E jamais poderão nos parar.
Do Brasil a Rússia. Que viva a anarquia.
Sabemos que na imensidão dos mares e continentes, nas montanhas e selvas, guerreiros e guerreiras afrontam, há tempos imemoriáveis, lutas contra quem quer destruir e devastar para escravizar, dominar e vender.
Não fechamos os olhos diante disso, ainda mais, somos parte dessas lutas também, mas hoje, ao calor de certas arremetidas, queremos mandar este salve, este abraço cúmplice para nós, anarquistas.Prenderam-nos na Espanha, França, México, Chile, Grécia, Argentina, Alemanha, Itália, Rússia, em todos os Estados. Perseguiram-nos de um continente ao outro. Mataram-nos no garrote vil, nas cadeiras eléctricas, na guilhotina, atirando contra nós. Nos desapareceram no Rio de La Plata e no Chubut, apareceram-nos de novo para limpar suas mãos. Nos mandaram para todo tipo de presídios, até ilhas das quais não pudéssemos sair.Deram-nos o banho da purificação na Indonésia. Nos condenaram por séculos a permanecer nas gaiolas na Grécia. Nos mataram a porradas de cassetete na Colômbia em um 1º de maio. Nos lançaram de uma janela no terceiro andar. Estamos com fome nas ruas da Venezuela. Nos chamaram terroristas e condenaram nossas tentativas de fuga. Prenderam-nos na Rússia e torturaram-nos para nos obrigar a dizer que somos parte de uma organização fictícia. Nos bombardeiam na Síria.
Dentro da disposição dos poderosos por nos atacar na guerra que eles têm declarado contra tudo o que é livre, querem nos paralisar, nos enquadrar nas suas regras, querem nos tornar cidadãos ordeiros e trabalhadores disciplinados agradecidos com suas migalhas. Querem que recuemos e nos digamos democratas, que neguemos o que somos e cedamos, aos poucos, nossas ânsias de viver como queremos: sem governar e sem ser governados.
Querem que percamos a disposição de afrontar seus massacres, sua devastação, sua dominação. Querem nos neutralizar de todas as maneiras, pela paralisação, pela prisão ou pela morte. Não economizam esforços por nos tirar fora do jogo. Querem, dito claramente, nos banir.
Mas, este mundo não é deles e nós vivemos na antiga e bela contradição de arriscar a liberdade lutando por ela e jamais poderão nos parar.
Somos inspiração mútua entre nós, somos rios se juntando para fazer a torrente crescer e poder ser correnteza violenta de vida e revelia.
Somos pirotecnia fugaz e imprevisível que no entanto brilha e ascende.
Somos Ilya Romanov inquebrantável guerreiro que resiste as torturas e luta. Somos Mario e Tortuga feridos e interrogados sob medicação nos mostrando o que é coragem.
Somos Panagiotis Argyrou, Michalis Nikolopoulos, Giorgos Nikolopoulos, Haris Hatzimichelakis, Theofilos Mavropoulos, Damianos Bolano, Christos Tsakalos, Gerasimos Tsakalos, Giorgos Poludoros, Olga Okonomidou, Aggeliki Spyropoulou, Spyros Mandylas conspirando liberdade em cada minuto e nos inspirando a gritar que nosso dia chegará!
Somos Konstantinos Giagtozglou.
Somos Kevin e Joaquín na espera do julgamento e sem perder oportunidade para bater nos tiranos e escapar da prisão.
Somos Tamara, lembrança de que a vingança é um ato de amor por nossos companheirxs e afins.
Somos as fugitivas de sempre.
Somos Mummia Abu Jamal guerreiro que sobrevive contra toda adversidade. Somos Juan, condenado pela nefasta lei antiterrorista. Somos Lisa, inimiga dos bancos.
Somos Alfredo Cospito, ousado tendo um gesto solidário e combativo, quebrando as vidraças da prisão que tentam o conter.
Somos Nicola Gai e os compas acusados pela Scripta Manent e as recentes operações repressivas em Turim.
Somos Diego e os detidos na Argentina.
Somos Tato, com o sorriso presente.
Somos Fredy, Marcelo e Juan, inclaudicáveis sem importar os tipos de governantes.
Somos Santiago Maldonado viajando e lutando.
Somos Mauricio Morales e o Pelao Angry pelejando até a vida estalar.
Somos aquelxs que incomodam porque não damos trégua à guerra, porque agimos sem quartéis e sem comandos, porque reavivamos aos embates da destruição. Somos aquelxs que escrevemos nossa história como as sementes que brotam no meio do concreto: sem permissão e contra toda expectativa.
E quando nos perseguem e vemos nossas façanhas, nossos atos, marcar uma diferença no entorno da pretendida pacificação social, vemos que somos uma força real e incontrolável.
Somos aquelxs que quando dão um passo decidido mudam o mundo ao redor.
Vivemos numa guerra que nos foi imposta, e na qual não conseguimos nem podemos ficar indiferentes. Num contexto de guerra particular, onde a militarização nas ruas cresce e até é aplaudida pela sociedade, onde povos não civilizados ainda são exterminados, onde se se é negra, lésbica e saída da favela, ainda que jogando segundo as regras do “sistema dominador” pode ser assassinada sem disfarces nem vergonhas no meio das ruas. Nessa guerra nos lembram que se eles querem, podem matar até aqueles que usam “as armas legais” se eles fossem gritar contra a dominação, como fizeram com Anastasia Baburova nas ruas de Moscou.
Desde um contexto de guerra em que ainda se sentem os estragos dos jogos olímpicos e da copa do mundo, fazemos menção aos compas da Rússia porque nas prévias dos mega-eventos desportivos procuram castigar aqueles que por si só são um incómodo: mendigos, não brancos, não ocidentais, não civilizados, anti-sociais e claro… aquelxs que lutam, como nós, contra a diversão dos poderosos e que sempre pesa sobre as costas de todos os demais.
Se hoje na Rússia na sala de espera dos jogos prendem e torturam com choques eléctricos, ontem militarizaram e despejaram favelas e incontáveis pessoas, encarcerando todo aquele que podia incomodar seu entretenimento no Brasil: copa do mundo e jogos olímpicos. Na Grécia, no 2004, os supra gastos foram a ante-sala para a “crise” econômica e os consequentes protestos. No México em 1968, se gritava “não queremos jogos olímpicos, queremos revolução” no meio de um clima de protestos, esse grito teve como resposta o conhecido massacre de Tlatelolco, dez dias antes da inauguração dos jogos olímpicos, onde um número desconhecido de pessoas foram assassinados por franco-atiradores em um protesto no centro da Cidade do México na praça de Tlatelolco.
Penduramos uma faixa – em um viaduto de um movimentado vai e vem urbano – na qual uivamos anarquia para esta gente e para todxs compas anarquistas.
Tomar um tempo no meio dessa guerra para construir um gesto de afeto para os que lutam e afrontam tormentas sem medo dos ventos e relâmpagos, é parte de nosso feroz rechaço à uma vida esvaziada de decisões. Com cada vegetação, com cada terra de neves, de florestas ou montanhas fazemos possíveis encontros indecifráveis de liberdade. Porque para nós é abraço cálido, é força no coração receber os acenos por estas vias, nos permitem nos sentir juntos, nos seguir inspirando uns aos outros, nos sentir vivos. Daí que queremos que este aceno, “simples mas, acreditamos, importante” ecoe nos corações de nossos afins, que provoque neles um sorriso por saber que nós vivendo no meio da guerra diária nos demos um tempo na batalha para fazer algo pensando só em nossos irmãos e irmãs, companheirxs, cúmplices, queremos chegar até elxs.
Passeamos pelas ruas, visitamos pessoas de ideias próximas e sabemos que a quantidade de gestos que acontecem por vários lugares: Ações, adesivos, cartazes, faixas, atividades, pixações e troca de ideias acontecem espontaneamente sem ser comunicadas nem compartilhadas na grande rede. Assim, os gestos de solidariedade são insondáveis. Porém, chamamos a compartilhar esse mundo insondável, cientes do sorriso que nos provoca saber que lá estamos uns pelos outros contra toda probabilidade e com absoluta decisão por lutar pela liberdade.
Com o grito de viva a anarquia e o abraço cúmplice.
Anarquistas.