Enquanto aguardo o início do julgamento midiático espetacular político-jurídico-policial chamado “Caso Bombas”, quebro o silêncio da prisão domiciliar para enviar saudações fraternas aos companheiros e às companheiras da Organização Revolucionária Conspiração das Células de Fogo, cujo primeiro julgamento teve o seu marco ontem [19 de julho]. Assistiu-se à tomada de medidas exemplares e à vingança por parte do/as poderoso/as no território dominado pelo Estado grego.
Pode parecer uma péssima estratégia para alguém que está arriscando uma pena de 20 anos de prisão – acusada de participar numa inexistente associação ilícita terrorista e na colocação de engenhos explosivos – se solidarize com pessoas que se declararam culpado/as, mas não me interessa entrar na lógica dos opressores e ficar impávida vendo como encarceram guerreiro/as que enfrentam esta sociedade e que se convenceram da necessidade de passar à ação, atacando.
A solidariedade com aqueles que passaram à ofensiva tem sido sempre criticada por todos aqueles pseudo revolucionários que vêem as práticas anti-autoritárias como uma bela prática da juventude, mas quando a guerra acarreta custos elevados se apressam a sair de cena e a serem meros espectadores de uma batalha, já que não tiveram nem ovários nem culhões para a seguir; por outro lado não se trata de fazermos uma imolação em grupo e entregarmo-nos de bandeja ao inimigo, mas o que aconteceria se não se tivessem gestos solidários com quem foi atingido pelo capital? É menos perigoso apoiar somente os que são legalmente inocentes? Eu sou anarquista e não me interessa as leis da sociedade. A solidariedade não é somente uma palavra bombástica nos comunicados, é uma prática material e concreta.
Qualquer anti-autoritário enjaulado não pode sentir-se abandonado seja qual for o lugar onde se encontre. Amanhã pode ser tarde…
Para os encarcerados do “Caso Halandri”: leio os vossos comunicados e declarações, muitas das vossas cartas as faço minhas e as guardo como um belo tesouro, mesmo sem nunca termos trocado qualquer palavra. Saudo-vos daqui companheiros e companheiras, as vossas longas penas me calam até aos ossos.
A hegemonia do poder usa (usará) as mesmas estratégias, o processo que está ocorrendo nesta parte do mundo é uma cópia má de outros processos, o vosso caso será um modelo a seguir para muitíssimos governos, é como “a grande vitória antiterrorista”, mas estas idéias persistem desde que surgiu a mais bonita das desobediências, não se derrotam, pelo contrário, se fortalecem em outro/as que as trazem tatuadas no peito.
Imagino a cara de prazer dos guardas ao ver os corpos de tão dignas pessoas atrás das grades, a raiva e o nojo me embriagam a tal ponto que consegue me colocar no lugar de vocês. A prisão, a morte e a fuga constam do DNA do/as irredutíveis, são os custos por morder as correntes.
As muralhas e as fronteiras nos separam, as idéias nos unem.
Um gesto mínimo… espero que lhes roube um sorriso nestes duros momentos.
Aproveito a ocasião para enviar um abraço solidário a Sílvia, Costa e Billy.
Ofereço-lhes um poema de Sandra Trafilaf, prisioneira política da ditadura militar de Pinochet escrito por volta de 1984:
“Cercas e portas metálicas
assombram este submundo
tentando aprisionar a nossa alegria de viver e amar
as cartas dos meus companheiros
revoluteiam neste improvisado gabinete
gritos e vozes ao longe
juntam-se às suas palavras
memórias confusas, obscuras
de explosões assassinas
e no entanto permanecem ainda
impregnando-me de lutas e vitórias.
Não estou sozinha”
Mónika Caballero,
Anarquista à espera de julgamento.
Domingo, 24 de julho de 2011
Ps: Agradeço a cada indivíduo e/ou a cada comunidade que difunda esta comunicação e torne possível a interação com os companheiros e companheiras.
Tradução > Liberdade à Solta
agência de notícias anarquistas-ana