Rede tradutora de contrainformação

[Livro] Apresentação & Introdução de “Contra a Democracia”

Apresenta-se abaixo a tradução que fizemos da Apresentação & Introdução do livro “Contra la Democracia”. O livro tem 92 páginas e foi editado pelos Grupos Anarquistas Coordinados [G.A.C.: Grupos Anarquistas Coordenados]. Trata-se de uma análise da democracia – tanto a parlamentar como a alternativa – como expressão do sistema de domínio. Pode ser lido e descarregado o pdf aqui

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Contra a Democracia

Apresentação

A pilha de folhas encadernadas que tens entre as mãos é suposto ser uma pequena contribuição dos Grupos Anarquistas Coordenados [G.A.C.: Grupos Anarquistas Coordenados] no combate à democracia – a atual e mais generalizada forma de domínio político (como a principal articulação de Estado e a mais aperfeiçoada), de mentalidade autoritária, delegativa e submissa, além de quadro jurídico ideal para o desenvolvimento da economia capitalista, fonte de exploração e miséria.

Há já um par de anos que levamos a cabo uma campanha contra esta monstruosidade dominadora e domesticadora que é suposto ser a democracia, seja pelos motivos expostos ou perante a sua alarmante procura  por parte de muitos sectores  – que nos últimos tempos têm começado a protestar e a desobedecer cada vez mais por uma mais e melhor democracia –  procura essa que quase sempre leva acoplada uma fagocitose* das lutas reais e radicais.

Estes textos, todos eles de elaboração nossa, são parte dessa campanha. Esperamos contribuir através deles, de forma modesta que seja, à gigantesca tarefa que implica combater o Estado, o capitalismo e qualquer forma de Autoridade em prole do alcance de um mundo novo sem dominadores nem dominados, em prole da Anarquia.

Uma saudação rebelde e esperamos que possas aproveitar a nossa pequena contribuição.

Grupos Anarquistas Coordinados
Primavera de 2013

*fagocitose é um processo micro-fisiológico em que as células engolfam e ingerem partículas

Introdução

Atacar a democracia porquê?

A democracia é justificada por princípios que não é pelo facto de se repetirem mil vezes que se convertem em verdades – essa justificação está tão interiorizada que até mesmo os seus adversários acreditam em tais princípios. Tanto a ideia inculcada no pensamento da população, acerca da bondade deste regime, como a imobilidade dessa mesma população, situam-nos perante a impossibilidade de mudança: ninguém planta hoje outras formas de organização ou até mesmo outras formas de viver.

A nós, filhxs da democracia, disseram-nos que este é o melhor dos regimes, xs nossos pais e avós viveram sob um sistema onde a coerção e a repressão eram mais directas e agora, que suavizaram as formas, somos obrigadxs a aceitá-lo, desde o nascimento.  Porque é que vamos ser uma geração mais empobrecida do que a geração anterior, sem uma guerra sequer pelo meio? Porque o futuro irremediável imposto pelo seu sistema nos conduziu a esta situação. A associação livre em que se diz fundamentada não é tal, já que a partir do nascimento somos obrigadxs a pertencer a este regime, sem possibilidade de escolher uma outra forma de vida – não nos associamos livremente com instituições de ensino, uma vez que não é legal aprender de outra maneira, não nos associamos livremente ao trabalho porque não controlamos o que produzimos nem o horário é por consenso, nem temos capacidade para nos organizarmos com xs companheirxs.

O sufrágio universal – conceito que ao longo dos tempos tem vindo a ser cada vez mais popularizado e exaltado como vitória – é uma contradição em si próprio, sempre afirmaram que o voto é livre quando na realidade é uma eleição condicionada, visto a consciência não ser livre, está dependente da propaganda do regime imperante e da cultura defendida pelos grupos de poder. Também nega a liberdade, na medida em que se reduz a dizer sim ou não ou a qual o partido que nos vai governar, negando-se a desenvolver outras propostas de coexistência. E porque é que é o voto é anónimo? não há liberdade de expressão?

Numa democracia, abandonamos os nossos interesses, a satisfação das nossas necessidades e a organização das relações humanas e da vida nas mãos de outrxs. Presume-se que escolhemos aqueles que podem representar melhor os nossos interesses através do voto, mas aqui colide-se com a realidade: Os partidos políticos defendem os seus próprios interesses, de acordo com as normas estabelecidas por eles mesmos, procurando acumular cotas de poder político e económico, de forma a manter o seu domínio e influência sobre o resto da sociedade.

A crítica aos políticos é quase já universal, não existe confiança na sua justiça e a utilização desta é mais uma prova da incapacidade pessoal e colectiva de resolver os conflitos que apresenta, da sua incapacidade de convencer. As leis têm claramente intenções económicas, com o seu afã de cobrador- como é o caso das multas, a reforma laboral ou  a própria organização económica da sociedade – ao mesmo tempo que exercem um trabalho repressivo, um corte nas liberdades que alegadamente dizem defender (de associação, de imprensa, de reunião…) enquanto cada vez mais se amplia a ameaça de prisão (último código de circulação…).

Desta forma somos convertidxs de seres humanos em cidadãos/ãs (ou consumidorxs, ou usuárixs, ou clientes…segundo o âmbito da vida em que nos encontremos), impõem-nos direitos e obrigações de acordo com a dita denominação e, portanto, relegam-nos a uma mera mercadoria política.

O fundamentalismo democrático não se impõe somente dentro dos territórios que domina, pois o capitalismo tem necessidade de se expandir para perdurar tentando chegar a todos os cantos do planeta, impondo a democracia  que é o melhor caldo de cultura para o seu desenvolvimento. Não hesita em empreender campanhas bélicas contra territórios onde o capitalismo não se encontre enraizado, diabolizando os seus costumes e cultura, com vista à aprovação pela população do país atacante. Impõe pela força um modelo de vida, tanto dentro como fora das suas fronteiras, enquanto vende uma falsa ideia de liberdade. Nunca antes houve tantos meios repressivos e de controlo social, ao alcance de qualquer regime.

As políticas são feitas com base nas necessidades do mercado, em democracia a nossa escolha através do voto tem como objectivo claro apoiar um tipo de medidas políticas que xs nossxs governantes têm de levar a cabo, sejam elxs de direita ou de esquerda.

No momento histórico em que nos encontramos xs dirigentes políticxs não têm interesses opostos – independentemente da sua especificidade – já que todxs têm de favorecer a estrutura do estado na qual o capitalismo se desenvolve, e aplicar políticas segundo as necessidades do mercado, em vez das necessidades das pessoas, e mais ainda, em muitas ocasiões os políticos são beneficiários directos, quando pertencem eles próprios à classe empresarial.

Temos sido todxs testemunhas silenciosas de como o governo injectou milhões de euros na banca, enquanto a maioria das pessoas não tem trabalho ou está a sofrer um despejo. Também estamos acostumadxs a ouvir como os esquemas de corrupção relacionam directamente economia e política.

Sem papas na língua, e com pouco receio de esconder a realidade à população, Emilio Botín afirma que: “a partir de determinados níveis a relação entre empresa e política é directa, muito mais do que se suspeita, uma chamada directa de telefone, de telemóvel para telemóvel, sem secretarias pelo meio”. A democracia não se baseia no interesse comum mas sim no favorecimento de interesses de empresa, na hora de legislar.

Pelo exposto concluímos que a democracia não é o governo do povo mas sim o baile de máscaras atrás do qual se esconde a ditadura do capital.

SE ACREDITARMOS QUE A DEMOCRACIA É LIBERDADE, NUNCA DEIXAREMOS DE SER ESCRAVXS

DESMASCAREMOS ESTA GRANDE MENTIRA!

CONSTRUAMOS A ANARQUIA!

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