‘Blasphegme’ é um boletim de rua anarquista que aparece nas paredes de Paris, em França. Foram produzidas quatro edições. O objetivo do boletim é a agitação, difundindo ideias anarquistas, propagando sementes de subversão numa vida quotidiana tão encapsulada como o papel gráfico.
Como alguns/mas poderão ter reparado, o jornal Blasphegme fez uma pausa. A razão é que sou eu sózinha a fazê-lo e decidi voar para longe da gaiola cinzenta em que me encontrava. partindo a vagabundear, procurando por um pouco de beleza, de alegria, de cumplicidade, calma, aventura e reconforto.
Talvez um dia eu escreva um texto sobre as violências que me empurraram para o espaço aberto de Paris, sobre o desgosto e o desapontamento que sinto em relação a um meio anarquista que protege e dá razão aos agressores, sobre o quão duro é existir num ambiente que reconhece apenas os grandes discursos, o carisma, e que destila as hipocrisias, as manipulações autoritárias; sobre o quão difícil é existir enquanto anarquista no feminino, num ambiente que tem dificuldade em aceitar que uma companheira é capaz de pensar e agir por conta própria, sem que de nenhum homem dependa.
Fazer este jornal era uma blasfémia contra estes autoritários que acreditam ter uma qualquer influência sobre o meio, era para lhes mostrar que há indivíduxs que funcionam sem a sua benção (e sem se ajoelhar perante eles), sem pertencer a um clã ou outro,
sem defender as suas capelinhas e ideologias esclerosadas. Também estava a tentar fazer
algo apesar de tudo, em pequena escala, contribuindo para espalhar ideias que me são caras enquanto ser individual. Porque não somos todos iguais na “afinidade”, que depende principalmente da capacidade de socialização uns dos outros mas também de sermos gregários e do amiguismo. Aqueles que não se sentem em seu lugar nesta sociedade, por várias razões, também são encontrados nas margens desses pequenos ambientes que afirmam funcionar de forma diferente da sociedade, considerando que este não é o caso. E este artigo deveria mostrar que mesmo em situações de isolamento (desejado ou não), sempre se pode fazer algo … um jornal, mas muitas outras coisas mais interessantes de acordo com os meios de cada um, desejos, energia, etc.
Agradeço aos raros companheiros que me ajudaram a colocar Blasphegme na rua, que me encorajaram, que fizeram revisão. Vocês deram-me energia quando eu não a tinha e permitiram que não desistisse nos momentos difíceis em que eram os únicos ao meu lado.
Pode ser que Blasphegme reapareça nas paredes, talvez mude de língua, de formato, etc. Quem sabe… neste momento Blasphegme está a hibernar.
via insurrection news l francês