Rede tradutora de contrainformação

Santiago, Chile: Ações a anteceder o 11 de Setembro na comuna de Lo Prado

[No âmbito da chamada anarquista contra as drogas e seus facilitadores que circulou em páginas anti-autoritárias desde o mês de Agosto até a data e antes de uma nova comemoração do 11 de Setembro; Como grupo, queríamos contar uma história antiga – para a reflexão que está enquadrada nesses dois temas – compartilhamos algumas análises e memórias e, claro, reivindicamos algumas ações de propaganda anarquista nas ruas da comuna de Lo Prado, Santiago do Chile].

Somos anarquistas e ao longo do tempo desenvolvemos diversas ações em busca das ideias que orgulhosamente forjamos e agudizamos. Assim, em todos os 11 de Setembro, saímos às ruas com a ideia de propagar memória e resistência ao poder com ação anti-autoritária na comuna de Lo Prado, com altos e baixos, com sucessos e erros, mas sempre com a convicção como referência.

Já passou muito tempo desde a nossa primeira incursão na zona, foi a 10 de Setembro de 2011 – a comemoração contra um novo “11” – com a intenção de levantar barricadas incendiárias. O nosso pequeno grupo tinha já a sua própria experiência, apesar da juventude, todos nós éramos conhecedores do bairro, uns/umas nas ruas, outros com furtos eeporádicos, outros anarquistas, loucxs pelos transbordamentos que foram vividos nesses anos. O lema era: “Se fizermos o que queremos no centro da cidade que nos mete nojo, no bairro, muito melhor”. Essas foram as apostas e lançamos-nos com tudo para as ruas. Muitos materiais que mantivemos, todos foram entregues ao fogo.

O problema era que não conversamos anteriormente, não tínhamos planos. Não tínhamos nenhuma defesa, nenhuma casa para chegar depois, só tínhamos uma vontade gigantesca que nos fez lançar e pronto, um erro fenomenal claro.

A barricada já estava totalmente acesa quando chegaram …, na nossa imaginação, dizíamos: “Ninguém nos fará a folha, pois aqui ninguém quer a bófia”. Que grande erro! Chegaram traficantes e começou o palavreio. Que mal! era um grupo que nos superava amplamente em número e ainda mais estavam bêbados – com o coração maior do que a chucha. Queriam que fossemos embora porque haveria bófia e isso afetaria as suas vendas imundas de drogas. Uns quantos palavrões mais, xs chavalxs libertando todo o seu “blabla” e no final de nada ter servido, um par de murros repartidos e tivemos que sair daqui. Que vergonha que isso nos deu. Era a nossa primeira incursão no bairro e tivemos que sair por culpa dessxs bastardxs.

Para o nosso pequeno grupo ser conhecedor do lugar não foi o suficiente para sairmos limpxs desta pequena ação, não deveríamos ter ficado lá depois de levantar a barricada. Deveríamos ter entrado e saído do lugar e se tivéssemos tido força para lutar, deveríamos fazê-lo com ferramentas, não ao acaso. E algo importante a ter em mente, é que devemos ter em conta que pode haver sempre quem queira frustrar as nossas ações por qualquer motivo, desde qualquer vizinho a um traficante armado.

Esta nossa experiência antiga é algo que pode acontecer e ainda que não nos afetem com maior gravidade, hoje em dia qualquer cidadão se faz de herói, querendo frustrar tudo. Nas manifestações de encapuçadxs estxs foram espancadxs, noutros casos de luta foram ameaçadxs com armas de fogo e xs companheirxs tiveram que sair do lugar. Sem dúvida que estes fatos podem atrair múltiplos sentimentos nocivos, o importante é apoiar-se entre cúmplices, rever os erros e estar preparado, então optamos pela continuidade da luta com mais fortes apetites, seriedade e coragem.

Desta forma, a chamada deve estar atenta aos traficantes, chibxs, heróis cidadãos
sapxs, heróis dos cidadãos, para lhes dar com tudo, se necessário, aqueles que se comportam como bófia serão tratados como tal, como inimigos. A chamada também é para preparar as ações deixando de lado a espontaneidade, há que desenvolver planos, individual e coletivamente, entre os afins. Sair com força às ruas, para propagar as nossas ideias revolucionárias, onde quer que nos encontremos, nos nossos bairros e cidades, neste 11 de Setembro próximo a noite será a nossa aliada e as nossas armas artesanais inundarão as ruas contra os inimigos da liberdade.

Para concluir queremos ressaltar 3 pontos:

1. O nosso relato está enquadrado no apelo anárquico contra as drogas e seus facilitadores como forma de rejeição para com xs bastardxs microtraficantes e traficantes de drogas ansiosos por dinheiro e poder, às vezes colaboradores e cúmplices da polícia. Dizer também que as drogas foram, são e serão ferramentas de poder para o controlo social e um negócio fácil para encher os bolsos. Um negócio que torna as pessoas torpes, dependentes e passivo, sem questionamentos sobre a realidade atual. Não ignoramos tampouco como as drogas e a difamação, serviram para desmantelar e semear desconfianças em organizações revolucionárias. Resulta claro o mal que fizeram, desta forma as rejeitamos e as tiramos das nossas vidas.

2. Somos um pequeno grupo anarquista que quer propagar as ideias insurretas na comuna de Lo Prado. Activxs há vários anos. Hoje, relemos um texto antigo [1] onde fizemos um reconto de ações e vemos alguns erros, coisas de que não gostamos e que deveriam ter sido relatadas de forma diferente. Mas ainda assim, é o que nós acreditamos, é o nosso início de uma jornada de luta que continuamos apesar de tudo [2]. É importante deixar claro que não somos xs primeirxs nem xs últimxs a entrar em ação por essas ruas, outrxs irmãos/ãs afins também deixaram os seus registros [3]. E assim tudo avança, nós pelo nosso lado continuamos a crescer, a estar na rua, com prática, sintonizando ideias graças à experiência que se adquiriu (que podem ser apreciadas no nosso último texto [4]), onde começamos particularmente a traçar caminho junto com xs mais revoltosxs do bairro,xs  vandálicxs e delinquentes – uma questão que não apreciávamos antes mas que há algum tempo rompemos com ela porque acreditamos que é necessária a exploraração e a aprendizagem junto a novos círculos, onde o confronto e a ilegalidade também são pão de cada dia.

3. Como forma de aquecer os motores para o que será um novo 11 de Setembro, reivindicamos uma ação de propaganda realizada no 10 de Setembro, que consistiu em deixar mais de meia dúzia de bombas de ruído na rua Las Torres – esquina clássica dos distúrbios – lançámos centenas de panfletos e colamos três faixas com mensagens incentivando à saída às ruas contra a polícia e o tráfico de drogas, também antes fizemos grafitis e colámos cartazes nos locais com as mesmas ideias [5].

11 de Setembro, às barricadas!
Juventude combatente, insurreição permanente!

NOTAS:

[1] “História e combate nas ruas passados 40 anos do Golpe Militar na comuna de Lo Prado”. Contra Info, Setembro 2013.

[2] “Breve relato do acontecido a 11 de Setembro na comuna de Lo Prado”. Contra Info, Setembro 2014.

[3] “Incendiado um autocarro do transantiago no âmbito de um novo 11 de Setembro na comuna de Lo Prado”. Contra Info, Setembro 2015.

[4] “Ações numa noite de distúrbios a 11 de Setembro na comuna de Lo Prado”. Contra Info, Setembro 2016.

[5] Cartazes e panfletos baseados nas seguintes palavras de ordem: “11 de Setembro | Perante um novo aniversário do Golpe de Estado, do início da ditadura e da resistência armada | Com a memória Intacta! Pelxs caídxs, desaparecidxs, torturadxs e presos! Todas e todos às ruas, às barricadas! | Contra o Informador, o Traficante e a Polícia! Fora com todxs xs bastardxs da cidade! | A recuperar as  vidas que nos querem arrebatar; o Capitalismo, os media de Controlo (televisão), o consumismo e o Estado Policial”.

Setembro 2017.

em espanhol