Olga Ekonomidou, Conspiração de Células de Fogo
Do país dxs esquecidxs, contra o esquecimento…
A condição de cativeiro em que me encontro desde há 4 anos e meio, como punição exemplar e de vingança, obriga-me à distanciação da realidade exterior, da ação. Além disso, a prisão destina-se à discriminação, ao isolamento político, à destruição moral de todxs xs que combatem o existente. Mas há sempre barras para quebrar e caminhos pelos corredores monótonos e esterilizados de uma “penitenciária” ou cruzamentos nas ruas transversais ornamentadas dentro da consumista sociedade-prisão. Agora, dentro das celas da democracia, o alento de cada dia continua a ser a necessidade de liberdade. É a força motivadora para pensar, imaginar, organizar, agir. A decisão do confronto total com o existente, a força da opção individual, enriquecida pelas experiências colectivas de ação, são os componentes que podem atravessar as barras e muros altos. Porque na prisão não te resignas … continuas. Reorganizas-te e lutas. Durante os últimos 4 anos e meio na prisão desperto pouco depois do amanhecer – mas quando estava fora gostava muitas vezes de prolongar o sono – organizo melhor cada um dos meus movimentos, embora quando estava fora me emocionasse o espontâneo, analiso e julgo os dados (políticos e pessoais) do dia anterior, sozinha, embora os dados fossem sempre partilhados com compas, quando estava fora da prisão. Desde há 4 anos e meio que me levanto tendo a certeza de que a minha participação na guerra contra todas as formas de Poder fui eu que a determinei e de que a liberdade não se oferece … conquistas-la tu, sózinhx.
Janeiro de 2015 … Estava tudo pronto para se executar um projecto, para ser de carne e osso. Um passo … uma lufada de ar antes da liberdade … Embora o objectivo não tenha sido alcançado … a tentativa valeu totalmente a pena!
A tentativa da CCF de fuga das nossas futuras tumbas confirmou que a luta pela liberdade nunca pára e ao mesmo tempo tocou à campainha do mecanismo de estado. Foi vislumbrado o dano que traria, tanto em relação ao prestígio como à confiança no sistema, se a tentativa tivesse tido uma saída com êxito. No fim, um projecto de libertação deu origem a toda uma repressão repressiva cujo principal e básico objectivo foi a vingança contra anos de atitude tenaz e sem arrependimentos.
A ampliação do amedrontamento ao sector solidário do espaço anarquista, a fim de isolar politicamente xs presxs, não foi suficiente. Pela primeira vez, no que diz respeito aos territórios gregos e à tensão com que se expressou, aplica-se uma perspectiva mais ampla da lógica antes mencionada. Uma vez que o poder viu que as armas “lícitas” ou “ilegítimas” de que dispõe não tinham tido até agora o resultado esperado sobre nós, arrastou-se como um vil réptil para morder o tendão de Aquiles.
Desta vez colocaram xs parentes no ponto de mira. A criminalização das relações familiares não mostrou mais do que uma clara intenção de vingança por parte do Estado. De chantagem e exterminação de todxs aquelxs que feriram o prestígio das suas estruturas. A caça de novas detenções,as buscas e as incursões em casas foram concluídas com duas prisões preventivas: a da mãe de Christos e Geramimos Tsakalos e a da companheira sentimental deste último. No entanto, quanto mais tempo se dá ao inimigo mais facilmente se este acredita que se vai ganhar. Portanto, no mesmo dia dos ingressos na prisão, começou uma greve de fome exaustiva da CCF que conseguiu tirar da prisão a mãe dos dois compas. À greve de fome de muitos dias, juntou-se desde o seu início, nas masmorras dos serviços antiterroristas, a anarquista Angeliki Spyropoulou, acusada pela sua contribuição política para a tentativa de fuga. Durante dois meses, os cães da polícia procuraram-na, depois daquela ter optado por não se entregar, escolhendo o caminho belo e difícil da ilegalidade. Compartilhamos, até ao momento a mesma célula, analisando tudo o que tem acontecido e tudo o que está por vir numa perspectiva comum, sob um novo ponto de vista.
Desde os primeiros dias de Janeiro que a CCF está sob contínuo ataque, com a separação de quatro dxs nossxs compas da população geral da prisão – foram transferidos a meio da noite para celas de isolamento especiais. Revistados de forma continua, permanecem nas celas subterrâneas da seção especial da prisão de mulheres de Korydallos, onde os retêm sob a pretexto da segurança ou de qualquer alegada informação. E, embora de cada vez que tenham feito buscas, nada que os possa incriminar em termos penais tenha sido encontrado, sentindo-se insatisfeitos, os cães de caça mostram no olhar que retornarão em breve. Também com a abolição informal das visitas a Christos e Gerasimos – uma vez que, nos termos da libertação de sua mãe, esta não pode sair dos limites da ilha onde vive, mesmo que seja por razões de saúde. E por fim, com a sua persistência e desejo de vingança de manter Evi presa, seis meses mais tarde.
A extensão da prisão de Evi é de dupla importância para a dominação. Por um lado, põe à prova os limites dxs guerrilheirxs e a tolerância dxs solidárixs, legitimando a tática mais ampla da criminalização das relações familiares. Trata-se do jogo psicológico do Poder que, entre outras coisas, invade com arietes as consciências. Tem como alvo as mentes dxs parentes, a fim de xs cansar, desanimar, decepcionar e por fim xs pôr contra, corroendo a relação de confiança que temos com elxs, uma vez que pagam o preço das nossas escolhas. E se, desta forma, em cada história pessoal alguns/mas compas, amigxs ou do seu entorno permaneceram e outrxs te abandonaram é porque se posicionam facilmente do lado das pessoas quando têm êxito, mas dificilmente nos seus momentos difíceis. Ainda assim, o Poder não ganhou neste jogo. O que apostou no enfraquecimento dos laços emocionais e sua transformação, já o perdeu. Porque mesmo após 6 meses, as pessoas do nosso entorno, na prisão ou dos espaços restritivos e limitados onde se encontram devido a ordens judiciais, continuam a nos oferecer sorrisos de paciência e confiança, mantendo a sua própria dignidade.
A aposta, então, continua a ser a nossa, de cada núcleo anarquista e de cada individualidade que promova o ataque contínuo e a insurreição, para mostrar que não haverá trégua com o inimigo, nem agora, nem nunca. Especialmente em tempos de operações repressivas não se deve voltar atrás, mas reavivar os focos de ataque para ser verdadeiramente perigosx. Continuar a ser uma ameaça como inimigx internx no coração do sistema. Porque qualquer coisa a rolar ladeira abaixo só pára quando um obstáculo se levanta antes dela, continuando a fazê-lo infinitamente, com aumento da velocidade, atropelando à sua passagem qualquer que seja de proporções interiores. É uma aposta viva, sem fim, mas com duração, evolução e tensão numa direção … a libertação, a anarquia.
Nem preciso nem quero a vossa disciplina. Quanto às minhas experiências, eu mesmo as realizo. É delas e não de vós que tirarei a minha regra de conduta. Quero viver a minha própria vida. Detesto a quem domina e repugna-me quem está dominado. Tenho horror a escravos e lacaios. O que consente em inclinar as costas sob o chicote não vale mais do quem o chicoteia. Amo o perigo e a incerteza, o inesperado me seduz. Quero a aventura e não me interessa um chavelho o êxito. Odeio a vossa sociedade dos gestores de empresas e dos milionários e mendigos. Não quero me adaptar aos seus hábitos de hipócritas ou à vossa falsa cortesia. Quero viver o meu entusiasmo no meio do ar fresco da liberdade … Mantenho o meu caminho, de acordo com os meus caprichos, transformando-me constantemente, e não quero que amanhã seja como sou hoje. Deambulo e não deixo que ninguém corte as minhas asas com a tesoura … Odeio cada corrente e toda a travagem, adoro andar despida com a minha pele acariciada pelos raios de sol voluptuosos. E, oh!, ancião! importo-me muito pouco que a sua sociedade seja quebrada em pedaços para que eu possa viver a minha vida.
— Quem és tu, menina fascinante, misteriosa e tão selvagem quanto o instinto? Sou a anarquia
(Émile Armand, francês, anarquista individualista)
Olga Ekonomidou
Membro da CCF-FAI
Prisões de mulheres de Korydallos
O texto “Desde o país dxs esquecidxs, contra o esquecimento…” é uma contribuição às compas presas no Chile, Tamara Sol e Natalia Collado. É também um gesto solidário com a presa Evi Statiri, no marco da convocatória a nível nacional de 2 de Setembro. Evi Statiri suspendeu uma greve de fome iniciada a 14 de Setembro de 2015, no dia 2 de Outubro, data em que o conselho judicial competente decidiu conceder-lhe a liberdade condicional a partir da prisão preventiva, embora sob duras condições restritivas.