Em meados de Maio, alguns compas pertencentes ao NO MUOS realizaram em Lisboa uma sessão informativa tendo alguns/algumas miembros de Contra Info decidido aproveitar a oportunidade para lhes fazer uma entrevista. O NO MUOS é um movimento em luta contra a base da NATO instalada na Sicília. Segue-se mais alguma informação sobre isso.Contra Info: O que é o MUOS?
No MUOS: O MUOS é mais um de muitos projectos militares criados em território italiano contra a saúde, a vontade e o respeito pela população. Mesmo em 2012, é ainda a guerra que faz de patroa.
Acrónimo de Mobile User Objective System, é um sistema integrado de telecomunicações satélites desenvolvido pela marinha militar estado-unidense, dotado de cinco satélites geoestacionários e quatro estações terrestres. Qualquer uma destas estações apresenta três grandes parabólicas com um diâmetro de 18,4 metros e duas grandes antenas de 149 metros de banda UHF. Esse sistema será utilizado para coordenar de forma minuciosa todos os sistemas militares estado-unidenses dispersos pelo globo, em particular drones (aviões sem piloto) e submarinos, mas também poderá controlar as comunicações civis.
O programa MUOS, gerido pelo departamento de defesa dos Estados Unidos, está ainda em fase de desenvolvimento e prevê-se que os satélites entrem em órbita em 2015.
C: O MUOS é perigoso em que medida?
N: Neste momento estão construídas três estações terrestres, instaladas na Virgínia, na ilha do Hawai e na Austrália, todas dispersas por zonas desérticas. Só a que está projetada para a Sicília será instalada num zona bastante próxima de áreas habitadas, de modo que irá afetar não só a população de Niscemi – que se encontra apenas a um par de quilómetros da base, em linha recta – mas também das vilas vizinhas (Vittoria, Comiso, Gela, Caltagirone, Acate).
Deve também ser dito que a base militar americana NRTF-8 (Naval Radio transmitter Facility) de Niscemi, onde será instalada a estação MUOS, encontra-se operacional desde 1991 e conta já com 41 antenas com uma potência de emissão na ordem dos 500-2.000 KW. Estudos baseados em dados recolhidos pela ARPA Sicília afirmam que se encontra cientificamente provado o receio que a atual instalação supere os limites impostos na lei para emissões electromagnéticas.
Os campos electromagnéticos produzidos poderão interferir com qualquer equipamento eletrónico, com by-passes, cadeiras de rodas, pacemakers, mesmo a uma distância de 140 quilómetros. Entre os efeitos mais comuns para a saúde humana estão indicados os deslocamentos de retina, as cataratas, o risco de esterilidade e a formação de tumores. Infelizmente, a incidência de tumores é em geral mais elevada entre as crianças, sobretudo em relação ao aparecimento de leucemias.
Outro “detalhe” que torna tudo ainda mais interessante é o da base militar se encontrar dentro de uma reserva natural, a Sughereta di Niscemi, um dos poucos parques naturais com sobreiros em Itália e que conta com uma vegetação densa e exuberante protegida por leis que proíbem quem quer que seja de causar danos ou de deturpar a fauna e a flora existentes na área. No ano 2000, o parque tinha sido inserido na Rede Natura 2000 como sítio de importância comunitária (sic).
C: Que é o NO MUOS?
N: O comité NO MUOS de Niscemi nasce neste contexto, nos últimos dois anos juntou, multiplicando-se, pessoas das vilas vizinhas e de outras realidades associativas sensíveis à questão. Exprimindo, desde o início, fortíssimas preocupações em relação às consequências que a instalação deste “EcoMUOStro” (ecomonstro) poderia trazer, acima de tudo, para a saúde humana, para o ecossistema de Sughereta e para a qualidade dos produtos agrícolas. Desde há mais de 4 meses que os ativistas do comité No MUOS e as pessoas locais vigiam dia e noite a estrada de entrada da base, procurando fechar de forma física a entrada dos trabalhadores contratados para a construção do MUOS, com bloqueios removidos, continuamente, pela polícia, de forma violenta. Nalgumas cidades da Sicília e de Itália nasceram comités de apoio a esta luta popular.
C: No meio de tudo isto movem-se as empresas ligadas à máfia na Sicília… Qual é a sua reação ao NO MUOS?
N: O movimento já se confrontou com a máfia. Ela não tem interesse nisso, já recebeu todo o dinheiro e, agora, tem uma posição neutral.
C: Na Sicília, uma nova geração de jovens com fortes sensibilidades ambientais toma consciência do contexto de guerra para o qual o MUOS nos projeta. É anti-militarista esta luta?
N: A luta No MUOS é uma luta anti-militarista contra o imperialismo americano e a guerra e pela soberania popular, tendo como objetivo a desmilitarização da reserva natural do bosque de sobreiros da Sícilia e a do mundo inteiro.
C: Partindo da preocupação com a saúde e com o ambiente passou-se a uma dinâmica de ativismo autónomo dos partidos…o futuro do No MUOS é uma geração libertária na Sicília?
N: Pode vir a ser, tudo depende da habilidade dos companheiros: não deixar espaço aos partidos e estar sempre presente.
C: Como anarquistas, que dificuldades encontram dentro do NO MUOS, apesar da horizontalidade deste movimento?
N: As dificuldades são da ordem da paciência, de se colaborar com pessoas com diferentes posições políticas e de não se ter pressa para realizar as ações de que a maioria não pode ainda compreender a importância.