, e temos a esperança de que o/as estudantes se auto-organizem e atuem contra todas as formas de autoridade; mais especificamente, os calouros, visto que muitos veteranos eram socialistas autoritários mascarados com o objetivo de capturar suas mentes. Também ouvimos que existem organizadores que não estão lá para estudar, mas sim para organizar estudantes em tais linhas ideológicas.

Mais adiante ainda pretendemos traduzir Alexander Berkman em Tagalog. Esta é a língua comum falada no arquipélago, que muitas pessoas são capazes de entender ou falar. A versão tagalog de Berkman tem como enfoque de distribuição as pessoas que não estão confortáveis com o inglês e mais especificamente, os maiores setores sociais, as classes mais pobres e marginalizadas. Além de republicar literatura estrangeira, estamos muito motivados em produzir nosso material local e apoiar escritores locais com consentimento pessoal antes de conduzir seus trabalhos através do nosso projeto, enquanto uma entidade anarquista alternativa de publicação e distribuição. Existem 7 títulos finalmente aprovados após reuniões com o/as membro/as e o/as escritore/as locais que conhecíamos, e inclusive, um/ma dele/as hoje faz parte do projeto e escreve voluntariamente com regularidade. Os títulos que estão sendo aprovados incluem o “Jornal Gasera” (coleção de escritos anarquistas locais sobre história e política nas Filipinas), “Indokumentado #1” (idéias autônomas, experiências, ativismo e o movimento no arquipélago), “Anarki: Akin ang buhay ko, Sosyal si Simo at si Sima” (perspectiva anarco-sindicalista), “Confederação do Arquipélago: uma alternativa na estrutura política para além da representação e das políticas de Estado”, “Punkista zine” (Subcultura punk e política) e “Mindsetbreaker zine” (documentação de diferentes lutas sociais e ecológicas, campanhas e ação nas Filipinas). Além disso, faremos nosso turismo informativo em diferentes escolas, levando nossos títulos enquanto principal tópico objetivando a abertura de discussões e conversações.

Enquanto uma entidade de publicação e distribuição de informações, nós mobilizamos e publicamos literatura através de fóruns de organização e conversação sobre cada tópico que abordamos, como história, política, anarquismo, etc. Inicialmente, o foco eram as escolas, a criação de eventos de conscientização e saraus literários. Queremos que o projeto seja de longo prazo, o quanto for possível, especificamente na questão da campanha de publicação e distribuição. Não há outra questão relacionada que queremos trabalhar senão a distribuição de conhecimento através das nossas jornadas nas diferentes escolas e universidades, levando a literatura que carregamos conosco, que inclui o livro inteiro de Berkman e os escritores locais, para suscitarmos discussões sobre estes pontos, experiências, e artigos. Também queremos encorajar tais escritores da região para continuar fazendo o que fazem, mesmo que muitas pessoas, às vezes se encontrem presas nas armadilhas do tempo e das condições econômicas.

Enquanto uma imprensa alternativa, estamos aqui para atingir abertamente diferentes pessoas e ampliaremos nossa ideologia não só para o âmbito da subcultura. Confiamos na possibilidade de nos tornarmos uma iniciativa vantajosa para manter as contribuições para outras pessoas de forma que elas mesmas possam começar a solidarizar. E isso não está apenas no plano das idéias, mas de ações que tenham como objetivo o apoio mútuo.

Nós acreditamos que tudo o que afeta nossas vidas esta interconectado, sejam as catástrofes sociais ou ecológicas que estamos enfrentando atualmente, em pequena ou larga escala, em sociedade, ou individualmente. Estes problemas não são nossa responsabilidade, mas sim das estruturas hierárquicas de dominação e ordem centralizada, mantidas pelo Estado e pela religião e moralidade; o espectro do capitalismo caminha através da ganância e do lucro e foi organizado, fundado, e então conduzido através das cinzas do mais impiedoso terrorismo e derramamento de sangue que muitas gerações sentiram, e que estão herdadas hoje de maneira cega.

Nós não acreditamos em fronteiras, e vamos continuar lutando intensamente contra elas, até sua total destruição, assim como continuaremos enfrentando o sexismo, a homofobia, o racismo e outras formas de opressão que foram criadas e precisam ser combatidas. Esta luta pode ser exteriorizada das nossas necessidades e desejos do dia a dia, para nos conectar com a sociedade ou com os questionamentos acerca da nossa situação, algo que só pode ser realizado através do combate das nossas convenções internas.

Atenciosa e problematicamente,

Imprensa e Distribuidora Mindsetbreaker

E-mail: mindsetbreakerpress@riseup.net

Endereço: Rua Ilaya E. Mendoza, 157, Cidade de St. Buting Pasig, Filipinas 1600

Para mais informações sobre a iniciativa da Cozinha de Saydee

Tadução > Malobeo
agência de notícias anarquistas-ana

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