No cartaz pode ser lido:
AS CHAMAS DE HAMBURGO ILUMINAM OS SORRISOS
“A polícia procura esmagar uma multidão de um milhar de pessoas com um grupo de apenas cem cossacos. É mais fácil abater uma centena de homens que um só, especialmente se este atacar de surpresa e desaparecer misteriosamente[…] As nossas fortificações serão os pátios internos para cada local donde é fácil de acertar e fácil de partir. Se tivessem de tomar esses locais não iriam encontrar ninguém e perderiam bastantes homens. É impossível que apanhassem todxs porque deveriam para isso encher cada casa de cossacos”
Aviso aos/às revoltosxs de Moscovo (1905)
O guião do espetáculo pré-estabelecido é ultrapassado.
Acontece em Hamburgo, coração económico do país hegemónico da Europa, durante uma das Cimeiras dos mais poderosos, neste caso um G20.
A foto e a declaração dos chefes de Estado, as experimentações da blinditadura de uma cidade, as previsíveis contestações mais ou menos radicais desceram para segundo plano e o que resta é uma revolta que se estende como mancha de leopardo por toda a cidade.
Sucede que a tentativa bem sucedida da polícia de carregar, seccionar e dissolver o fim da concentração daquele que para os jornais se iria tornar o “bloco negro maior do mundo” mais não fez do que espalhar revoltosxs por toda a cidade: por todo o lado colunas de fumo negro, barricadas, vidros partidos, lojas saqueadas.
Acontece que as colunas de blindados com os piscas seguiram fantasmas por toda a parte.
Nos bairros de Sternschanze e Sankt Pauli são recebidos por:
“Ganz Hamburg hasst die polizei” [Toda a Hamburgo odeia a polícia] entoado não só pelxs manifestantes mas também pelxs moradorxs.
Não raro garrafas, e até mesmo foguetes, chovem para baixo a partir dos estendais das janelas das casas, a polícia é recebida por aquilo que é, uma tropa de ocupação inimiga.
Sucede que cada desfile é cercado e dispersado com bocas de incêndio. A polícia sabe ser militarmente imbatível, também xs amotinadxs o sabem – pelo que em vez de se concentrarem no cortejo concentram-se nas margens, nas ruas de Schanzenviertel, para o motim.
Xs revoltosxs preferem o morder e fugir à colisão frontal, desaparecer e reaparecer onde a polícia não está à espera.
Hamburgo arde e ensina: a mega-máquina das forças policiais mais eficientes da Europa, imbatível numa colisão frontal, nada pode fazer perante o alastramento da ação dispersa.
A insurreição é uma guerra assimétrica em que até mesmo o exército mais bem treinado não é capaz de lidar com ela – se for imprevisível e num território hostil. Na noite de 7 de Julho a polícia admite que perderam o controlo de algumas áreas da cidade. Ao alvorecer parte às represálias e algumas casas são invadidas e revistadas por forças especiais de armas em punho: exibição em muitas janelas de faixas contra o G20 e a polícia.
Durante três dias as chamas iluminaram Hamburgo, aqueceram-se os corações e quebrou-se a resignação, abrindo-se brechas no possível.
Para xs detidxs nessa jornada vai toda a nossa solidariedade, não deixamos sós xs que caíram nas mãos do inimigo.
Anarquistas
em italiano