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Prisão de Billwerder, Hamburgo: Carta de um prisioneiro do G20


Recebido e revisado a 25/08/17

Hamburgo Verão 2017: Estou lá, retido lá!.

Há quase um mês e meio que fui preso durante a décima segunda cúpula do G20 em Hamburgo, em uma cidade sitiada e feita refém pelas forças de segurança mas que também presenciou importantes protestos locais e populares.

Dezenas de milhares de pessoas, se não mais, convergindo de toda a Europa, talvez mesmo para além deste continente, encontraram-se, organizaram-se, debateram e desfilaram juntas durante vários dias numa grande onda de solidariedade – sempre conscientes da possibilidade de sofrer a violência e repressão policiais. Um grande tribunal de polícia foi fabricado especialmente para a ocasião, em construções modulares pré-fabricadas, de modo a punir qualquer protesto contra a Cimeiro do G20 o mais rápido possível.

A minha detenção, tal como a de muitxs compas, é baseada apenas na palavra sagrada da polícia, de uma brigada enviada para infiltrar, observar e seguir a sua “presa” (durante quarenta e cinco minutos no meu caso, por supostamente ter arremessado um projétil…). Uma vez isolado, policiais infiltrados enviavam alguns colegas de profissão para nos deter, o mais rápido e violentamente possível, sem qualquer possibilidade de escapar.

Então, cá estou, trancafiado em um desses lugares primordiais ao bom funcionamento da ordem social global, lugares que servem como uma ferramenta para o controle e gestão da pobreza, essencial para a manutenção da sua “paz social”. A prisão atua como uma espada de Damocles suspensa sobre cada individuo para que fique petrificado só de pensar em desviar-se dos códigos e regras da ordem estabelecida: “metro, trabalho, consumir, dormir”, às quais nenhuma individualidade dominada deve escapar – alienam-se através do trabalho e da vida rotineira – estar sempre a horas, nunca vacilar e isto não apenas durante o segunda volta das eleições presidenciais, onde fomos obrigados a estar “Em Marcha” [“En Marche”, slogan de Macron e do partido que tomou posse em França] ou a fenecer, de preferência devagar e em silêncio.

A lei não tem qualquer vocação para garantir o interesse geral, nem para ser neutra, sendo apenas a expressão de uma crescente dominação institucional por parte dos mais poderosos para garantir a sua propriedade e segurança e, dessa forma, paralisar, punir e marginalizar qualquer pessoa que não concorde ou que não se submeta a isso.

Além dos casos de activistas conhecidos e apoiados que estão presos, há também, e sobretudo, homens e mulheres que estão expostos à brutalidade e crueldade do encarceramento. Aqui, o trabalho é pago a 1 euro por hora, do qual somente metade será concedido à saída da prisão. Na minha ala, as pessoas detidas por prisão preventiva [detenção pré-julgamento] ou por penas reduzidas (de seis meses a um ano de prisão) são encarceradas principalmente por um motivo: a sua condição social e origem. Além do pessoal da prisão agentes, muito poucos são “naturais da Alemanha”, todas as pessoas presas são estrangeiras, refugiadas e/ou precarizadas, pobres, gragilizadas pela vida. O seu crime: não se terem submetido às regras do jogo, estando a maioria envolvida no tráfico de drogas ou em roubos, golpes, sózinhas ou em gangues organizadas a várias escalas.

O encarceramento é o pilar fundamental desse sistema mas ninguém pode criticá-lo sem atacar a sociedade que o produz. A prisão, que não opera só por si, é o elo perfeito para uma sociedade baseada na exploração, dominação e várias formas de segregação.

“Trabalho e prisão são dois pilares essenciais para o controle social, sendo o trabalho a melhor forma de exercer o poder e a reabilitação uma permanente chantagem”

Os meus pensamentos voam até aos/às companheirxs italianxs, que estão a enfrentar mais uma onda de repressão, especialmente companheirxs acusadxs na investigação relativa ao “dispositivo explosivo” deixado em frente de uma livraria associada à Casapound [nicho de fascistas]. A extrema direita deve ser enfrentada através de um contra ataque ofensivo, popular e organizado. A extrema direita é extremamente útil e complementar aos estados que alimentam através dela as suas aspirações de segurança delirantes e a estigmatização incessante do “estrangeiro”.

Pensamentos que voam também até aos/às companheirxs que enfrentarão julgamento em Setembro, relativo ao processo do incêndio de uma viatura, no dia 18 de Maio do ano passado, em Paris, durante o movimento “Loi Travail” [lei do trabalho]. Muitas pessoas foram detidas e duas delas ainda estão presas. Força a elas!

Agradecimentos aos ativistas locais, organizando às vezes concentrações em frente à nossa prisão, uma iniciativa apreciada por aqui, pois quebra a rotina e o estado de letargia a que nos tentam formatar. Agradecimentos a todxs aquelxs que nos apoiam aqui e em todos os lugares.

Aos compas da ação antifascista, MFC, OVBT, jovens selvagens, BLF, e outrxs amigxs… Compas, força!

Liberdade para xs prisioneirxs do G20 e para todxs xs outrxs!

Um detido entre outrxs.

Prisão de Billwerder,
Hamburgo,
14 de agosto de 2017

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