Nota prévia: Aqui vão algumas palavras à volta dos despedimentos ocorridos acerca de um mês na cidade de Neuquén, Rio Negro, Argentina. Palavras que canalizam a crítica, a reflexão e a ação em relação à situação dxs trabalhadorxs têxteis demitidxs em Neuquén. E em solidariedade com as pessoas que lutam por querer viver em liberdade (18 de Fevereiro)
Eu NÃO apoio as trabalhadoras têxteis de Neuquén
É através da escravidão assalariada que se obtém um maior dominação nos nossos tempos. Todo o trabalho é escravidão; pelo facto de ser o eixo da produção constitui também uma das ferramentas mais alienantes da dominação. Eu não apoio nem incentivo o trabalho. E que se saiba o trabalho é qualquer labor forçado. Não há vida na vontade de trabalhar, mas sim servidão e alienação. E a minha decisão não é a de ter uma vida de escravidão, mas sim de liberdade.
O patriarcado não é coisa da actualidade, paremos para analisar as nossas relações e veja-se a dominação de uma pessoa “segundo o género”, trata-se de uma tensão da liberdade até se atingir um equilíbrio nas relações humanas. Embora eu discorde e seja dissidente da divisão domesticada em que fazemos de ‘homem’ ou ‘mulher’ (ou dos géneros em si) – não sendo esta mais do que outra forma de dominação e controlo normalizado – perpetuando os valores hostis da civilização, não é minha intenção apoiar um trabalho que é atribuído ao género feminino, em geral e historicamente.
A poluição gerada pelas fábricas, neste caso a têxtil, é potencialmente prejudicial. Nas fábricas de têxteis os produtos químicos utilizados, tanto nos tecidos de tingimento, ou nas estampagens, lavados ou postos nos cabides – e as águas residuais que geram – são uma nocividade, tanto a nível pessoal como ambiental. Directa ou indirectamente a utilização de corantes, compostos e solventes, causa contaminação nas fábricas têxteis ou em qualquer tipo de fábrica, não sendo minha a vontade de alimentar tal poluição.
Como apoiar a reinserção laboral? Porque é que deveria apoiar um trabalho que alimenta a dominação? Onde reside a liberdade se apoiamos as fábricas que matam a Terra?
Podem-me responder que o trabalho é tudo o que já sabemos e insistir que sem trabalho não há dinheiro e que, ainda que saibamos que o dinheiro é a razão da miséria, é isso que nos possibilita não morrer de fome ou não morrer de frio. Sim, é verdade! Mas assim acabo por ser cúmplice da exploração e das suas misérias ao pedir a reincorporação no trabalho, não ?
A solidariedade não se destina a fazer política, muito menos a fazer proselitismo. A solidariedade é acima de tudo um desejo da vontade de cada um/a. A minha intenção é transformar esse desejo numa qualidade da liberdade. A minha solidariedade nasce da minha vontade; vontade de criar um mundo novo, um mundo livre. A minha solidariedade baseia-se num apoio incondicional à vida e não à exploração.
Em todo o caso algumas ideias vagas podem ser o compartilhar alimentos, oferecer a cada uma das pessoas despedidas ferramentas para se auto-abastecer, como seja o caso de alguma horta comunitária ou não. Alimentos há em todo o lado, basta ir aos mercados de verduras e apanhar aquilo que se deita fora ou se pensa que não será possível comerciar. Falar-lhes de que há outras formas de viver para além do trabalho assalariado numa fábrica, falar e vislumbrar essas formas de viver. Impulsionar a raiva que gera esta forma despojada de entender a vida e que seja potenciada e se amplifique na ação solidária. Que a solidariedade desperte. Que se inquiete em cada um/a para a despertar e que não fique limitada, porque não é coisa fácil, não é “assim mais não”. Que a cerquemos, que se arrisque, que se force, como se costuma dizer: se a jogue.
A liberdade é assassinada dia a dia e de alguma maneira sou cúmplice; não quero alimentar essa cumplicidade ao apoiar o trabalho, o patriarcado ou a contaminação.
Quero ser solidário.
Eu NÃO apoio as trabalhadoras texteis de Neuquén.
Eu apoio as pessoas despedidas da fábrica ‘Neuquén Textil SRL’.
em espanhol