Na manhã de 5ª feira, 19 de Abril, cerca das 10h, massivas forças policiais tomaram de assalto o Espaço Colectivo Autogestionado do Alto da Fontinha, no bairro do Alto da Fontinha, no Porto. A bófia, armada até aos dentes e encapuçados invadiram o pátio da antiga escola primária, enquanto vários agentes e mais de dez carrinhas da polícia e outros tantos carros da PSP cercavam o bairro.
Duas das pessoas solidárias foram detidas junto à Es.col.A, e outra mais tarde, para além dos ocupas que se encontravam no edifício que foram levados à força para o exterior, onde se encontrava já uma concentração solidária. Os/as manifestantes fizeram uma ação de desobediència civil, sentando-se no chão para impedir a passagem, mas a polícia atacou-os, facilitando a circulação dos seus veículos; entretanto, um cordão policial formou-se atrás bloqueando o bairro. Depois do desalojo, toda a infraestrutura do espaço foi destruída e emparedaram o edifício, tal como ordenaram as autoridades municipais.
Depois de uma assembleia improvisada os cerca de 150 solidários/as que estavam concentrados/as no Largo da Fontinha, dirigiram-se para a rua do Heroísmo onde se encontravam os 3 detidos, os quais foram finalmente transferidos para o posto da polícia da Bela Vista tendo-se previsto passar à disposição judicial nessa mesma tarde. A seguir os/as solidários/as dirigiram-se até à sede do município, que estava gradeado e guardado com um cordão policial, onde mais um manifestante foi detido depois de se ter encharcado em gasolina. Essa pessoa foi levada ao hospital para ser limpa tendo-a libertado a seguir.
Às 18h 30, em Lisboa, cerca de 300 pessoas reuniram-se no Rossio e marcharam em solidariedade com a Es.Col.A até ao Largo de Camões, para onde havia sido convocada uma concentração em repúdio do desalojo.
Para além da triste notícia do desalojo e das vomitivas imagens com os cães de uniforme a invadir o espaço Es.col.a a argumentação dos/as próprios/as ocupas causou-nos uma dupla amargura. As cartas da Es.col.A, datadas de 17 de Maio de 2011 e de 17 de Abril de 2012, refletem bem as ilusões cidadãs e democráticas dos participantes e do seu espírito de negociação com as autoridades. Nos seguintes extratos dessas cartas observa-se bem isso:
[17 de maio de 2011]]
“[…]Para conhecimento do senhor presidente da Câmara Municipal do Porto e demais portuenses aqui fica a exposição dos representantes da Es.Col.A. na assembleia municipal.
Tendo em conta que a Constituição Portuguesa garante, através do Articulo 52º, a legitimidade da acção popular para assegurar a defesa dos bens do Estado;
Tendo em conta que no seu Artículo 85º, a Constituição Portuguesa preconiza que o Estado apoie as experiências de autogestão;
Tendo em conta que o direito da acção popular, nos casos e términos previstos na lei, é conferido a todos, pessoalmente ou através de associações de defesa dos interesses em causa, sobretudo para assegurar a defesa dos bens do Estado.
Tendo em conta que, na letra e no espírito da lei, o Estado deve apoiar as experiências viáveis de autogestão[…]”
[17 de abril de 2012]
“[…]A única relação formal entre a Câmara Municipal do Porto e a Es.Col.A. foi um contrato- promessa (uma promessa de contrato), no qual nos comprometíamos a deixar o nosso carácter informal, transformando-nos em associação, no prazo limite de 30 días úteis e onde as autoridades se comprometiam a nos enviar, dentro dos 10 dias subsequentes, a proposta de contrato. A Es.Col.A. cumpriu a sua parte do acordo, dentro do tempo previsto, e fizemos saber à autarquia que a associação se tinha já constituído. A Câmara Municipal do Porto não cumpriu a sua parte[…]“
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A emancipação social, a autogestão, a autonomia e a liberdade não se negociam, nem se constitucionalizam democraticamente. A lei do Estado foi, é e será sempre inimiga de todos estes valores. Deixamo-vos com um vídeo documental das lutas de rua pela defesa da okupa Mainzer Strasse no bairro de Friedrichshain, em Berlim, Novembro de 1990.
http://www.youtube.com/watch?v=x6JzBRX9vQQ
Sem comentários “Porto, Portugal: O espaço Es.col.A foi desalojado”
O Espaço Colectivo Autogestionado do Alto da Fontinha, no Porto, será reocupado na próxima quarta-feira, dia 25 de Abril, 38 anos depois da Revolução dos Cravos.
A decisão foi tomada na assembleia do Es.Col.A, no Largo da Fontinha, que contou com a participação de cerca de 200 pessoas, na tarde da última sexta, um dia depois do brutal despejo do projecto, executado pela polícia por ordem da câmara do Porto.
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