Sean Matthews, pertencente ao Movimento de Solidariedade dos Trabalhadores, Irlanda, (Workers Solidarity Movement) esteve recentemente no Sudeste Asiático onde teve oportunidade de se encontrar com dois anarquistas da Malásia que lhe falaram dos problemas que enfrentam como trabalhadores e como anarquistas no seu país. Durante algumas horas e de forma informal discutiram a atual situação política e social, incluindo os problemas racial e de religião na Malásia.Trocando idéias e experiências, para o reforço do movimento anarquista internacional e, o mais importante, sobre o que podemos fazer para ajudar os anarquistas nesta parte do mundo.
Abaixo apresenta-se uma versão ligeiramente adaptada da entrevista. Por razões de segurança os seus nomes são anónimos.
Poderia explicar para os nossos leitores a atual situação política e social na Malásia ?
A situação política na Malásia permanece sem alteração desde a sua independência da Grã-Bretanha há 50 anos atrás, quando a luta política fez aumentar o racismo e a religião. O mesmo partido está no poder até hoje. Há vários estados que são governados por partidos de oposição diversos. O partido no poder usa questões raciais, especialmente o Poder Malaio, (Malay Power) para garantir o poder que tem mantido até hoje, embora o país seja multi-étnico. Em 2010, houve vários incidentes sectários, incluindo sabotagem de propriedades em mesquitas e numa igreja. Depois de 2008 os partidos da oposição saíram-se bem nas eleições por causa da situação económica. Eles acreditam que a Malásia só poderá mudar através de reformas para superar a corrupção, mas estão enganados.
Hoje, a situação social na Malásia é crítica com tanta pressão econômica associada ao racismo, à corrupção e à religião. O governo está demasiado dependente de investidores de fora logo os capitalistas vão tirar vantagem disso para manipular os trabalhadores.
Existem muitos aderentes ao movimento de trabalhadores e na esquerda, no país?
Atualmente, não existe como tal um movimento de trabalhadores. Existem algumas organizações independentes ou comitês que se concentram em lutas de libertação dos direitos civis, mas normalmente essas organizações participam a partir de ativistas da sociedade e da classe burguesa. No ano passado, algumas pessoas tentaram construir organizações locais marxistas CIT – Comitê internacional de trabalhadores, (CWI-committee workers international), tivemos umas quantas sessões de debate com eles sobre a sua ideologia e a luta de classes. Há um só partido socialista no país ,PSM – Partido Socialista da Malásia, (PSM-socialist party Malaysia), mas não têm direção ou estratégia para construir um movimento dos trabalhadores. Há um só grupo anarquista que se enfoca no ativismo da juventude e no projeto Food not bomb.
Qual é a sua base política e como se interessou pelo anarquismo?
Comecei a minha jornada política na Universidade (1998), envolvido na organização de um grupo reformista para destituir o primeiro-ministro devido à sua corrupção. Após 2 anos, o grupo reformista se transformou em um partido político e percebi que esta situação não envolvia mais a luta das pessoas. Em 2003, um dos meus amigos me pediu para dar uma vista de olhos sobre anarquismo já que ele sempre me via a falar sobre idéias radicais de mudar a sociedade, mas não acreditei no Estado e nunca votei ou apoiei qualquer partido. Através de algumas leituras, discussões e debate, fiquei interessado no anarquismo, embora eu saiba a dificuldade das lutas em nosso país usando o método ou idéias anarquistas. Agora eu acredito na construção de um grupo anarquista através da afinidade para introduzir e capacitar o movimento de libertação dos trabalhadores.
Há uma notável história do anarquismo em outras partes do sudeste da Ásia, como na Coréia e nas Filipinas. Existe uma história do movimento anarquista na Malásia, presentemente?
Há alguma história anarquista antes de chegarmos à independência (1957). Ideias radicais vindas de trabalhadores imigrantes chineses presentes na altura. Um de nossos amigos na CNT, em Paris, informou-nos, há um tempo atrás, que encontrou alguns documentos que historicamente haviam sido enviados a partir de anarquistas na Malásia para a CNT espanhola. O partido comunista foi proibido pelo governo em 1988 e entretanto não há um real movimento anarquista.
Como é que a situação de “segurança” repressiva e a religião afetam o movimento anarquista na Malásia?
A “segurança” repressiva provém da autoridade e da lei. Nós não temos o direito de conhecer ou se reunir em público, a menos que tenhamos uma licença da polícia. Temos também uma lei das publicações, todo a monitorização da literatura é feito por parte da editora estatal. Não queremos correr o risco de publicar literatura radical. O governo também monitoriza os sites radicais e sites de redes sociais como o Facebook. Nestas últimas semanas um grupo de hackers anónimos declarou atacar o site do governo depois do governo da Malásia anunciar que bloqueara alguns site de compartilhamento de arquivos.
Temos também uma Lei de Segurança Interna (ISA-Internal Security Act), graças à qual o governo pode deter qualquer pessoa sem julgamento algum.
As nossas comunicações, como telefone celular e acesso à Internet estão sendo controladas por um departamento do governo, caso do registo de identificação exigidos para cada número de telemóvel. A religião sempre tem sido um problema com a população muçulmana, devido à sua perspectiva histórica do comunismo, assim como o entendimento da sua ideologia causadas pela política de educação do governo.Por isso, as pessoas têm medo de se envolver no movimento dos trabalhadores, porque eles acreditam que irão forçá-los a abandonar as suas crenças religiosas.
O que pode o movimento anarquista internacional fazer para ajudar os anarquistas na Malásia ?
Até hoje temos vindo a receber material de literatura do movimento anarquista internacional. Também podem nos ajudar a construir a organização anarquista, a preparar conferências ou encontros na Ásia para ganhar consciência e conhecimento. A coordenação da ação direta também pode ser muito útil se tivermos um problema local que se relacionasse com o seu país.
Fonte: Workers Solidarity Movement – Irlanda
19 de junho de 2011