Rede tradutora de contrainformação

Portugal: Programa da Feira Anarquista do Livro de Lisboa [1 a 8 Outubro 2017]

Depois de dez anos a instigar a subversão, a conspiração e a difusão das ideias acratas, a FAL é hoje mais indispensável do que nunca e traz a debate temas diversos: Colapso capitalista, Violência policial e Racismo, Transfeminismo, Okupação, Saúde anti-autoritária, Anti-especismo, Repressão de Estado, Memória histórica anarco-feminista, Guerrilha anti-franquista, Hortas urbanas, Artes e Resistência.

Este ano a feira decorrerá em vários espaços com apresentações de livros, conversas, workshops, documentários, música, exposições, mostra de editoras e distribuidoras. Tal como nas edições anteriores, a FAL convida-nos a conhecer a(s) história(s) de um passado de revolta e a pensar formas de luta para um presente que se organiza a partir da hierarquia, do autoritarismo, da competição, da chantagem e do medo. Contra tudo isto urge fazer alianças para um futuro rebelde, combativo e solidário.

Há um elemento comum nas lutas que na última década agitaram a “paz social” podre em diferentes geografias. A luta contra a precariedade na Grécia, na Itália, em Espanha e em Portugal, as ZAD’s e a resistência ao estado de emergência em França, a revolta dxs estudantes e do movimento indígena no Brasil, México e Chile, as Primaveras Árabes e todos os outros focos de insurreição revelam e convergem na vontade de auto-organização, de autonomia e de liberdade. Unem-se num grito conjunto: somos ingovernáveis!

Sabemos as consequências de permanecer sempre ao lado daquelxs que se recusam a obedecer; sentimos como anarquistas a repressão violenta do Estado, mas não nos vergamos perante aquelxs que engendram e perpetuam os sistemas globais de dominação: o Estado, as corporações, os bancos, os exércitos, os média corporativos, os burocratas, os tecnocratas, os democratas, etc. Partimos das experiências de um passado de rebelião, aprendemos com todxs que sempre tiveram a coragem de cuspir naquelas pessoas que desde as suas torres de marfim assinam decretos, sentenças e contratos para precarizar vidas, expropriar recursos naturais, fortalecer políticas imperialistas, controlar corpos e desejos, reprimir a dissidência, gentrificar os nossos bairros, aprisionar a liberdade, minar os movimentos sociais, etc. Organizamos-nos hoje num contexto em que o capitalismo se reforça e concentra poder através de um feudalismo neoliberal que nos rouba a autonomia em todos os âmbitos, a extrema-direita se renova e alastra, o cishetero-patriarcado continua a ramificar a violência, o racismo prevalece institucionalizado, os discursos xenófobos adquirem legitimidade pública, a “guerra contra o terrorismo” justifica a suspensão das poucas liberdades que a democracia ainda permite, e um quotidiano que se torna cada vez mais refém de tecnologias.

E depois lembramos-nos que em todo o lado existem resistências que não capitulam: a experiência autónoma de Rojava e a luta do povo curdo; os movimentos indígenas da Amazónia e do Dakota; a eterna luta pela sobrevivência que xs palestinianxs travam contra a ocupação israelita; as greves selvagens por todo o lado e principalmente nos países onde o capitalismo trata cada ser humano como despojos da economia (Bangladesh, China, etc.); as lutas de apoio aos/às refugiadxs e migrantes contra as políticas racistas e assassinas de todos os Estados e das suas fronteiras; as lutas contra a especulação e pelo direito à habitação; as lutas contra o neocolonialismo; as lutas queer e transfeministas contra a assimilação neoliberal e estatal; o activismo pela libertação animal; as lutas contra o ecocídio capitalista, etc. A resistência quotidiana urge!

Tenaz e desobediente, a Feira Anarquista do Livro propõe um espaço de difusão de ideias, teorias e projectos, de co-aprendizagens críticas, de aquisição de ferramentas políticas para a transformação social e de fortalecimento de redes de afinidade. Surge da raiva, da contestação, do sentido de comunidade. É em si mesma um exercício de autonomia, de auto-gestão, de apoio mútuo, de acção directa, de praxis anarquistas, enfim, de liberdade.

Oprimidxs? Assim nos querem. Dominadxs? Jamais. Rebeldes? Sempre! >> PROGRAMA COMPLETO <<

DIA 1, DOMINGO | À da Maxada
TIRO DE PARTIDA: OKUPAÇÃO

A partir das 17h | Forno a lenha com pizzas e outros petiscos

17h | Tarde infantil – Oficina de brinquedos
Um bom brinquedo é aquele que sem ser nada concreto pode ser tudo, um mesmo objecto tem o poder de transformar-se de acordo com o jogo. Nesta oficina de brinquedos, queremos promover a criação/fabricação própria como uma forma de luta anti-consumo, usando múltiplos objectos quotidianos e convertendo-os em brinquedos. O que procuramos é criar um espaço onde só é necessário tempo, criatividade e vontade de brincar, enquanto promovemos o uso de brinquedos que potenciem as habilidades artísticas, estimulem o pensamento e a imaginação.

20h | Apresentação da feira e projecção do documentário “De stad was van ons – Era a nossa cidade”
Documentário sobre a ascensão e queda do movimento de okupação em Amsterdão entre 1975 e 1988. A história da okupação em Amsterdão está marcada pelos diversos movimentos de contra-cultura (como os Provos) que marcaram a década de 1960. A facilidade com a qual se podia entrar em prédios abandonados e o sangue que fervilhava nas veias de muitxs jovens holandesxs naqueles anos levou ao rápido crescimento de um movimento de okupação pioneiro na Europa. Com o passar dos anos, a crítica anti-capitalista e a militância política dos primeiros okupas foram sendo substituídas por uma outra forma de entender a prática de ocupar casas, transformando-se num estilo de vida onde proliferavam as festas. O choque geracional e os conflitos permanentes levaram à decadência de um movimento que foi uma referência para a crítica anti-capitalista do fim do século.

21h45 | Conversa “O momento em que nos encontramos e as perspectivas dos movimentos de Okupações”

À da Maxada (Estrada das Machadas, Setúbal)

DIA 2, 2ª FEIRA | Gaia
DAS HORTAS OKUPADAS ÀS CAMARÁRIAS

18h30 | Debate “Hortas Urbanas ou Camarárias, impulso rebelde ou cedência aos mandos camarários”

20h | Jantar vegano

21h30 | Apresentação do livro “Decrescimento – Vocabulário para um novo mundo” (Tomo, 2016. Ed. Brasileira)

Gaia (Rua da Regueira nº 40, Alfama)

DIA 3, 3ª FEIRA | Centro de Cultura Libertária
BIBLIOTECAS AUTÓNOMAS E PENSAMENTO CRÍTICO

Exposição de cartazes anarquistas de ontem e de hoje.

20h | Jantar vegano

20h30 | Conversa/debate sobre a relevância e o papel que desempenham as bibliotecas autónomas e de difusão do pensamento crítico num tempo em que acelera a desmaterialização do Livro.
Com a participação da Biblioteca do CCL, BOESG (Biblioteca e Observatório dos Estragos da Sociedade Globalizada) e RDA49, três bibliotecas sociais e não institucionais que desde Almada e Lisboa mantêm o compromisso de disponibilizar uma extensa colecção de títulos, para analisar e transformar o quotidiano de miséria ao qual todos os sistemas de domínio nos pretendem manter acorrentadxs.

Centro de Cultura Libertária (Rua Cândido dos Reis, 121, 1º Dto – Cacilhas – Almada)

DIA 4, 4ª FEIRA | Disgraça
SUBVERSÃO, ARTE E GRITOS

18h00 | Oficina “Artes, Subversão e Propaganda à Moda Antiga”
Vamos lá pintar faixas e fazer stencils para espalhar as palavras da heresia anarquista!

20h00 | Jantar vegano

21h00 | Concertos
Hyle – Anarchafeminist Powersludge/Witchcore desde Bolonha
NOFU – DIY Old School Punk Hardcore desde Roma (www.nofuhc.bandcamp.com)

Disgraça (Rua Penha de França 217A/B, Penha de França, Lisboa)

DIA 5, 5ª FEIRA | C.O.S.A.
CONTANDO A NOSSA HISTÓRIA: OKUPAÇÕES

19h | Apresentação do Arquivo Digital Público – Okupações em Portugal pós anos 90

20h | Pestiscada brava

22h | Som e convívio

COSA (Rua Latino Coelho 2, Setúbal)

DIA 6, 6ª FEIRA | Praceta António Sardinha /Disgraça
RUMO À PRAÇA

Praceta António Sardinha:

A partir das 16h! Bancas de editoras e distribuidoras

19h | Apresentação da editora Ké Animal Es Esse Gato pelo colectivo de editores
Ké Animal es ese Gato é uma editora auto-gerida e independente nascida em 2017 na cidade de Lisboa. A sua existência baseia-se na necessidade de comunicar ideias, textos, imagens e música que tentam abrir mais uma fenda na construção do caminho para um mundo novo, fazendo das suas edições uma extensão das lutas em que este colectivo de editores participa e acredita.

Disgraça:

20h | Jantar vegano

21h30 | Apresentações a cargo da rede Contra Info

Hamburgo contra G20: Informação sobre a luta contra a cimeira do G20, realizada em Hamburgo no mês de Julho, e a consequente repressão e censura do Indymedia alemão, com a apreensão de diversos computadores em Friburgo e a perseguição daquelxs que acusam de administrar o site.

Repressão na Argentina: Desaparecimento de Santiago Maldonado, anarquista
Desaparecido desde 1 de Agosto quando foi sequestrado pela polícia argentina na sequência da repressão a uma acção de solidariedade com o povo Mapuche.

Breve actualização dos últimos episódios repressivos em Itália, Grécia, Chile e México.
Solidariedade com xs presxs anarquistas.

21h30 | Projecção do documentário “Mutantes: Punk Porn Feminism”
Filme documental, dirigido por Virginie Despentes (2009), que mostra a luta do feminismo pró-sexo que teve início na década de 1980. Reúne mais de vinte entrevistas realizadas nos EUA, em Paris e em Barcelona, bem como inclui documentos de arquivo sobre acções políticas de trabalhadoras do sexo, activistas queer e performances pós-porno.

DIA 7, SÁBADO | Praceta António Sardinha / Disgraça
QUANDO TUDO ESTALA

Praceta António Sardinha:

A partir das 11h! Bancas de editoras e distribuidoras

12h | Workshop sobre saúde anti-autoritária e como fazer uma utilíssima caixa de primeiros socorros (pelo Grupo de Saúde Anti-autoritária)

13h30 | Piquenique na praceta – traz a tua merenda!

14h30 | Conversa sobre a luta contra a maxi-prisão em Bruxelas e consequente repressão (com a presença de um companheiro belga)

16h30 | Apresentação do livro “Colapso: Capitalismo Terminal, Transición Ecosocial, Ecofascismo” (pelo autor Carlos Taibo)

18h30 | Apresentação da editora Eleuthera
Com mais de 30 anos a editar literatura anarquista, este colectivo de editorxs italianxs vem a Lisboa falar sobre a sua história e destacar algumas das edições recentes, como “Voltairine de Cleyre – Un’anarchica Americana” e “Pirati e sodomia”. Apresentarão também o Centro de Estudos Libertários/Arquivo G. Pinelli, do qual fazem parte.

Disgraça:

18h30 | Projecção do filme “Maciste Contre le Capital”
“Maciste Contre le Capital” é um détournement (desvio) político de um filme da série “Maciste”, ao melhor estilo de René Vienet, autor situacionista que em 1973 realizou aquele que é considerado o primeiro filme do género “La dialectique peut-elle casser des briques?”.

20h| Jantar vegano

21h | Concertos
dUAS sEMIcOLCHEIAS iNVERTIDAS – colectivo de terapeutas do ruído
Desflorestação – post industrial grindcore / cybergrind grand raout

23h | Dj set >Rata Dentata<
///Variedades anti-Sistema. Putação musical. Descanonização. Armação. Beat’n’Clit. Hard-Whore. Soft-Pot. Junk. Desclássica. Letal. Pazz. Transgressive. Saphoric. Transditional. Fock. Laundry. ///

DIA 8, DOMINGO | Praceta António Sardinha / Disgraça
RECOLHENDO AS CINZAS

Praceta António Sardinha:

A partir das 11h! Bancas de editoras e distribuidoras

12h | Conversa-workshop sobre resistência(s) no quotidiano

13h30 | Piquenique na praceta – traz a tua merenda!

14h30 | Apresentação da editora Barricada de Livros com duas edições “Preferi Roubar a ser Roubado” e “Os Cangaceiros” (pelo colectivo editorial)

16h30 | Apresentação dos livros “Quico Sabaté y la Guerrilla Anarquista” e “Oriol Solé Sugranyes – 40 años después” (pelo autor Ricard Vargas)

18h30| Debate “Transfeminismo anti-cistema” (pelo colectivo Rata Dentata)
Este debate propõe uma reflexão crítica sobre o transfeminismo – numa conciliação apimentada entre a teoria e a praxis – tendo por base uma perspectiva anti-autoritária. Abordaremos o movimento queer e as influências deste para a emergência do transfeminismo enquanto movimento político. Através de uma breve análise cronológica, percorreremos os seus lugares teóricos e os seus campos de acção política. A partir da experiência directa de uma companheira, faremos uma incursão pelo movimento transfeminista autónomo de Barcelona.

Disgraça:

16h30 | Debate “Especismo e lutas anti-autoritárias” (pelo colectivo Rata Dentata)
Este debate propõe uma reflexão sobre o especismo a partir de uma perspectiva anti-autoritária. Abordaremos o anti-especismo – como teoria e praxis – e as suas articulações com as lutas anti-capitalistas, indo além da análise das micro-políticas (e.g., veganismo). Faremos uma incursão pelas críticas (trans)feministas ao especismo, focalizando naquela que corresponde à sua principal dimensão: a exploração dos corpos dxs animais não-humanxs para consumo. Através da apresentação de um conjunto de exemplos, discutiremos os principais pontos de intersecção entre a libertação animal e os movimentos anti-autoritários.

18h30 | Projecção do documentário “Maquis a Catalunya 1939-1963”
“Maquis a Catalunya 1939-1963” aborda a história do movimento de guerrilha anti-franquista na Catalunha desde o fim da guerra civil até à morte das suas figuras mais relevantes e desaparecimento do movimento nos anos 60.

20h | Jantar vegano

21h00 | Debate sobre violência policial e racismo

Durante o fim-de-semana, na Praceta António Sardinha:

“Resistências Des/enterradas: Exposição sobre a(s) História(s) das Mulheres nas Lutas Anti-autoritárias”
Esta exposição pretende visibilizar as histórias das mulheres que, em diferentes geografias e a partir de múltiplos lugares de enunciação, se afirmaram como precursoras dos movimentos anarquista e autónomo entre os finais do séc.XIX e os meados do séc.XX. Partindo da necessidade de recuperação da memória histórica (anarco-feminista), inclui notas biográficas, ilustrações, referências a acontecimentos políticos, a menção de publicações, entre outros. Trata-se de um projecto itinerante, baseado nos valores do DIY, de elaboração inacabada.

Mercadinho de troca de roupa
Mercadinho é uma acção informal de troca directa de bens de vestuário. Um mercado de trocas surge como um espaço de pluralidade de participantes e bens promovendo a troca de roupa e fortalecendo relações comunitárias em torno de um diálogo aberto sobre as roupas e as suas histórias, lançando um novo olhar para o seu ciclo de vida.
Traz artigos de roupa, acessórios ou calçado que normalmente se poderia trocar com amigxs, vender ou doar, e troca-os por outros disponíveis.
O número de trocas aconselhado corresponde ao número de peças depositadas.

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Bancas participantes:

Bakakai (Granada)
Batalha
Barricada de Livros
Biblioteca BOESG
Centro de Cultura Libertária
Chili com Carne
Contra-Info
Elèuthera editrice (Itália)
Indesiderabili Edizioni (Itália)
Grupo Surrealista de Madrid
Livraria Letra Livre
Jornal Mapa
Pandorca Distro
Covil/Suporte Okupa
Tortuga

Espaços e condições de acessibilidade:
http://feiraanarquistadolivro.net/espacos.php

Contactos:
http://feiraanarquistadolivro.net/
feiranarquistadolivro@riseup.net