Ação com dispositivo incendiário/explosivo contra a mesa eleitoral e em solidariedade com Mónica Caballero e Fransisco Solar.
Não somos espetadorxs, somos convencidxs inimigxs de toda a forma de domínio.
Hoje, empunhando as armas da vida e os ideias de rebelião, quisemos presentear um pouco de ímpeto anárquico. Convencidxs que o atual estado de coisas se sustenta não somente por conta de quem administra o domínio, mas também na atitude servil de quem o avaliza de forma tática, hoje decidimos atacar com um dispositivo incendiário/explosivo a 98ª Mesa Eleitoral, na comuna de La Reina.
É esta também mais uma das peças da engrenagem democrática, devido ao seu papel na organização logística de todo o processo eleitoral a nível territorial. Em termos simples, designa os vogais das mesas, integrantes contadores dos colégios e delegados das oficinas eleitorais, além de ser o organismo que determina os locais de votação.
Não camuflamos as nossas obscuras intenções.
Porquê passar ao ataque? A anarquia não deve gastar energia em criar obstáculos ao caminho aos cardumes de cidadãos no rito democrático das eleições, mas deve tentar demonstrar que o debate entre os refratárixs e a autoridade é impossível. Deve-se procurar o confronto, não o apelo esperançoso para corrigir o caminho errado.
Chamadas a não votar, a construir o Poder Popular, a marcar no voto “AC” (Assembleia Constituinte), a votar nulo, a votar branco, a votar pelo “mal menor”, não significam outra coisa que manifestar desabafos em linguagem cidadanista, jamais colocar em tensão o domínio autoritário.
A única resposta entre tanta miséria é a ofensiva anti-autoritária nas suas múltiplas arestas e formas. É a incitação ao incêndio por qualquer meio. É o incêndio mesmo, a ideia que o motiva e também as mãos que o concretizam, a vontade inquebrantável de quem luta até ao último suspiro, com os meios que tem à mão.
Contra a democracia, contra a miséria de alguns/algumas anarquistas.
Parece que assistimos a uma sacralização da democracia, pois esta encontra-se na boca de todxs. Cidadãos e pretensos revolucionários apostam nela como ideal futuro. Aperfeiçoar a atual ou realizá-la verdadeiramente parece ser todo o espetro de posturas da fauna política. Quem crê na tática eleitoral assim como quem a recusa põem-se de acordo neste ponto: o problema não é a democracia, mas a sua gestão.
Uma posição anárquica coloca na ordem do dia a recusa a qualquer tipo de domínio e não se detém em problemas de forma: nem como ordem histórica nem como dinâmica social a democracia significa um caminho de libertação. Lutar por mais democracia equivale a lutar pelo aprofundamento de um sistema social que esconde o conflito em que ela emerge e sobre a qual se funda.
No plano local, parece que ninguém se lembra já que provenientes de espetros que se reivindicam anarquistas e libertários estão a fazer grosseiras concessões a favor da democracia. Ou, por acaso, ninguém se recorda o efêmero deslize de alguns intergrantes da Organização Comunista Libertária com o Pacto eleitoral “Juntos Podemos” aqui em Santiago faz alguns anos? “Anarquistas”, comunistas, humanistas e demais, todos dando as mãos e soltando algumas gargalhadas. Apoio crítico? Simples desfaçatez plataformista.
Menção à parte merece uma tal Rede Libertária, que não dissimula o seu apoio, hoje, a um dos atuais candidatos presidenciais da esquerda parlamentar. Será necessário perguntar-se que classe de anarquistas apoia um possível presidente? Isso é cuspir na cara de cada companheirx que decidiu afirmar a anarquia através do magnicídio.
Por outro lado não faltam os que buscam, da mesma forma que os políticos, ampliar a sua base militante a todo custo. À Corrente Revolução Anarquista não lhe basta falsificar a história recente da luta anárquica neste território, abraçando um suposto protagonismo e uma pretendida e “insustentável” hostilidade policial à sua organização especifista. Agora também tentam manifestar o seu repúdio ao processo eleitoral, acenando as bandeiras de sua organização. A ação anárquica deve ser propaganda da luta, não deste ou daquele grupo ou organização de chefes anarquistas.
Tanto uns/umas como outrxs esperam conseguir frutos de tudo isso, mas quem participa no circo eleitoral tem ao menos a honestidade de não esconder as intenções que o motivam. Não merecem o nosso respeito, não são nossxs companheirxs, aquelxs que mediante toda uma retórica de oposição criticam o domínio de forma superficial.
Não é surpresa, então, que a tática eleitoral se reproduza também noutras escalas políticas e organizativas onde a urna, o voto ou a mão erguida se impõem e são validados como métodos para tomar decisões em federações estudantis, organizações de esquerda, assembleias e, inclusive, em alguns coletivos autônomos. Um bom e asqueroso exemplo disso é a recente eleição de uma jovenzinha libertária transformada em Presidenta da Federação de Estudantes do Chile, que reivindica que o anarquismo é um movimento histórico “profundamente democrático”.
Quem busca ter palanque para a sua organização no mercado da política cai também no jogo que tanto recusa. E sendo este o panorama geral, parlamentares e anti-eleitorais de esquerda, ademais de uns “anarquistas libertários” coincidem na estratégia: a disputa dos espaços de Poder.
Minorias ativas para o combate anti-estatal e anti-autoritário.
A anarquia incontrolável não submete-se à democracia e os seus valores. Não fala de maiorias, consensos ou direitos fundamentais. Não abaixará a cabeça por umas quotas de poder nem muito menos esperará tempos melhores para experimentar a sua luta. Hoje estamos a praticar, em todas as partes do globo, a guerra irregular contra o domínio.
Estamos a pensar o conflito nesses parâmetros, quem espera exércitos revolucionários ou milícias populares não entende a natureza da guerra atual. Se o conflito é assimétrico então vamos morder e desaparecer, vamos hostilizar o inimigo onde esteja, em todas as partes, inclusive dentro de cada um/uma. Longe de toda a herança militarista, vamos combater o poder de forma multiforme, com o agir autônomo e organizados a partir da informalidade.
O ataque não somente é possível, é também necessário. Vamos gerar situações e meios para seguir experimentando o conflito e lá, onde se apresentem, vamos praticar os nossos avanços.
Cara a cara com o inimigo.
Sabemos que esse espírito se expande internacionalmente como peste negra e isso inflama os nossos ardentes desejos de seguir adiante. Gestos de luta como o de Alfredo Cospito e Nicola Gai fazem-nos sentir, a milhares de quilómetros de distância, a urgência de contribuir com um grãozinho de areia para essa imensa praia da insurreição anárquica. Para quem não se curva na boca do lobo, para quem afirma as suas motivações frente ao carrasco, para Nicola e Alfredo, os nossos sinceros respeitos e cumplicidades.
Enquanto planeávamos esta ação enteiramo-nos do triste acidente do companheiro Ilya Eduardovich Romanov, ferido pela explosão de um dispositivo explosivo no oeste da Rússia. Essa notícia realmente atingiu-nos, lembrou-nos acontecimentos semelhares que ocorreram no Chile e quão frágil é o caminho de quem luta, assim como nos deu mais força e dedicação ao momento, para seguir em frente com os nossos preparativos. Esta noite o nosso coração esteve junto ao teu, Ilya, este é um pequeno gesto para ti, é a nossa forma de te abraçar à distância e de te desejar uma rápida recuperação.
Porque cada passo, esta noite, esteve acompanhado da atitude irredutível e digna de todxs xs nossxs irmãxs e companheirxs sequestradxs em distintos pontos do planeta, aquelxs que dia a dia se mantêm em luta, sem se curvar nem arrepender… saibam que não estão sós nem esquecidxs: Marcelo Villarroel, Juan Aliste Vega, Freddy Fuentevilla, Hans Niemeyer, José Miguel Sánchez, Alberto Olivares, Nicolás Sandoval, Victor Montoya, Marco Camenisch en Suiza, Gabriel Pombo Da Silva na Espanha, Sonja Suder na Alemanha, Nicola e Alfredo em Itália, os compas resistentes frente ao grande júri nos EUA, xs guerrilheirxs urbanos da Conspiração das Células de Fogo, Luta Revolucionária e xs compas detidxs pelo duplo roubo em Kozani, que enfrentam julgamento dentro em pouco. Ao irredutível Henry Zegarrundo na Bolívia e também xs compas que enfrentaram de forma digna e não vitimista, a detenção em Villa Francia no último 11 de Setembro.
Para terminar, com o fogo e a explosão de nossos desejos de liberdade levados à ação, enviamos a nossa solidariedade revolucionária a Mónica Caballero e a Francisco Solar, companheirxs do Chile, sequestradxs pelo Estado Espanhol na madrugada de 13 de Novembro, acusadxs de instalar um dispositivo explosivo, reivindicado pelo Comando Insurrecional Mateo Morral, em Outubro deste ano.
Enquanto os Estados do Chile e Espanha voltam a colocar em prática, de maneira mecânica, a sua conhecida estratégia discursiva, repressiva e jurídica sobre supostas organizações criminais anarquistas de caráter internacional, enviamos força axs nossxs companheirxs, para além de serem ou não responsáveis dos fatos de que os acusam. Chamamos à solidariedade internacional com Mónica Caballero, Francisco Solar e xs demais detidxs em Espanha.
Dedicamos essa ação a estxs companheirxs, tentando também contribuir para revitalizar e multiplicar a ação direta neste território. Por isso, saudamos, apesar das diferenças, os grupos que durante esse mês realizaram ataques contra bancos espalhados pela cidade.
Solidariedade com xs companheirxs perseguidxs pelo poder: Diego Ríos e Felicity Ryder.
Nenhuma trégua ao domínio.
Memória e ação pelo companheiro Mauricio Morales!
Memória e ação pelo companheiro Lambros Foundas!
Célula Longa Vida a Ilya Romanov
Afim à Internacional Negra