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Balanço da repressão contra anarquistas na Rússia – 2017 e primeiros meses de 2018

A Cruz Negra Anarquista de Moscovo publicou um balanço da repressão contra anarquistas – exercida pelo estado russo durante 2017 e inícios de 2018. Nesse período, as autoridades continuaram a incriminar e a perseguir companheirxs na Federação Russa. Xs anarquistas são também alvo de repressão nas prisões. Segue-se um extracto da recentemente publicada lista da repressão na Rússia.

S. Petersburgo e Penza

Em Outubro de 2017, os Serviços Especiais Russos (FSB) fabricaram um caso criminal, de larga escala, contra anarquistas e antifascistas – os quais a FSB declara serem membxos de uma organização terrorista com o nome The Network. As autoridades russas alegam que xs acusadxs planearam e prepararam actos terroristas a conduzir durante as próximas eleições
presidenciais em Março de 2018 e durante a Taça do Mundo que terá lugar no Verão do mesmo ano.

Em Penza, Yegor Zorin, Ilya Shakursky, Vasily Kuksov, Dmitry Pchelintsev, Arman Sagynbaev e Andrei Chernov foram detidos. Em S.Petersburgo, a polícia prendeu Victor Filinkov e IgorShishkin. Ilya Kapustin é neste momento testemunha. As famílias dos detidos relatam que
estes foram torturados para deles obterem confissões. Todos os detidos neste caso estão numa situação difícil, sob a ameaça de repetição de tortura, e têm grande necessidade do teu apoio e da tua solidariedade.

Podes fazer um donativo para apoiar os custos legais aqui. Os detidos ficarão também felizes por receberem cartas de apoio. Aqui estão os seus endereços:

S. Petersburgo:
191123, St. Petersburg, Shpalernaya St., 25 PKU SIZO-3 of the Federal
Penitentiary Service of Russia
Shishkin Igor Dmitrievich
Filinkov Victor Sergeevich

Penza:
PKU SIZO-1, st. Karakozova, 30, Penza, Penza region, Russia, 440039
Shakursky Ilya Alexandrovich
Pchelintsev Dmitry Dmitrievich
Chernov Andrey Sergeevich
Sagynbaev Arman Dauletovich

Moscovo
Dois activistxs, Elena Gorban e Alexei Kobaidze, são acusadxs de dano criminal da sede do Partido Russia Unida de Putin. Elxs foram acusadxs, no fim de Janeiro de 2018, depois de activistas desconhecidxs terem partido a janela de uma das filiais do Partido Russia Unida em Moscovo e de terem ateado um fogo em protesto contra a próximas eleições presidenciais.

“Não importa quem seja presidente, a sua política é sempre a opressão e a exploração das pessoas simples que trabalham. Nós, enquanto anarquistas, oferecemos auto-governo e democracia directa em troca de presidentes e outras instituições estatais. Junta-te à nossa luta!” – – disseram as pessoas responsáveis pela acção na sua declaração.
A polícia invadiu os apartamentos em que Gorban e Kobaidze viviam, a 13 de Fevereiro. Depois dos interrogatórios, xs activistas foram libertadxs sob fiança, e estão agora fugitivxs.

Chelyabinsk: caso criminal por faixa anti- FSB
Em Chelyabinsk, cinco activists foram detidxs a 19 de Fevereiro de 2018 depois de uma acção perto da filial local do FSB. Pessoas desconhecidas penduraram uma faixa com a inscrição “FSB – o maior terrorista” e atiraram uma bomba de fumo por cima da cerca das instalações do FSB. A acção foi realizada em apoio dxs anarquistas presxs em Penza.

Activistas, que preferem que os seus nomes não sejam publicados, relatam que os agentes do FSB xs torturaram com uma arma de choques eléctricos, exigindo que admitissem que tinham pendurado a faixa. Elxs foram entretanto libertadxs sob fiança, mas na condição de não saírem do país nem mudarem de residência. Podes ajudá-lxs com os custos legais transferindo dinheiro para a conta da Cruz Negra Anarquista.

Crimeia:

Yevgeny Karakashev preso por “justificar o terrorismo”. Em Fevereiro de 2018, o FSB da Crimeia prendeu o anarquista Yevgeny Karakashev. Acusado de “incitamento ao ódio” e “justificação de
terrorismo” ou, por outras palavras, por postar um vídeo na página do meio de comunicação social Russo VKontakte. Karakashev está actualmente detido.
Eugene é activista há já algum tempo. Antes da sua detenção, participou num piquete perto do edifíco do FSB em Simferopol, na Crimeia, e em Novembro de 2016, acompanhado por pessoas
com afinidades políticas, planeou um piquete “contra a arbitrariedade da polícia na Crimeia” junto ao edifício do Ministério do Interior. Este piquete foi banido pelas autoridades locais.

Perseguição Administrativa de Anarquistas

Em Janeiro de 2017, no aniversário do assassinato político do advogado Stanislav Markelov e da jornalista Anastasia Baburova, organizaram-se eventos em memória delxs por todo o país e que a polícia tentou interromper. Anarquistas foram detidxs em Moscovo, S. Petersburgo, Murmansk e Sevastopol. A polícia realizou outras detenções este ano, durante as acções em homenagem de Markelov e Baburova.

A 23 de Fevereiro de 2017, dúzias de pessoas foram detidas no festival antimilitarismo esquerdista “Desertir Fest”, no sudoeste de Moscovo. O festival foi organizado em protesto contra o recrutamento militar. A polícia considerou esta causa radical e portanto indevida. Em 2018 o festival não aconteceu porque a polícia o impediu antecipadamente.

Em Irkutsk, em Abril de 2017, foram realizadas buscas com a participação de uma unidade do SOBR (Forças Especiais Russas) e do Centro de Combate Contra o Extremismo. Nove pessoas foram detidas. Foi aberto um caso criminal sob o Artigo 148 do Código Criminal (insulto à religião) contra um dos activistas – Dmitry Litvin –. Xs restantes foram interrogadxs como testemunhas neste caso – xs próprixs detidxs estavam certxs de que a principal razão é outra: xs anarquistas locais são xs mais activos participantes da vida política da cidade e intensificaram os protestos repetidamente.

Em Novembro de 2017, quando xs antifascistas russos tradicionalmente homenageiam Timur Kacharava, um músico e antifascista assassinado por neo-nazis, a polícia interrompeu as homenagens. Como resultado, uma pessoa foi presa.

Perseguição de activistas russxs no estrangeiro

Em Abril de 2017, o anarquista Alexei Polykhovich foi deportado da Bielorússia, após 12 dias de prisão por participar numa manifestação em Minsk, onde as pessoas protestaram contra novos impostos. Durante o Verão, na cidade bielorussa de Baranovichi, a polícia de intervenção interrompeu uma palestra de Alexei Sutugi. O tema da palestra era a resistência às autoridades a partir da prisão. Quase todxs xs presentes foram detidxs até à noite. A 12 de Outubro, um tribunal local decretou que os materiais confiscados na palestra eram extremistas.

Em Outubro de 2017, na cidade bielorussa de Grodno, a polícia de intervenção interrompeu uma palestra do filósofo Pyotr Ryabov. Pyotr Ryabov é um simpatizante da causa anarquista e professor de filosofia na Universidade de Pedagogia do Estado de Moscovo. É especialista na história do pensamento anarquista. Depois de uma palestra intitulada “Movimentos Informais na Bielorússia 1991-2010”, em Baranovichi, Ryabov foi sentenciado a 6 dias de prisão por “disseminação de materiais extremistas”.
Depois disso, o Departamento de Cidadania e Migração local decidiu deportar Ryabov e decidiu impedi-lo de entrar no país durante 10 anos.
Em Moscovo, organizaram-se uma série de piquetes contra a prisão de Pyotr Ryabov, em frente da embaixada da Bielorússia.
“O estado sobrestimou a minha contribuição para a propaganda revolucionária: muitas das minhas palestras geraram menos revolta do que a sua proibição. Creio que o problema é o termo «anarquismo». As autoridades lembram-se do facto dos anarquistas terem sido condenados pelo incêndio da embaixada russa em 2010, e do facto dos anarquistas, em muitos casos, organizarem protestos massivos contra a lei do parasitismo”, disse Ryabov numa entrevista depois da sua libertação.

Em 2017, anarquistas da Bielorússia foram a mais activa força de protesto contra o imposto do parasitismo que as autoridades bielorussas queriam introduzir para os desempregados.

Notícias das prisões

O anarquista da Crimeia Alexander Kolchenko celebrou o seu 28º aniversário na prisão onde está ainda detido – apesar da recente troca de prisioneiros entre a Ucrânia e a Rússia. No seu aniversário, anarquistas da Ucrânia, da República Checa e da Polónia organizaram acções de solidariedade em aeroportos.
Kolchenko foi sentenciado a 10 anos de prisão pelo caso dos chamados “terroristas da Crimeia” – participou em acções contra a entrada das tropas russas na península, em particular no incêndio da filial local do partido Rússia Unida e do gabinete da comunidade nacionalista Russa da Crimeia. Em Novembro, foi-lhe diagnosticado um “defice de peso”. Ao mesmo tempo, o FSIN negou-lhe a oportunidade de estudar in absentia numa universidade ucraniana.

Podes escrever uma carta a Alexander Kolchenko para o seguinte endereço:
456612, Chelyabinsk Region, Kopeysk, ul. Kemerovskaya, 20, IK-6,
detachment 4, Kolchenko Alexander Aleksandrovich.

Na Mondovia, o anarquista Ilya Romanov continua a cumprir a sua pena por terrorismo: uma condenação que lhe coube depois de se ter ferido com fogos de artifício em Outubro de 2013. Devido ao acidente, Romanov perdeu uma mão mas, ainda assim, foi condenado por terrorismo e sentenciado a 10 anos de prisão.

Em Abril, o ECHR considerou uma das queixas de Romanov e atribuíu-lhe uma compensação de 3,400 Euros pela detenção irracionalmente longa durante a investigação. Apesar disso, não é claro como Ilya Romanov poderá receber este dinheiro – todas as suas contas estão bloqueadas
pelo estado. Os familiares de Romanov, que tentaram transferir o dinheiro para Ilya através dos correios, foram detidos pela polícia. Em Maio, Romanov foi posto em isolamento durante quarto meses, e em Julho foi aberto um novo caso de terrorismo contra ele.

Ilya Romanov está detido em IK-22 Mordovia, no seguinte endereço:
431130, Mordovia, Zubovo-Poliansky district, st. Potma, n. Lepley.
Escreve-lhe uma carta, ele irá apreciá-la.

Finalmente livre
Em Maio de 2017, o anarquista Alexei Sutuga foi libertado da prisão. Em Setembro de 2014, Sutuga, conhecido pela alcunha Sócrates, foi condenado a três anos e um mês de prisão depois de alegadamente ter tomado parte numa rixa de café. O antifascista não admitiu culpa: ele afirma que tentou interromper a luta mas não agrediu ninguém. As vítimas neste caso eram neo-nazis russos.

Em Outubro de 2017, o antifascista de Tomsk, Yegor Alekseev, desapareceu antes de ser sentenciado por “apelos públicos a actividade extremista”, ou por ter postado um vídeo do YouTube no seu perfil de uma rede social.
Neste momento está seguro numa localização desconhecida. De acordo com Yegor, ele está decidido a esconder-se do sistema judicial russo, temendo ser condenado a prisão.

No início de Novembro de 2017, o historiador anarquista Dmitry Buchenkov evadiu-se da prisão domiciliária e está neste momento num país europeu incógnito. A sua fuga foi possível porque não tinha pulseira electrónica devido a escassez de recursos. De acordo com os investigadores, a 6 de Maio de 2012 Buchenkov terá alegadamente atacado um polícia. Ele foi acusado apesar de as provas claramente indicarem que no dia do alegado ataque ele não estava sequer presente: encontrava-se de visita à sua família, noutra cidade. Uma queixa sobre a sua prisão e perseguição politicamente motivada foi dirigida ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

Esta lista foi preparada pelo coletivo da Cruz Negra Anarquista de Moscovo. Não é uma lista completa das perseguições a anarquistas pelo estado russo – a pedido de alguns/mas companheirxs, esta lista não menciona todas as desventuras dxs anarquistas da pós-União Soviética. Se quiseres ajudar, podes encontrar informação sobre como transferir dinheiro para as necessidades da Cruz Negra Anarquista Russa nesta página.

Fonte: avtonom.org/en/news

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