Rede tradutora de contrainformação

[Grécia] O único caminho é o conflito

[4 de Julho de 2015]

No domingo, 5 de Julho de 2015, a democracia grega monta outro super-espectáculo, convocando para participar num referendo todos os cidadãos com direito de voto, onde o que está em jogo – segundo o que nos conta o governo do SYRIZA-ANEL – é se será validada ou não por parte do povo a política da austeridade e dos cortes ou a política de uma solução sustentada pela restruturação da dívida grega e pelo restabelecimento económico, convocando-nos a votar NÃO à proposta apresentada como definitiva por parte dos credores. Por outro lado, os que apoiam o SIM neste referendo, dizem que o que está em jogo é a permanência ou não do país na União Europeia e na zona monetária do euro.

Durante toda a semana passada a propaganda do regime foi bombástica, isto indiferentemente da posição que se tomou em relação ao referendo ou aos fins políticos para que servia: com os bancos encerrados e as televisões ressoando por todos os lados, um bombardeio mediático de terror-esperança nas ruas e bófia aos milhares, atentos para proteger a ordem da lei. Para os que ainda não entenderam do que se trata, o que experimentamos é o regresso total do parlamentarismo. A esta parafernália democrática responderam, infelizmente, muitos daqueles que se definem como anarquistas/anti-autoritários/libertários. Culmina assim o processo de assimilação de uma boa parte dos denominados “movimentos de resistência”, por parte da esquerda governante e do reformismo – um processo que tem estado em curso durante os últimos anos, desde a altura em que os indignados de esquerda e de direita estavam não nas cadeiras do Poder mas sim nas praças de todo o território.

Movemos-nos por uma lógica diferente e não reconhecemos a nenhuma condição de urgência, ou estado de excepção capaz de nos fazer abolir as convicções anarquistas e nos pormos do lado dos estatistas, seja a sua roupagem qual for. Todas as referências ao interesse popular – tanto do ponto de vista de uma ou outra das versões do modelo económico que nos irão impor a nível individual, micro-social e macro-social – são no mínimo ingénuas senão profundamente reaccionárias e contra-revolucionárias. O que procuramos não é trocar um jugo por outro, supostamente menos pesado, mas livrarmos-nos de uma vez por todas do conjunto das relações de dominação e do modo como estas se traduzem em todos os aspectos do nosso quotidiano. E isto é algo que iremos fazer com ou sem o monstro de muitas cabeças que dá pelo nome de povo.

Xs oprimidxs e xs excluídxs, xs párias e xs marginalizadxs, xs vagabundxs e xs amotinadxs não dão trégua ao Poder nas urnas, não gritamos slogans de libertação nacional nem consentimos nos conclaves informais da assembleiocracia do entorno anarquistaa. Não estamos nem com a democracia representativa nem com a democracia participativa/direta e, naturalmente, não engolimos o conto do grecocentrismo que os patriotas de todo o tipo nos querem vender. Sabemos bem como a nossa existência é limitada e aos bons anos que nos restam queremos-los passar em liberdade. Entendemos que isto é o que há a propor para o presente e futuro a todxs aquelxs que respiram do mesmo alento de rebelião, tanto aqui como em qualquer parte do mundo: expropriações, sabotagem, confrontos, distúrbios, luta por todos os meios pela libertação total. Sabemos que além de todas as nossas negações e ganas destrutivas temos, também, uma responsabilidade para com as nossas próprias projetualidades, a de visualizar e implementar uma vida feita a mão, uma vida livre da tirania da sociedade-fábrica, uma vida ingovernável.

Força aos/às que dentro e fora dos muros mantêm alçadas as bandeiras negras.

ANARQUIA – DESESTABILIZAÇÃO – AÇÃO DIRETA – INSURREIÇÃO

Singularmente

em espanhol