Desde o inverno de 2012/2013 que cerca de 300 refugiados africanos vivem em Hamburgo. Conseguindo fugir da Líbia, migraram para Itália, na ilha de Lampedusa, a partir da qual chegaram à fronteira alemã.
Em Maio de 2013, lutadores do grupo “Lampedusa em Hamburgo” – reconhecido em Itália como refugiados da guerra da OTAN na Líbia – entraram em ação, pela primeira vez na Alemanha, na sua luta pelo acesso livre ao mercado de trabalho, habitação, assistência médica e social, educação e liberdade de escolha da sua residência, dentro dos direitos jurídicos da União Europeia, que sempre puderam lhes ser concedidos, em contraste com as afirmações feitas pelo ministro do Interior e pelo presidente da Cãmara de Hamburgo.
O Senado da cidade só estava disposto a lhes fornecer alojamento temporário antes do frio do inverno se concordassem em ser deportados. Recentemente, o presidente da Cãmara chegou ao punto de declarar que Hamburgo aplica a mais moderna política para os refugiados…
Neste momento, enquanto a memória das últimas mortes dos migrantes naúfragos na ilha de Lampedusa está ainda fresca, o governo de Hamburgo desencadeou uma vasta operação contra os refugiados que sobreviveram à guerra e à fuga para Lampedusa uns meses atrás.
Em meados de Outubro de 2013, ativistas fizeram um ultimato ao Senado de Hamburgo para que este parasse de imediato com a discriminação racial, mas, naturalmente, não existiu nenhum sinal positivo da parte das autoridades. A partir daí, a cidade de Hamburgo nunca mais viu um dia calmo. Apesar da repressão feroz, as forças policiais locais foram incapazes de lidar com todas as ações ao longo dos últimas semanas, por isso destacamentos policiais foram enviados para Hamburgo, a partir de outras regiões. Têm sido realizadas inúmeras atividades e manifestações de solidariedade com os refugiados em Hamburgo e em várias outras cidades por toda a Alemanha e para além dela..
Abaixo estão algumas atualizações desde 23 até 28 do Outubro de 2013 (a anterior crónica pode ser lida em inglês aqui).
Cerca de 50 ativistas reuniram-se em frente da câmara municipal de Hamburgo para demonstrarem a sua solidariedade para com os refugiados, enquanto decorria uma reunião no interior do edifício. Os ativistas exibiram uma faixa em que se podia ler “Ninguém é ilegal” e gritaram palavras de ordem. Passado pouco tempo a polícia chegou, empurrando os ativistas para fora da chamada “área de não protesto”, e dando-lhes uma ordem que os restringia àquele local.
Mais tarde, a habitual manifestação de quarta-feira, auto-organizada pelos refugiados, contou com mais de 1200 participantes.
Em Berlim, uma manifestação de cerca de 80 pessoas pelo direito dos refugiados a permanecerem no país foi atacada pela polícia. Várias pessoas ficaram feridas, uma das quais, em estado grave, teve de ser transportada para o hospital. Como resposta a esta repressão, cerca de 150 pessoas reuniram-se ao anoitecer para uma manifestação espontânea, tendo sido, contudo, rapidamente cercadas pela polícia. Fora desse cerco, centenas de pessoas, em vários grupos, manifestaram-se nas ruas vizinhas, algumas delas bloqueando uma rotunda com material de construção de um local que se encontrava próximo. Depois da primeira manifestação ter sido oficialmente registada e, por isso mesmo, autorizada, a polícia terminou o cerco e a manifestação seguiu o seu caminho. Foram-se juntando à manifestação cada vez mais pessoas até que por fim já eram mais de mil. Durante o percurso, pequenas barricadas foram construídas e uma agência do banco Commerzbank foi atacada.
A segunda tentativa da polícia para terminar a manifestação falhou porque os manifestantes conseguiram furar o cerco. A manifestação terminou na esquadra da polícia na Tempelhofer Damm mas, ainda assim, várias centenas de pessoas permaneceram lá até às 2h30m da madrugada para exigir a libertação de todas as pessoas que tinham sido detidas, durante o dia. Então, mais uma vez, a polícia deteve vários manifestantes.
24 de Outubro
Durante a noite, perto da estação de Barmbecker em Hamburgo, e apenas alguns minutos depois de ter começado, uma manifestação espontânea de cerca de 150 pessoas foi impedida e cercada por um numeroso grupo de polícias. Contudo, uma manifestação posterior em Schanzenviertel começada às 21h30m conseguiu ir até ao final. A bófia só exercitou a sua habitual atividade militar depois de terminar a manifestação.
Em Dortmund, antifascistas penduraram oito faixas em pontes para expressarem a sua solidariedade com os refugiados e os seus apoiantes.
25 de Outubro
Às 20h30m, em Hamburgo, logo após o final do jogo em casa do St. Pauli, teve lugar uma manifestação organizada por apoiantes do St. Pauli e por outros grupos do mesmo bairro. Durante o jogo, muitas faixas e uma coreografia em solidariedade com os refugiados foram exibidas, tendo os fãs convidado os refugiados para o jogo de futebol. No bunker vizinho, fogos de artifício foram lançados, logo após o jogo, e 10000 pessoas manifestaram-se, do estádio até à igreja de St. Pauli, local onde οs refugiados se encontram, de momento, a viver. Devido ao facto de alguns dos refugiados também terem participado na manifestação, os manifestantes não atacaram a polícia nem fizeram acções diretas. Os polícias encontravam-se na defensiva, talvez surpreendidos por serem confrontados por muitas mais pessoas do que esperavam. Só fizeram ameaças risíveis, ao megafone, de que terminariam com a manifestação devido ao fogo de artifício.
Ao mesmo tempo, ativistas ocuparam uma grande chaminé na Bleichstraße e desfraldaram uma faixa gigante em que se podia ler “Ninguém é ilegal”. Apoiantes da acção foram atacados pela polícia com gás-pimenta e bastões, sendo dois deles detidos. Depois da polícia ter desimpedido a rua em frente da torre, por duas vezes, retirar-se-iam até de manhã.
Durante a tarde, vários grupos pequenos enfrentaram, por várias vezes, a polícia na Schanzenviertel, do qual resultaram várias janelas partidas de carros da polícia. O jornal de grande tiragem “the taz”, que frequentemente usa a palavra anarquia para descrever situações caóticas, intitularou o seu artigo on-line “Motim depois de jogo de futebol”, e diminuiu os números de participantes para 5000. Depois de um largo número dos seus leitores alternativos de esquerda terem reclamado, o jornal alterou o artigo…
Durante a tarde, cerca de 400 pessoas fizeram parte de uma manifestação, em Frankfurt. A sede local do PSD (Partido Social-Democrata) foi atacada com tinta.
Em Berlim, as janelas do escritório da Junge Union (organização da juventude do Partido Democrata Cristão) foram destruídas.
Em Hamburgo, uma manifestação contra a arbitrariedade da polícia e contra a discriminação racial partiu da Achidi-John-Platz, em frente da okupa Rote Flora. Tinha sido declarado estado de emergência neste bairro da cidade, o que significa que haviam mais polícias que manifestantes, tendo também sido destacada polícia montada, tanques para remoção de obstáculos com lâminas de bulldozer e canhões de água.
Na Holstenstraße, durante a manifestação, teve lugar um comício com os residentes. Nesta área, os jovens têm sido regularmente controlados pela polícia, situação da qual resultaram vários dias de protesto e confrontos. Depois da manifestação, as pessoas juntaram-se em frente da chaminé que foi ocupada no dia anterior; foram atacadas e empurradas pela polícia com bastões e gás-pimenta. Contudo, a chaminé não foi despejada, já que os bombeiros não facultaram os materiais e o pessoal necessário à polícia. Mais tarde, durante a noite, barricadas em chamas foram erguidas na área circundante, tendo depois sido eliminadas por veículos pesados da polícia.
Em Munique, 400 pessoas fizeram parte de uma manifestação, tendo como palavra de ordem principal: “Aprendam com Lampedusa – abram as rotas migratórias.”
Em Kiel, 200 pessoas manifestaram-se pela cidade, tentando consciencializar os transeuntes sobre a situação em Hamburgo e as condições de vida miseráveis dos refugiados.
27 de Outubro
A ocupação da chaminé em Hamburgo terminou nas primeiras horas da manhã, auto-determinada e sem detenções.
28 de Outubro
Em Berlim, na noite de domingo para segunda-feira, a sede do PSD foi atacada com pedras e alcatrão. A Kurt-Schumacher-Haus é a residência do governo do Estado de Berlim e também aloja o governo do distrito de Berlim-Mitte.
Durante esse mesmo período de tempo, o tribunal do distrito de Tempelhof/Kreuzberg, situado na Möckernstraße, foi atacado com pedras e tinta. O “Grupo de Ação Para um Voo Livre” reivindicou a responsabilidade pela ação, descreveu-a como um acto de solidariedade com a luta dos refugiados/não-cidadãos, assinalando que a Fortaleza Europa, que, em Lampedusa, salva as suas fronteiras externas matando sistematicamente com a ajuda do Frontex, é atacável no coração da besta. O comunicado é concluído com a seguinte palavra de ordem: “Destrói a Fortaleza Europa! Pela Anarquia!”
Solidariedade ativa com os refugiados em greve de fome na Porta de Brandemburgo em Berlim e com o grupo de refugiados de Lampedusa em Hamburgo. Estão aqui para ficarem!