A poder eleger uma vida distinta não mudaria esta, em nada.
Recordo-me perfeitamente do sentimento que me embriagava quando comecei a questionar a autoridade, recordo-me das muitas contradições e interrogações. Durante a descoberta dessas ideias encontrei muitxs que faziam delas práticas materiais, nas suas bibliotecas, publicações, ateneus, etc…na sua vida quotidiana… viver aqui e agora as ideias. Não demorou muito até que fizesse o mesmo.
Recordo-me da angústia que senti ao inteirar-me de que existiam companheirxs encarceradxs por levarem à prática as ideias de liberdade; irmãos e irmãs de ideias, nas garras da besta panóptica, em todos os cantos do mundo. Esse sentimento angustiante nunca mudou, mas agora é acompanhado do gesto solidário.
Somos muitxs, xs anarquistas que nos encontramos do outro lado do grande muro; essa lista tornou-se mais extensa na terça-feira, 16 de Dezembro.
Os tentáculos do Poder abateram-se sobre espaços anarquistas, ateneus libertários, casas okupadas e domicílios de várixs ácratas da Catalunha e Madrid. A caça capturou onze companheirxs, dxs quais sete ficaram na prisão, acusadxs de pertença a grupo armado de carácter terrorista. Não se trata de coincidência o facto dxs detidxs fazerem parte do meu entorno – mais de metade visitam-me frequentemente na prisão. O malho judicial-policial castigou a solidariedade.
Não posso calar-me perante tanta miséria, a vingança repressiva estatal bordeja o delírio. Os meios de informação (porta-vozes dxs dominadorxs) falam de chefxs e de subordinadxs. Frizo que somos anti-autoritárixs, ninguém está acima de mim, nem eu estou acima de ninguém.
Os ataques aos espaços na Catalunha, esses tampouco foram arbitrários: por um lado, a Kasa de la Muntanya é um importante símbolo de ocupação, através dos seus 25 anos afastados da lógica capitalista; deram a sua contribuição a muitíssimas gerações de dissidentes deste sistema de terror. Os ateneus libertários e espaços anarquistas atingidxs jamais esconderam os seus ideais, oferecendo um terreno fértil onde semear as sementes de liberdade.
Os custos desta luta pela recuperação das nossas vidas são muito altos, ninguém disse que seria fácil mas, sem sombra de dúvida, a poder eleger uma vida distinta não mudaria esta, em nada. Nesta peleja contra a dominação não há jaulas nem muros que silenciem as nossas vozes, pelo contrário, vocês companheirxs transformam-se em ecos das nossas vozes.
Se alguma vez vocês, amadxs companheirxs recentemente encarceradxs, puderem ler estas palavras, digo-lhes que tenho a certeza que se manterão incorruptíveis e à altura das circunstâncias como sempre o fizeram.
Recordo todas as vezes que li ou escutei que a solidariedade é uma arma necessária para xs anarquistas. Hoje espero que essas recordações se tornem realidade, ao transformar as nossas ideias em ação.
Mónica Caballero
Centro Penitenciário de Brieva, Dezembro de 2014.