Nas primeiras horas da manhã de quinta-feira, 10 de Abril, 2014 – após dois telefonemas de aviso para os media – um carro-bomba com 75 kg de explosivos foi detonado junto de uma agência do Banco da Grécia, localizada na Rua Amerikis, em Atenas, causando danos materiais extensos na área circundante (mas sem feridos). Quinze dias depois, a guerrilha urbana Luta Revolucionária (Epanastatikos Agonas) reivindicou a autoria do bombardeio. Abaixo encontram-se apenas alguns excertos do seu longo comunicado.
Como muitxs se devem lembrar, três anarquistas revelaram, há quatro anos, pertencer ao grupo (Abril de 2010): Nikos Maziotis e Pola Roupa, que têm estado no subsolo desde o Verão de 2012 (recentemente, o governo colocou uma recompensa enorme sobre as suas cabeças) e Kostas Gournas, atualmente mantido cativo na prisão Koridallos.
Reivindicação de responsabilidade pela organização Luta Revolucionária
[25.4.2014]
Em 10 de Abril de 2014, Luta Revolucionária realizou um ataque à bomba contra a Direcção de Supervisão do Banco da Grécia situada na Rua Amerikis [Atenas], num edifício que abriga também o escritório do representante residente do FMI na Grécia, Wes McGrew. Apesar da ação ser direcionada contra o Banco da Grécia, a filial principal do Banco Piraeus, localizada exactamente no lado oposto da rua, também sofreu danos o que aumenta o sucesso da ação, visto o Banco Piraeus depois da aquisição da ATEbank ter evoluído para uma das maiores instituições bancárias sistémicas gregas, beneficiou da política predatória do memorando aplicada contra o povo grego nos últimos anos, e é um dos fatores financeiros que são co-responsáveis pelas desgraças das pessoas.
O ataque foi realizado com um carro-bomba contendo 75 kg de explosivo ANFO. Exatamente quatro anos após a repressão contra a organização – enquanto o Estado ao lado de muitos inimigos da luta armada ia aplaudindo “o sucesso do desmantelamento” da Luta Revolucionária – esta ação veio provar que estavam errados. O atentado contra o Banco da Grécia é dedicado ao companheiro anarquista Lambros Foundas, o membro da Luta Revolucionária morto num confronto armado com polícias em Dafni, no dia 10 de Março de 2010, durante uma acção preparatória da organização. O companheiro perdeu a vida durante uma tentativa de expropriação de um carro que iria ser usado numa ação da Luta Revolucionária, no contexto da estratégia da organização desse período – um período marcado pelo início da crise económica. Esta estratégia era destinada à greve e à sabotagem de estruturas, instituições e pessoas que possuíam um papel central na que historicamente se constituíu na maior agressão antipopular que estava a ter lugar em Maio de 2010, com a assinatura do primeiro memorando. Lambros Foundas lutou e deu a sua vida para que a junta contemporânea das elites económicas e políticas não passe – a junta da troika FMI/BCE/UE. Lutou e deu a sua vida para que a junta contemporânea do Capital e do Estado não passasse; para que o novo totalitarismo imposto em todo o planeta, sob o pretexto da crise financeira global, não passe. Lambros Foundas deu a sua vida lutando para transformar a crise numa oportunidade para a revolução social. O bombardeio do Banco da Grécia é, de certa forma, uma continuação dessa estratégia que incluíu os ataques contra o Citibank, Eurobank e a bolsa de valores de Atenas.
Assim, em homenagem ao nosso companheiro, a ação contra o Banco da Grécia tem a assinatura Comando Lambros Foundas. Além disso, a melhor homenagem a um companheiro que deu a sua vida na luta é continuar a luta em si, pela qual ele caíu em combate. E esta luta nunca teve, nem nunca terá, qualquer outra direção que não seja o derrube do capitalismo e do Estado – a Revolução social.
Um golpe em resposta ao retorno da Grécia aos mercados
Como todos entenderam – seja o governo, as partes, a mídia gregas e internacionais – escolhemos o dia 10 de Abril para o nosso ataque visto esta data marcar a ida do Estado grego aos mercados financeiros internacionais em busca do primeiro empréstimo de longo prazo, após quatro anos; no dia seguinte, 11 de Abril, a líder do mais poderoso Estado Europeu, protagonista na aplicação das políticas neoliberais extremas e de austeridade em toda a Europa e um dos expoentes ideais dos interesses das elites económicas europeias, a chanceler alemã superterrorista, Angela Merkel, estava programado chegar à Grécia para a capitalização política e económica deste “sucesso grego”. (…)
A “salvação do país” refere-se ao grande capital, à classe dominante transnacional e aos credores poderosos do país. Diz respeito às estruturas e às instituições do capitalismo globalizado. Está ligada aos Estados, aos funcionários políticos na Grécia e na Europa; a todos os tipos de lacaios políticos da instituição, os que apoiam este regime a qualquer preço. Trata-se de uma minoria vergonhosa da sociedade grega.
Aqueles a quem esta “salvação” não diz respeito – e que, pelo contrário, pagaram e ainda pagam com o seu próprio sangue para salvar o sistema a partir da crise – são a grande maioria das pessoas. Os 5 milhões de pessoas que vivem em condições de pobreza. Os 2,5 milhões de pessoas que vivem na miséria absoluta. As 700.000 crianças pobres que não têm sequer o básico, que estão subnutridas, que sentem frio, sofrem de desmaios e acabam em instituições por um prato de comida. Aquelxs que ficam doentes, aquelxs que enlouquecem. Xs que perdem a sua casa devido às dívidas aos bancos e ao Estado, aquelxs que vivem sem eletricidade, a quem falta o mínimo para as necessidades de sobrevivência. As 4.000 pessoas que cometeram suicídio porque estavam arruinadas financeiramente. As milhares de pessoas sem-teto, as que estão dependentes de refeitórios de sopa para pobres, as que vasculham o lixo para se alimentar, aquelas que estão a morrer lentamente, à margem. Todxs estxs miseráveis que ficam financeiramente e socialmente falidxs e que pagam a “salvação do país” com as suas vidas e as vidas dos seus filhos. Todas essas pessoas passaram a entender o que significa ver a sua vida ir à falência, o que significa ver que a sua vida não vale mais nada. Elas passaram a entender que “evitar a falência da Grécia” significa guerra contra a sociedade, eutanásia social. (…)
A revolução social não pode ser adiada para um futuro indefinido, nem limitar-se a uma projetualidade indistinta. Ela requer ação revolucionária constante no tempo presente e envolve a organização e formação de um movimento revolucionário pioneiro que irá elaborar e definir as suas etapas estratégicas e entrar em conflito com políticas centralizadas estabelecidas. Isto envolve o processo político e a disposição de colocar propostas específicas revolucionárias em prática.
Nas atuais circunstâncias, uma plataforma revolucionária poderia ser resumida como se segue:
– Rescisão unilateral do pagamento da dívida grega.
– Saída da União Económica e Monetária (UEM) e da União Europeia (UE).
– A expropriação de ativos do Capital, das grandes empresas, das corporações multinacionais, de todos os bens móveis e imóveis dxs capitalistas.
– Abolição do sistema bancário, apagamento de todas as dívidas aos bancos, devolução dos pequenos haveres que foram apreendidos pelos bancos, e socialização dos ativos bancários.
– A expropriação da propriedade estatal e das empresas de serviços públicos; expropriação da propriedade da igreja.
– Socialização dos meios de produção, indústria, portos, meios de transferência e de comunicação, transporte, serviços públicos, hospitais e instituições de ensino; xs trabalhadorxs ir-se-ão envolver na sua gestão.
– Abolição do Estado e do parlamento burguês de políticos profissionais, a serem substituídos por um sistema confederal de assembleias populares e conselhos de trabalhadores, cuja coordenação, comunicação e implementação de decisões será alcançada através de delegados eleitos e imediatamente revogáveis. A nível nacional, no lugar do antigo parlamento burguês representante, haverá uma suprema Assembleia Popular Confederal, cujos membros serão delegados eleitos e revogáveis imediatamente, autorizados pelas assembleias populares locais e conselhos de trabalhadorxs.
– Abolição da polícia e do exército, a serem substituídos por uma milícia popular armada, mas não de mercenários.
A discussão e acordo sobre uma plataforma revolucionária é um pré-requisito para a criação de um movimento anticapitalista revolucionário, e como Luta Revolucionária desejamos ver um início de diálogo bem-intencionado sobre esta questão. É necessário que uma Revolução supere as fronteiras nacionais. É irrealista acreditar que uma revolução será viável se confinada dentro das fronteiras nacionais de um país pequeno como a Grécia. No entanto, façamos um começo aqui, na Grécia, para a demolição da zona euro e da União Europeia, para a abolição do capitalismo e do Estado. Vamos colocar em prática o contra-ataque proletário armado. Façamos um começo aqui, na Grécia, para uma revolução social internacional.
LONGA VIDA À REVOLUÇÂO SOCIAL
PELO COMUNISMO LIBERTÁRIO – PELA ANARQUIA
LIBERDADE AOS/ÀS PRISIONEIRXS POLÍTICXS
Comando Lambros Foundas
LUTA REVOLUCIONÁRIA