Em Paris, entre 14 e 22 de maio de 2012, realizou-se o primeiro julgamento sob jurisdição antiterrorista aos militantes designados pela investigação como pertencentes ao movimento “anarco-autônomo”. Os seis inculpados, como milhares de pessoas, tomaram parte de diferentes lutas sociais: movimento CPE, revoltas à volta das eleições presidenciais de 2007, lutas contra o internamento dos indocumentados e pela liberdade de circulação… desde manifestações selvagens até sabotagens, a conflitualidade que se expressava dentro das lutas transbordava frequentemente o quadro legal ou as habituais mediações políticas e sindicais. Inês, Javier, Damien, Ivan, Franck e Bruno cumpriram entre 5 e 13 meses de prisão preventiva, e continuaram sob controle judicial até ao julgamento.
Em 25 de junho o tribunal anunciou a sua decisão.
De acordo com a decisão:
O Frank foi considerado inocente e absolvido de todas as acusações. Poderá exigir uma indenização pelos 6 meses de detenção.
O Ivan, eliminado da acusação de pertencer ao grupo, por causa da recusa de amostra de DNA, foi considerado culpado dos outros atos praticados, condenado a 1 ano de prisão, dos quais 6 meses suspenso, indeferimento do pedido de não registro criminal.
O Bruno foi eliminado da acusação de pertencer ao grupo por causa da recusa de amostra de DNA. Foi considerado culpado dos restantes atos praticados, condenado a 1 ano de prisão, dos quais 6 meses são suspensos.
O Damien foi eliminado da acusação de pertencer ao grupo do grupo por causa da recusa de amostra de DNA. Foi considerado culpado dos restantes atos praticados, sentenciado a 2 anos de prisão, dos quais 1 ano é suspenso.
A Inês foi considerada culpada de todas as acusações contra ela, condenada a 30 meses de prisão, dos quais são suspensos 18 meses, indeferimento do pedido de não registro criminal.
O Javier foi considerado culpado de todas as acusações, condenado a 3 anos de prisão, dos quais 2 anos suspensas, indeferimento do pedido de não registro criminal.
Note-se que o período de sua detenção (preventiva) abrange quase a totalidade das penas, por isso é improvável que algum deles regresse à prisão. Aqueles para os quais restam algumas semanas ou meses, serão convocados posteriormente para se apresentarem num julgamento especial que decide sobre a aplicação de sanções.
Tudo o que serviu de evidência experimental foi apreendido. A natureza terrorista do caso foi mantida na acusação final.
As sanções são mais ou menos consistentes com as recomendações do Ministério Público (no caso de Inês e Javier são ligeiramente reduzidas), das exceto para Frank, que foi absolvido de todas as acusações.
Foi dado um prazo de 10 dias para recorrerem, tanto para a defesa como para a acusação.
Crônica dos três primeiros dias do julgamento dos 6 compas
No primeiro dia muitos se reuniram em solidariedade em frente ao local onde o julgamento teria lugar, 10ª vara, apesar do grande número de policiais e de câmeras na entrada do tribunal. A defesa entrou na sala de audiências, e os seis foram instalados no banco dos réus.
No início, a juíza pediu a cada um deles que se identificasse e indicasse a profissão. Todos eles estão no fundo de desemprego, o que levou um dos juízes a dizer que um verdadeiro contestatário não deveria depender do Estado. Comentário estúpido de um velho reacionário que, deliberadamente, esquece que a prisão aniquila a vida e destrói qualquer perspectiva. Em seguida, perguntou-lhes se eram inocentes ou culpados. Ninguém se declarou culpado apenas negam o rótulo e se recusam a fornecer DNA. Damien explicou sobre esta questão que é uma questão de princípio, não fornecer as suas impressões digitais.
A presidente do tribunal expôs as acusações contra eles e, em seguida, veio o momento mágico (quando os companheiros fora da sala começaram a gritar com raiva). A juíza continuou a ler as acusações, enquanto do lado de fora podia-se ouvir os slogans “polícia, porcos, assassinos” e “Abaixo o estado, a polícia e os patrões”. Por fim seriam expulsos pela polícia.
O primeiro ato desta farsa judicial é o convite aos compas para virem ao banco dos réus, de modo a que lhes peçam informações sobre a sua vida escolar e profissional – como se estivessem examinando animais selvagens numa feira! Por outras palavras, como é que, numa sociedade tão aberta e tolerante, algumas pessoas podem levantar-se e contestar a máquina estatal?
Mais uma vez, o mesmo juiz fez um comentário estúpido sobre Bruno – acerca do conceito de ser um contestatário e de aceitar um controle judicial depois de o negar.Outra interrogação da juíza é sobre a escrita de cartas (que leu integralmente) e da sua publicação no site Indymedia.
Obviamente, tal ação é particularmente incomoda – certamente, para isso é que o Indymedia é a movida do movimento anarco-autónomo tal como o Al Jazzera para a Al-Qaeda!
Bruno, Ivan e Damien refutam a acusação de intenção de fabricar explosivos, explicando que só pretendiam fazer um fumigénio. Além disso, um relatório pericial confirma que a mistura que tinham feito não era suficiente para tal. E os pregos que foram encontrados na sua posse eram destinados a ser colocados na estrada para irritar os motoristas de carros no trajeto da manifestação contra o CRA de Vincennes.
Todos eles negaram o termo “movida anarco-autónoma parisiense”, invenção da polícia e da mídia. A presidente considerou ainda que não se pode definir este termo que apareceu na imprensa e, especialmente, no jornal “le Parisien”, onde os artigos foram citados durante esta audiência. Colocar este gênero de questões coloca em evidência a ignorância seguida da provocação.
Confrontado com as perguntas da presidente do tribunal, Frank preferiu mencionar as condições de isolamento carcerário na DCRI. Ele disse que a partir do momento em que cruzou o limiar do serviço, um informante exclamou: “Bem-vindo a Guantánamo”. Descreveu as condições de isolamento sensorial e referiu-se à luz acesa durante toda a noite.
A juíza observou que ele tinha sido comunista… lógico, uma vez que tinha sido encontrado em sua casa material para o “Novo Partido Comunista Italiano” (em suma, não se pode ser informado sob pena de se ser catalogado). Uma tal consciência política mantém perplexa a interrogadora.
Ela pergunta-lhe (aos outros compas também): “Por que não entram na Anistia Internacional ou no Social SAMU (próximo da Cruz Vermelha)?”
Em seguida, refere-se ao famoso frigorífico de Frank e aos seus autocolantes de Ação Direta, Georges Ibrahim Abdallah e ao EZLN (que alega ser um movimento basco!). Ah! Se gosta da violência como nas fotos da revolta na Grécia, então tem um comportamento potencialmente perigoso. Além disso, em sua casa, encontrou-se um texto em árabe evocando a guerra civil na Argélia, o que levou o tradutor supostamente independente à conclusão de que é simpatizante da Frente Islâmica de Salvação (FIS) da Argélia! O promotor foi ainda mais longe ao dizer que as condições de detenção nas prisões de segurança na DCRI estão descritos na imaginação do acusado, querendo saber como apoiar os prisioneiros de Ação Direta (presume ter sido cometido sete assassinatos) e Ibrahim Georges Abdallah, sem ter modos violentos.
Para a Inês, as mesmas questões de novo. A interrogadora interroga novamente, dizendo que, tendo DNA, é útil em caso de violação. No final do segundo dia da audiência, Ivan foi convidado a dar explicações quando se visitasse o conteúdo do site, também correndo, até que o presidente perguntou: “Por que não criar seu próprio site para expressar os seus pontos de vista?” E é melhor assistir também…
O terceiro dia começou com o interrogatório de Javier. Na altura de sua prisão, foi encontrado, no seu saco, o livro “Da Memória”, de Jean-Marc Rouillan (ex-membro da Ação Direta na Prisão, que foi libertado sob medidas restritivas). Contudo de más intenções. O companheiro pronuncia-se precisamente sobre a recolha suposta do seu DNA e da sua fragilidade científica como meio de prova. Insurge-se, também, sobre a presença da sua inscrição como militante da fantosmagórica MAAF nos ficheiros da RG e calcula que o tribunal já os tenha condenado. A juíza, grosseira, respondeu que isso era casual. A audiência finda pela leitura fastidiosa de todos os aborrecimentos do relatório RG sobre as ações em manifestações e outras de “anarquistas” nos outonos, desde 2006!
A audiência terminou com a leitura entediante com referência para ações durante as marchas e diversas outras ações de “anarquistas” a partir de 2006. Sempre o mesmo desejo de criar uma conexão com um nebuloso caso terrorista…
Fonte:paris.indymedia.org
traduzido por liberdade a solta/agência de notícias anarquistas