Em grego, a palavra usada para descrever um cão vadio é adéspoto, que significa sem dono. Esta palavra só pode ser entendida de maneira positiva. Fala de quem vive de si mesmo e por si mesmo, que não segue as normas sociais, que não reconhece modelos e que se mostra indiferente a qualquer coisa considerada como superior. Trata-se de um privilégio que todxs perdemos para que possamos sobreviver numa sociedade bem organizada e submergida na normalidade. Um privilégio que apenas uns tantos animais indomáveis conseguem manter intacto e que xs lacaios da democracia decidiram retirar-lhes de vez.
Após decisão do novo presidente da Câmara de Volos, no domingo, 19 de Outubro de 2014, pôs-se em marcha o plano de limpeza da cidade dos cães vadios perigosos. Trata-se de mais uma das conhecidas táticas dos estadistas e dxs seus/suas seguidorxs de turno, a de aprisionar todxs xs que destruam a imagem de uma sociedade submergida em purgante de alta densidade, numa sociedade que encarcera todx aquelx que não consegue esterilizar. É mais uma maquinação que procura promover o lado “sensível” de um Estado de bem-estar, através da criação de centros de “hospitalidade” para abarrotar com aquelxs que não encaixem dentro da sua imagem, uma prática do Estado usada continuamente contra várias das partes sócio-políticas, como xs imigrantes, as mulheres seropositivas, xs anarquistas etc.
Não temos ilusões, nunca as tivemos antes. Não acreditamos que os cães capturados tenham uma vida feliz, pelo contrário. Como poderiam viver em felicidade se já não são livres? Terão que viver em jaulas, e nada nos pode garantir que os mais revoltosos e chatos deles, ou os que sobrarem após se encher o canil, não serão mortos.
Pode ser que a mentalidade do confinamento esteja profundamente arreigada dentro das vossas mentes enfermas, mas há que entender que xs sem dono não se encarceram, que os cães vadios não se capturam.
Os cães voltarão para os seus parques e praças, vagabundeando livremente na cidade!