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[França] Jornal mural anarquista “Blasfémia” nº 4: Mão de ferro ou luva de veludo?

«A mais formidável das tiranias não é a que faz de árbitro mas sim a que se existe sob a máscara da legalidade»
– Albert Libertad

A polícia, o braço armado do estado, viola, mutila e mata. As tragédias formam uma cadeia, uma após outra, e em seguida responde-se às solicitações feitas ao “Estado de Direito” contra esses maus elementos que se encontrariam nas fileiras da polícia (desde desarmar a polícia, a justiça julgar e punir os polícias assassinos, a polícia dos polícias punir os seus maus elementos, que já não existem “mortos para nada”) … como se fosse um problema individual, um punhado de pessoas que agiriam mal e empeçonhariam esta instituição do Estado.O polícia quando bate, estupra ou mata alguém, no decurso do seu trabalho, continua a cumprir a sua tarefa. Não é por terem nascido sádicas, se bem que o poder que têm e que sobe à sua cabeça contribua para um certo sadismo. Esta é mesmo a função da polícia que pode, em determinadas situações, necessitar que sejam violentos e sádicos. Se às pessoas não à permitido a humilhação diária (controlos de identidade, insultos, etc.) deve ser por esses funcionários realizarem o seu trabalho sujo. E sem dúvida estes querem-se vingar quando se sentem humilhados por sua vez – porque não era necessariamente o seu sonho de infância o tornarem-se um fantoche do Estado, mas para serem capazes de se olhar no espelho no qual devem pensar que são todo-poderosos.

Os tribunais e as polícias são meros baluartes da loucura para garantir que ninguém coloca areia nas rodas da máquina do Estado e, quando isso acontece de qualquer maneira, a polícia está lá para acertar as coisas, para proteger o Estado a todo o custo, evitar que o controle sobre a sociedade seja perdido, mesmo que momentaneamente. Porque o maior perigo para o Estado é que esses pequenos gestos de rebelião sejam reproduzidos socialmente – por isso devem ser cortados pela raiz, às vezes de forma radical, se bem que inventem histórias assim que o método repressivo ultrapasse os limites das leis que criam.

Uma polícia gentil, não-violenta, não é uma utopia é perfeitamente realizável. Mas tal situação só poderia acontecer numa sociedade totalmente pacífica, onde a menor explosão de cólera não existe, onde as paixões estariam extintas, onde a estabilidade da sociedade seria o valor supremo, a comunidade tornando-se tudo e o indivíduo nada.

Para se ter uma polícia gentil tornar-se-ia necessário sacrificar as nossas individualidade ao  bem comum e a um mundo de valores que não deixa espaço às paixões; uma sociedade baseada na mediação, pacificação, sacrifício, acomodação e compromisso. No melhor dos mundos a maior punição seria o banimento e a cada cidadão caberia a responsabilidade da defesa da ordem existente. E que papel caberia à polícia? Esta teria sempre o mesmo papel, o de velar para que a sociedade funcionasse bem, para expulsar os refractários e impedi-los de incentivar outros a não respeitar as regras do jogo. Claro que para cumprir o seu papel teria sempre toda uma gama de métodos, se bem que às vezes alguns sejam mais eficazes que a violência física…

Não queremos nem esta sociedade que engendraria uma polícia não violenta nem aquela que produz instantaneamente a bófia violenta, incluíndo-a até na nossa cabeça. Se existe bófia é para proteger o sistema capitalista, este mundo de exploração e miséria, e para nos impedir de alcançar nosso pleno potencial enquanto indivíduos.

Pouco importa que a cerca à nossa volta tenha ou não arame farpado, seja electrificada ou mais ou menos alta. O problema é que estamos presxs e não como estamos presxs. Polícias gentis, mestres gentis, continuarão a ser uma autoridade acima de nossas cabeças, normas sociais que ditam as nossas vidas, que as atrofiam; permanecerá um Estado que controla cada parcela da nossa existência. Assim, os nossos sonhos são grandes demais para os estreitos limites de qualquer Estado e a resignação não constitui uma opção.

Não queremos nem o punho de ferro nem a luva de veludo. Preferimos cortar esta mão do estado, qualquer que seja ela, que só pode servir para nos estrangular.

PORQUE QUEREMOS DESTRUIR O PODER, AQUELES QUE O DETÊM E AQUELES QUE O DEFENDEM!

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