Os acontecimentos de 6 dezembro de 2010 e o plano de repressão sem precedentes na Grécia. Ações de solidariedade no exterior.
Atenas
A manifestação estudantil no período da manhã: Desde as primeiras horas da manhã, em vários bairros atenienses, aconteceram concentrações e manifestações espontâneas, com o objetivo de chegar até ao Propileo da velha Universidade, no centro de Atenas (lugar do início da manifestação dos alunos do ensino médio), anulando assim, de maneira ativa, a abstenção de 3 horas de aulas que havia sido convocada, transformando-a em uma abstenção total.
As concentrações foram realizadas no bairro de Peristeri (onde os estudantes atacaram a delegacia do bairro e destruíram um carro de polícia); no bairro de Nea Filadélfia, em Egaleo, cerca de 200 estudantes ocuparam as ruas centrais do bairro e foram até a delegacia. Houve confrontos corpo a corpo com a polícia, quando ela tentou deter alguns alunos. No bairro de Koridalós houve muita tensão do lado de fora das prisões, lá aconteceram três detenções. Em seguida, uma manifestação de solidariedade foi para a delegacia, onde os estudantes atacaram os agentes antidistúrbios MAT. Outra manifestação de cerca de 150 alunos se dirigiu ao centro de Atenas a partir do bairro Psijikó, enquanto várias manifestações marchavam ao mesmo tempo desde os subúrbios do norte de Atenas. Outra manifestação de aproximadamente 200 estudantes chegou ao Propileo desde os colégios dos bairros de Exarchia.
A manifestação começou com a participação de mais de 5.000 alunos, contudo, mais pessoas foram se incorporando à manifestação, uma vez iniciada. Os alunos desde o início mostraram suas intenções, atacando bancos, câmaras de vigilância e lojas de luxo ao longo do caminho. Na rua Stadíu, houve confrontos com os agentes antidistúrbios MAT, que resultou na dispersão de muitas pessoas nas ruas próximas. Em várias ocasiões, ataques organizados dos alunos foram capazes de repelir a milicada. Os confrontos continuaram na Praça da Constituição (onde fica o Parlamento grego), novamente com os ataques contra os agentes antidistúrbios e contra o luxuoso hotel “Grand Bretagne”. A polícia de choque respondeu fazendo uso pesado de gás lacrimogêneo e granadas de ruído e brilho.
A manifestação terminou no Propileo da velha Universidade, onde muitas pessoas ficaram para participar novamente do protesto que aconteceria à tarde. Vale ressaltar que os alunos não ficaram amedrontados nem com a presença da policia nem com a histeria midiática de terror, pelo contrário, enfrentaram a polícia, sendo os primeiros que indicaram o caminho.
A manifestação vespertina estava programada para às 16h. O centro da cidade estava bloqueado. Foi imposto um toque de recolher. A boca da estação de metrô do Propileo – lugar da concentração e do início da marcha – estava fechada. Policiais de todos os tipos e da polícia secreta estavam espalhados por toda parte. Helicópteros da polícia estavam sobrevoando nossas cabeças. No entanto, o fluxo de pessoas era grande, inclusive de grandes blocos de alunos. Um pouco antes das 16h alguns manifestantes atacaram uns agentes secretos que tentaram infiltrar-se na manifestação. Os confrontos com a polícia antidistúrbio continuavam. A polícia de choque investia com tudo contra os manifestantes que estavam concentrados, fazendo uso de produtos químicos, novamente violando o asilo do Propileo. É óbvio que o plano da polícia era empurrar os manifestantes concentrados para iniciar a marcha sem a participação da maioria das pessoas, que ainda não tinham chegado ao Propileo. O objetivo final do Estado era impedir que os blocos se aproximassem, de forma coerente e unida, ao local do assassinato de Alexis Grigoropoulos, em Exarchia, como se esperava uma vez finalizada a manifestação. Na verdade, proibiram o início da marcha, porque, talvez, pela primeira vez uma concentração é reprimida antes do começo de uma marcha. É claro que as autoridades pretendem, através da mídia controlada, transmitir a sociedade uma realidade virtual, muito diferente do que vivemos nas ruas. Nestas táticas policiais provocativas sem precedentes está refletido o medo dos governantes pela revolta social generalizada.
Grandes grupos antidistúrbios se alinharam as duas laterais da manifestação. Houve embates contínuos envolvendo o uso excessivo de produtos químicos por parte da polícia, que pulverizaram os manifestantes muito de perto. Os manifestantes seguem em frente, apesar dos esforços da milicada em reprimi-los, e a marcha não se dissolve. A cabeça da marcha chegou ao ponto de partida, o Propileo, onde se junta grande parte dos manifestantes que chegaram após o início forçado da marcha. Enquanto isso, na Praça Maior da Constituição (Syntagma) são lançados coquetel molotov contra os triplos cordões dos capangas armados que vigiam os seus mestres. Segue a investida dos esquadrões com granadas de efeito moral e com muito gás lacrimogêneo. Então, não hesitam em espancar as pessoas – a maioria estudantes. Enquanto a maior parte da marcha ruma ao Propeleo, fechando o percurso, vários manifestantes, a maioria estudantes, são perseguidos pela polícia, eles entram na estação de metrô da Praça da Constituição, onde por muito tempo azucrinam seus caçadores, gritando palavras de ordem dentro da estação e com os esquadrões alinhados em frente deles. Apenas os esquadrões saem da estação, os manifestantes os atacaram furiosamente, desafiando a superioridade numérica e de armamentos dos capangas naquele momento. Os slogans “Milicada, porcos, assassinos” e “Os policiais não são os filhos dos trabalhadores, são os cães adestrados dos patrões” são gritados pelos jovens manifestantes. Nada deste episódio foi transmitido por qualquer meio de desinformação. Os mesmos manifestantes bateram firme em um fascista, membro de um conhecido grupo fascista-paraestatal, enquanto ele estava tentando impedir os manifestantes de se refugiar no metrô. Tampouco isto saiu nos noticiários televisivos, que só falava de “ferimentos num cidadão por arruaceiros”.
Na área do Propileo os destroços foram limitados. A maioria das lojas, bancos, etc., estavam com as portas fechadas. A polícia violou novamente o asilo e começou a perseguir os manifestantes que ficaram lá. A maioria dos manifestantes vai para o vizinho bairro de Exarchia, que é cercada por policiais, secretas e os fascistas. Outro grupo ocupa a Escola Politécnica, passando pelas grades da polícia e dos paramilitares. Às 21h está programada uma concentração no local onde na noite de 6 de dezembro de 2008, dois policiais mataram Alexis Grigoropoulos, de 15 anos de idade. Desde às 19h já havia gente reunida no local do assassinato. Por mais de três horas, a polícia atacou as pessoas que se reuniram em Exarchia, invadindo locais, causando graves lesões, provocando, ultrajando, apavorando, fazendo uso excessivo de bombas de gás lacrimogêneo e invasões em massa, detenções e prisões preventivas. Novamente, o plano da ditadura fracassará. As pessoas, apesar das substâncias químicas e do terrorismo, ficaram no ponto do assassinato, gritando slogans e os nomes dos lutadores na luta social, mortos pelas forças da repressão. Em seguida, é organizada uma marcha até a Escola Politécnica ocupada. Os policiais investem contra a marcha e destroem uma parte do monumento a Alexis. Há uma verdadeira luta para expulsar os milicos do ponto do assassinato. Há batalhas de rua por mais de duas horas em todo o bairro de Exarchia, sob uma espessa nuvem de produtos químicos e gás lacrimogêneo. Até a madrugada de terça-feira, 7 de dezembro, os ocupantes da Escola Politécnico ficaram sob o cerco sufocante da polícia e dos fascistas. Houve aproximadamente 98 detenções preventivas e 44 prisões pelos incidentes de hoje. Muitos foram feridos pelas atrocidades da polícia.
http://www.youtube.com/watch?v=ZmRPv_PNvX8&feature=player_embedded
O que aconteceu em Atenas, em 6 de dezembro de 2010 (invasões da Brigada “Αnti”terrorista, prisões, as novas ordens em várias cidades da Grécia) e, que deliberadamente foi precedida apenas alguns dias antes, justifica plenamente a caracterização de guerra da selvagem ofensiva desencadeada pela ditadura e seus agentes contra a sociedade. Uma guerra a nível comunicativo, ideológico/classista e operacional-militar. A luta contra a violência do poder, pela liberdade e a emancipação social, a partir de agora deve ser coordenada e organizada em todos os níveis mencionados.
Tessalónica
Da mesma forma que as medidas precedentes em Atenas, a polícia havia declarado um toque de recolher no centro da cidade. Na marcha da manhã, estudantes de mais de 60 escolas realizaram uma sentada no Ministério da Macedônia e Tracia, e continuaram a marcha até o centro da cidade. Na manifestação combativa à tarde, envolvendo mais de 3.000 pessoas, foi atacado um posto policial em um ministério e uma equipe de jornalistas de televisão; os manifestantes entraram em confronto com a polícia e foram realizadas expropriações de dois supermercados. Os policiais inexperientes e da polícia secreta tentaram violar o asilo da Universidade e praticar algumas prisões, mas foram impedidos pelos estudantes.
Ioannina
Cerca de 2.000 pessoas participaram da marcha, que foi duramente reprimida pela polícia, resultando na dispersão de muitas pessoas antes da marcha se reagrupar. Houve confrontos e gritos contra o Estado e os milicos feitos pela maioria dos participantes. Houve 45 detenções preventivas e 5 prisões.
Agrinio
Marcha com cerca de 200 alunos até a delegacia. Alguns estudantes antes da marcha realizaram uma sentada, enquanto a outra parte da manifestação atacou a polícia e os confrontos de rua surgiram. Antes mesmo do início da marcha, houve uma investida violenta terrível da polícia e a marcha se dispersou. Depois de muito gás lacrimogêneo, granadas de efeito moral, muitas brigas e detenções da polícia secreta contra estudantes, solidários procedentes da ocupação da Prefeitura apareceram exigindo a libertação dos detidos.
Volos
Marcha de 1.000 pessoas, que desde o começo do protesto recebeu um montante incrível de produtos químicos dos policiais. As pessoas não se dispersaram e continuaram combativas, mas os policiais também continuaram pulverizando o protesto com gás lacrimogêneo. Houve batalhas de rua e lutas corpo a corpo. Os 11 detidos foram libertados e houve feridos de ambos os lados.
http://www.youtube.com/watch?v=Vqf8wZ2wxew&feature=player_embedded
Heraklion
Grande participação na manifestação de Heraklion, e um bloco anarquista numeroso. Durante o curso da marcha, vários bancos foram atacados, um caixa eletrônico foi destruído, assim como vitrines e câmeras de vigilância. Na manifestação da noite cerca de 500 pessoas participaram, com grande presença da polícia.
Patras
Uma marcha combativa pela manhã feita pelo grupo “Alunos Desobedientes”, com a participação de 500 pessoas. Depois desta marcha, houve outra, puxada pela “Associação de Estudantes”, com a participação de cerca de 4.000 pessoas. À tarde, foi organizada uma marcha combativa e espontânea com aproximadamente 400 pessoas no centro da cidade.
Zante
De manhã, marcha com cerca de 250 alunos, um número impressionante para os padrões da ilha, com ataques à delegacia, 4 detenções preventivas e uso de violência pela polícia contra os jovens estudantes. Na parte da tarde, rolou outra passeata, com enfrentamentos com pedras e coquetel molotov fora da delegacia, com duas prisões.
Igoumenitsa
Marcha de 400 pessoas, entre estudantes, pais e professores.
Mytelene
Marcha de 500 pessoas. Combativa e longa, que passou por vários bairros da cidade, e à beira-mar, onde foram quebrados todos os caixas eletrônicos e a fachada de um banco antes do protesto terminar na praça principal.
Larissa
Marcha de 500 pessoas e confrontos com a polícia. Foi destruído um banco e carros-patrulha. Houve 5 detenções preventivas.
Serres
Marcha espontânea de cerca de 100 alunos até a delegacia. Mais tarde, tornou-se uma intervenção com megafone, distribuição de textos e folhetos na praça principal com a presença da polícia.
Ptolomaída
Estudantes do ensino médio se reuniram à noite com velas fora da delegacia, com a milicada em frente com os fuzis na mão.
Arta
Manifestação de estudantes no centro da cidade, que terminou com uma sentada do lado fora da delegacia.
Komotini
Marcha combativa de 300 estudantes no centro da cidade e distribuição de panfletos, até chegar a Faculdade de Direito, onde continua a ocupação dos estudantes.
Xanthi
Combativa marcha de cerca de 500 jovens rebeldes. Inúmeros policiais e ataques a veículos da polícia municipal.
Corfu
Pela manhã e tarde marcha até a delegacia com um grande número de estudantes. Sentada do lado de fora da delegacia.
Chania
Marcha espontânea de cerca de 1.000 estudantes e professores até o edifício do governo civil, com feridos e pelo menos 3 detidos e 8 presos, incluindo estudantes de 13 anos. Na marcha da tarde houve mais duas prisões.
Kefalonia
Marcha espontânea de mais de 150 pessoas até a delegacia. Foram gritados slogans antifascistas e antirepressão e em solidariedade com os presos.
Manifestações estudantis com ataques simbólicos contra delegacias também foram realizadas nas cidades de Nafplion, Kozani, Karditsa, Kavala, Drama, Tripoli, Katerini, Edessa, Florina, Rézimno e Amaliada.
Ações de solidariedade no exterior
Suíça
Uma ação de solidariedade em Genebra, onde bombas de tinta vermelha sujaram a fachada do consulado grego.
Reino Unido
Concentração de solidariedade e manifestação estudantil em Londres, terminando em frente à embaixada da Grécia.
Chipre
Concentração e manifestação de solidariedade aconteceram no domingo, 5 de dezembro, na Praça da Liberdade, em Nicósia. Em seguida houve uma exibição de um documentário na Praça Faneromeni.
Estados Unidos
Protesto solidário em São Francisco, após a lesão de uma manifestante estadunidense na manifestação contra o FMI, e transmissão de uma mensagem de solidariedade para com todos aqueles que lutam contra a Junta grega.
Declaração de apoio e solidariedade de grupos RASH (Skinheads Comunistas e Anarquistas) e Exército de Palhaços Insurgentes de Indiana.
Nova Zelândia
Declaração da Cruz Negra Anarquista (CNA) da cidade de Aotearoa pela grave lesão da manifestante estadunidense, e em solidariedade com todas as vítimas da repressão e com os prisioneiros políticos na Grécia.
Alemanha
Manifestação de solidariedade em Weimar, no mercado natalino da cidade, com slogans, panfletos e fogos de artifício. Os policiais se aproximaram da manifestação e fizeram 4 prisões.
França
Ação de contra-informação de um grupo da CNT sobre a situação na Grécia, na cidade de La Roche Yon, no oeste do país.
México
Intervenção em Cancún, na manifestação contra a COP-16 (Convenção das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas).
Murais de solidariedade nas paredes de Roma pelo grupo ”Partisans”, assim como em Buenos Aires.
Também houve ações de solidariedade em 6 de dezembro em Marrocos, Bulgária, Camboja e em outros países.
Dezembro foi apenas o começo, basta já com a tolerância!
A luta pela liberdade, constante, internacional e auto-organizada, não se reprime!
Nossa fúria está se agigantando!
Solidariedade com os presos em 6 de dezembro!
Solidariedade com todos os presos políticos!