Rede tradutora de contrainformação

Revolução Espanhola: Uma breve introdução

Em 19 de julho completaram-se 75 anos após o início da revolução espanhola. Por um curto espaço de tempo o capitalismo e o estado foram substituídos pela solidariedade, apoio-mútuo e respeito pelos outros. Trabalhadores e camponeses foram profundamente influenciados pelos ideais anarquistas que serviram a sociedade coletivamente, voltando para as suas mãos o controle das suas vidas, da indústria e da terra. A questão central da revolução foi a luta contra uma tentativa de estabelecer o fascismo na Espanha. Lembremos as realizações surpreendentes e as tragédias da revolução espanhola e tentemos aprender com os erros dos nossos companheiros/as.

Os ideais sindicais e anarquistas estavam profundamente enraizados entre os camponeses e trabalhadores espanhóis. Em 1911 a CNT (Confederação Nacional dos Trabalhadores) era um sindicato revolucionário de massas. Ela tinha dois objetivos: primeiro, a luta contra os patrões através de acções directas massivas e em segundo lugar a realização da revolução anarquista, organizando os trabalhadores e os pobres para ter de volta as suas terras, fábricas e minas.A CNT empreendeu várias lutas bem sucedidas contra os patrões e o governo. Em 1936 era o maior sindicato em Espanha e contava com perto de 2 milhões de membros.

Os trabalhadores da CNT envolviam também agricultores, trabalhadores rurais e desempregados. Organizaram-se mesmo escolas para os trabalhadores. A CNT apesar do seu enorme tamanho, nunca teve mais do que um funcionário pago, tendo uma estrutura descentralizada.

Os anarquistas não limitaram a sua luta ao local de trabalho. Organizaram outro grupo anarquista a trabalhar dentro dos sindicatos (a FAI) e efectuaram acções diretas e boicotes aos alugueres de casa em bairros pobres.

Em Julho de 1936 os fascistas liderados pelo General Franco apoiados pelos ricos e pela Igreja, tentaram tomar o poder em Espanha. O governo eleito (a coligação Frente Popular de partidos de esquerda) estava pouco disposto a enfrentar os fascistas. Ainda tentaram chegar a um acordo com os fascistas, nomeando um dos seus simpatizantes como primeiro-ministro. Porque escolheram comprometer-se com a ala direita, protegendo a propriedade e o poder, ao invés de armar os trabalhadores e os pobres para a auto-defesa.

Felizmente os trabalhadores e camponeses não esperaram que fosse o governo a agir. A CNT declarou uma greve geral e organizou a resistência armada contra a tentativa de golpe. Outros sindicatos e grupos esquerdistas seguiram a CNT.

Desta forma as pessoas foram capazes de parar os fascistas em dois terços do território espanhol. Logo se tornou evidente para estes trabalhadores e agricultores que não houve apenas uma guerra contra os fascistas, mas o começo de uma revolução!

A influência anarquista estava por toda parte: as milícias de trabalhadores foram estabelecidas independentemente do estado, os trabalhadores tomaram o controle de seus locais de trabalho e os camponeses ocuparam a terra.

Os triunfos no começo da revolução foram muitos, mas olhemos à distância em particular para algumas das vitórias dos trabalhadores e camponeses espanhóis. Nessas vitórias incluiu-se a ocupação geral de terras e fábricas.

Os pequenos agricultores e trabalhadores enfrentavam condições extremamente duras em Espanha. Fome e repressão faziam parte da sua vida diária, por isso o anarquismo teve forte expressão nas áreas rurais. Durante a revolução, cerca de 7 milhões de camponeses e trabalhadores agrícolas associaram-se formando coletivos de voluntários nas regiões anti-fascistas. Depois dos latifundiários fugirem, assembleias eram realizadas nas povoações. Se a decisão fosse a de coletivizar, toda a terra, ferramentas e animais eram reunidos para o uso do coletivo como um todo. Equipas eram formadas para cuidar das diversas áreas de trabalho, enquanto um comité rotativo era escolhido para coordenar o funcionamento geral do coletivo. Cada coletivo tinha reuniões gerais regulares em que todos os membros participavam. Os indivíduos que não queriam se juntar aos coletivos não eram forçados a isso. Recebiam terras suficientes para a fazenda, mas foram proíbidos de contratar trabalhadores para trabalhar essa terra. Mas cada vez mais “individualistas” iam-se juntando a esses coletivos à medida que aqueles eram bem sucedidos.

A anarquia também inspirou grandes transformações na indústria. Trabalhadores tomaram o controle sobre os seus locais de trabalho e a produção passou a ser controlada diretamente por eles mesmos e para benefício dos trabalhadores e camponeses espanhóis. O sistema dos eléctricos em Barcelona constituiu um brilhante exemplo de quanto tudo se pode melhorar sob o controle direto dos trabalhadores. Em 24 de julho de 1936, os trabalhadores dos eléctrico reuniram-se e decidiram auto-organizar todo o sistema. Ao fim de cinco dias, 700 eléctricos estavam em serviço em vez dos habituais 600. Os salários foram igualados e condições de trabalho melhoraram, com atendimento médico gratuito aos trabalhadores.

Todos beneficiaram com o facto da rede de eléctricos estar sob controle operário. As tarifas foram reduzidas e 50 milhões de passageiros a mais foram transportados. O extra foi utilizado para melhorar os serviços de transporte e produzir armas para a defesa da revolução. Sem a motivação do lucro capitalista a segurança tornou-se o mais importante e o número de acidentes foi reduzido.

Nos estágios iniciais da revolução, as forças armadas do estado tinha entrado em colapso. Em seu lugar, os sindicatos e organizações de esquerda começaram a organizar os trabalhadores e camponeses armados em milícias. No total, existiam 150 mil voluntários dispostos a lutar onde fossem necessários. A grande maioria eram membros da CNT. Todos os oficiais eram eleitos a partir da base e não tinha privilégios especiais.

A revolução mostrou que trabalhadores, camponeses e os pobres poderiam criar um mundo novo, sem chefes ou governo. Mostrou que a anarquia e métodos como a construção de sindicatos revolucionários poderiam funcionar. No entanto, apesar de tudo isso, a revolução foi derrotada. Em 1939, os fascistas tinham vencido a guerra civil e esmagado os trabalhadores e camponeses com uma ditadura brutal.

Por que isso aconteceu? A revolução foi derrotada, em parte por causa da força dos fascistas. Eles foram apoiados pelos ricos, a Itália fascista e a Alemanha nazi.

A CNT também cometeu erros. Visou a unidade anti-fascista como proridade máxima e juntou-se à aliança da Frente Popular, que incluía os partidos políticos, as forças governamentais e pró-capitalistas. Consequentemente, a CNT fez muitos compromissos no seu programa revolucionário. Também deu ao governo da Frente Popular a oportunidade de minar e destruir os coletivos anarquistas e as milícias de trabalhadores, com o Partido Comunista a desempenhando um papel de liderança nesses ataques a mando da Rússia estalinista.

No entanto, os anarquistas provaram que as suas ideias, que ficam bem em páginas de livros, em teoria, melhor ficam na tela da vida.

fonte