Rede tradutora de contrainformação

Alemanha: Os piratas de Edelweiss

À medida que a guerra progredia também assim acontecia com a seriedade das atividades em que participavam os Piratas de Edelweiss. Os Piratas de Colônia “ofereciam apoio aos desertores do exército alemão, aos prisioneiros dos campos de concentração e aos evadidos dos campos de trabalho forçado”, diz Rogrow, enquanto que outros “faziam incursões armadas a depósitos militares e faziam sabotagem de propósito à produção de guerra”. Havia outros que pregavam partidas aos nazis. Julich se lembra de como ele e seus amigos estavam jogando tijolos para dentro das fábricas de munições e de como derramavam água com açúcar nos tanques de gasolina dos carros dos nazis. Outros Piratas enchiam os muros da cidade com frases pintadas a spray como “Abaixo Hitler” ou “Abaixo a brutalidade nazi”. Algumas roubavam, saqueando alimentos e mercadoria dos negócios ou dos trens de carga, ou descarrilavam vagões de trem cheio de munições e abasteciam de explosivos grupos de adultos da resistência. Piratas dos diferentes povos “se encontravam no campo, para troca de informações, escutadas ilegalmente ao ouvir a BBC World Service, ou planejar a distribuição de folhetos nas aldeias de cada um, de modo a que a polícia local não os reconhecesse”, afirma Hannah Cleaver do Daily Telegraph de Londres. Os folhetos continham propaganda ou incentivavam os soldados alemães para pararem de lutar e voltarem para junto das suas famílias.

Eles também foram feitos prisioneiros e enviados para reformatórios, hospitais psiquiátricos, ou campos de trabalho forçado, de reabilitação ou de concentração. Outros foram simplesmente torturados e mortos.

Os piratas de Edelweiss: os filhos dos comunistas e anarcosindicalistas assassinados em muito dos casos

“A nossa música está cheia de liberdade, amor e vida. Nós somos os piratas de Edelweiss”

Nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, os membros do regime nazi, fomentaram na juventude alemã o sentido de lealdade e de primogenitura (direito inato). Os nazis pensavam que se esperassem até eles serem adultos já seria tarde demais, a mentalidade nazi deveria ser registrada em crianças se se quisesse que aquela se apoderasse das suas mentes e crescesse neles o sentimento de apoio à causa. A Juventude Hitlerista foi fundada com essa intenção. Mesmo quando foi aberta a meninas também (as meninas podiam se inscrever na banda Deutsche Madel), o principal interesse da Juventude Hitlerista era o de conseguir o controle dos jovens homens da Alemanha. Os meninos que tivessem entre 10 e 14 anos, juntavam-se aos Deutsches Jungvolk (Gente Jovem Alemã) e aqueles com idade entre 14 e 18 anos inscreviam-se na Hitler Jugend (Juventude Hitleriana).

Durante seu auge, os membros do grupo constituíam 90% da juventude elegível do país e foram a maior organização da juventude do mundo, à época.

A explicação para a existência de uma percentagem tão grande de envolvidos é clara, se se pensar que o Reich não só considerava ilegal todas as outras organizações juvenis como também decretaram obrigatória a inscrição na Juventude Hitleriana; foi ainda mais longe, ao ameaçar os pais, dizendo-lhes que seus filhos iriam ser colocados em orfanatos, se recusassem que se alistassem. Quando os nazis terminaram as imposições, qualquer grupo juvenill fora da Juventude Hitleriana era considerado fora da lei.

No início, a Juventude Hitleriana funcionava de forma muito semelhante à de qualquer outra organização de jovens homens. Praticavam esportes e jogos, faziam caminhadas e iam acampar, enquanto desfrutavam da sua pequena parcela de independência longe de suas famílias. No entanto, ao longo do tempo, a Juventude Hitleriana tornou-se uma organização que utilizava um treinamento militar nas suas atividades (método militarista); muitos membros estavam entediados pela falta de liberdade (eram supervisionados por membros mais velhos, que foram divididos em esquadrões tipo polícia) e insatisfeitos com suas atividades que no passado consistiam em jogos de atletismo, mas agora incluíam marchas, exercícios sobre a correta utilização das baionetas, granadas e pistolas, e manobras em abrigos, trincheiras e arame farpado. As atividades também incluíam roubo, vandalismo, luta e intimidação – devido a uma regra que proibia a polícia de prender os membros do Serviço de Patrulha da Juventude Hitleriana pelas suas atividades criminosas, tudo ocorria- sem receio das conseqüências. Estas mudanças na organização permitiram às pessoas tomar consciência das verdadeiras razões que estavam por trás da formação da Juventude Hitleriana.

Insatisfeitos com as intenções, cada vez mais transparentes, da Juventude Hitleriana e na ausência da liberdade ou diversão anunciadas pelos membros, no início, um incontável número de meninos e meninas começaram a procurar uma maneira de se separarem completamente do grupo. Alguns o fizeram deixando a escola, o que era permitido (era o normal entre os jovens de famílias da classe trabalhadora) com a idade de 14 anos, ou abandonando a Juventude Hitleriana que, devemos lembrar, era obrigatória. Se os encontrassem seriam confrontados com graves conseqüências. No entanto, durante o período anterior à Segunda Guerra Mundial, pequenos grupos (entre 10 a 15 membros), compreendendo principalmente homens entre 14 e 18 anos, começaram a procurar mútua companhia, fora da Juventude Hitleriana.

Esses grupos começaram a se formar nas maiores cidades da Alemanha nazi, como sejam Hamburgo, Leipzig, Frankfurt e Colônia, em particular, utilizando nomes como “swings” (evasores do serviço militar), “packs” (gangues), “cliques” (gangues) ou “piratas” (piratas). Os Farhtebstebze o Traveling Dudes (Cidadãos Viajantes), por exemplo, surgiram em Essen, os piratas Kittelbach Pirates (os Piratas de Kittelbach) procediam de Pberhaussen e Dusseldorf e os Navajos de Colônia. Pensa-se que os membros destes grupos, juntos, totalizariam mais de 5.000, cerca de 3.000 apenas em Colônia, e apesar de cada grupo manter uma identidade particular, com base nos lugares onde residiam, todos se consideravam Piratas de Edelweiss.

Identificados pelas placas distintivas, em metal, que usavam na lapela ou bonés, esses jovenzitos da classe trabalhadora se transformaram em “um dos maiores grupos de jovens que se recusaram a participar das atividades da juventude nazi”, segundo Sally Rogow, professor do Centro de Educação do Holocausto, em Vancouver.

Para além de suas insígnias, cabelos longos, o tipo de roupa (geralmente muito colorida, camisas e shorts em xadrez, calças escuras ou Lederhosen, meias brancas e lenços ao pescoço) e as canções que tocavam e cantavam (muitas contrastantes com a música Volkish aprovada pelos nazis, foram escritas por compositores judeus ou tinham letras antinazis) estavam todas proibidas na Juventude Hitleriana e serviam para aumentar as distâncias com o grupo. Grupos individuais dos Piratas de Edelweiss reuniam-se em cafés, em parques ou nas esquinas das ruas, durante a noite, caminhavam a pé, a andar de bicicleta no campo ou a viajar fazendo camping (acampando) ou iam às cidades vizinhas para visitar seus companheiros Piratas. Não devemos esquecer que estes passatempos, tirados do contexto, parecem muito inofensivos. No entanto, de acordo com as restrições nazis, todo o grupo de jovens formado fora da associação da Juventude Hitleriana era considerado fora da lei.

Os Piratas geralmente trabalhavam em usinas ou fábricas, mas diz-se que pouco a pouco se tornaram pouco produtivos, com sua própria ética de trabalho, e por fim apenas párias sociais (?). Devido às suas origens semelhantes e ambientes comuns, e seu número pequeno, existia uma grande coesão entre eles. Muitas vezes, não tinham amigos fora do circuito dos companheiros Piratas. A pequena percentagem de adolescentes que não aderiram à Juventude Hitleriana foi excluída pelos seus membros, por isso não foi de um lado só, como parecia, o comportamento anti-social dos Piratas. E não devem ser confundidos com “jovens de rua delinqüentes”, observa atentamente Rogow. “Eles eram apenas os filhos e filhas de pais da classe trabalhadora” jovem demais para servir como soldados. No entanto, eles tinham antecedentes difíceis e alguns não tinham pais, pois estes por serem comunistas ou anarcosindicalistas, haviam sido presos ou mortos. Outros tinham ficado sem pais, porque estes estavam lutando na guerra.

À medida que a guerra progredia também assim acontecia com a seriedade das atividades em que participavam os Piratas de Edelweiss. Os Piratas de Colônia “ofereciam apoio aos desertores do exército alemão, aos prisioneiros dos campos de concentração e aos evadidos dos campos de trabalho forçado”, diz Rogrow, enquanto que outros “faziam incursões armadas a depósitos militares e faziam sabotagem de propósito à produção de guerra”.

Havia outros que pregavam partidas aos nazis. Julich se lembra de como ele e seus amigos estavam jogando tijolos para dentro das fábricas de munições e de como derramavam água com açúcar nos tanques de gasolina dos carros dos nazis. Outros Piratas enchiam os muros da cidade com frases pintadas a spray como “Abaixo Hitler” ou “Abaixo a brutalidade nazi”.

Algumas roubavam, saqueando alimentos e mercadoria dos negócios ou dos trens de carga, ou descarrilavam vagões de trem cheio de munições e abasteciam de explosivos grupos de adultos da resistência. Piratas dos diferentes povos “se encontravam no campo, para troca de informações, escutadas ilegalmente ao ouvir a BBC World Service, ou planejar a distribuição de folhetos nas aldeias de cada um, de modo a que a polícia local não os reconhecesse”, afirma Hannah Cleaver do Daily Telegraph de Londres. Os folhetos continham propaganda ou incentivavam os soldados alemães para pararem de lutar e voltarem para junto das suas famílias.

Em uma entrevista, Walter Mayer, um antigo membro dos Piratas de Edelweiss, lembra-se que aos 16 anos se juntava, com seus companheiros dos Piratas, num café de Dusseldorf, jogando bilhar. Um dos seus companheiros perguntou: “que vamos fazer a seguir?” E então um deles disse: “Vocês conhecem a Juventude Hitleriana? Todos eles guardam seus equipamentos no lugar tal e tal. Vamos fazê-los desaparecer”.

“Bem, quando vamos nos encontrar?” “Na data de tal e tal”… e isso foi o que fizemos… creio que começamos esvaziando os pneus. A seguir fizemos desaparecer a bicicleta inteira e chegamos a um ponto onde havia já queixas demais.

Os Piratas de Edelweiss faziam todo o possível para evitar a Patrulha da Juventude Hitleriana que estava sempre em busca de membros dos Piratas, mas alguns provocavam brigas (um dos seus slogans era, afinal de contas, “Guerra Eterna contra a Juventude Hitleriana”, atacando os seus inimigos (armas foram usadas em diversas ocasiões), sentindo-se orgulhosos de seus triunfos, que não eram invulgares…

Os piratas que fossem apanhados sabiam que teriam de lidar com várias conseqüências. No mínimo, os piratas capturados seriam ameaçados, espancados ou submetidos a uma cabeça rapada, uma das mais populares formas de humilhação. Eles também eram feitos prisioneiros e enviados para reformatórios, hospitais psiquiátricos, ou campos de trabalho forçado, de reabilitação ou de concentração. Outros foram simplesmente mortos.

Aos 15 anos, o pirata Julich foi apanhado, junto com vários outros, torturado e levado preso por quatro meses. Um amigo de Julich, o companheiro de prisão e pirata Bartolomaeus (Barthel) Schink, um membro do grupo Navajo Ehrenfeld, foi enforcado na prisão. “A causa da morte de Bartel Schink era ser um membro dos Piratas de Edelweiss”, disse Julich. “E é verdade que planejava explodir um prédio na Gestapo em Colônia, juntamente com Hans Steinbrück”. “Mas, acrescenta ele, Schink nunca tinha matado ninguém”.

Shink morreu enforcado, sem julgamento, como criminoso, juntamente com sete outros adultos e cinco adolescentes e Piratas, sendo ele o mais novo.

Em 1988, os Piratas de Edelweiss foram reconhecidos como “Justos entre as Nações” pelo Yad Vashem em Jerusalém, mas somente depois de 2005, graças à contínua instigação do pirata Julich e da pirata Gertrud Koch, o grupo foi “politicamente reabilitado”, a denominação de criminosos posta pela Gestapo foi revogada e foram reconhecidos como “lutadores da resistência” e homenageados. “Nós pertencíamos à classe trabalhadora e foi principalmente por essa razão que fomos reconhecidos apenas recentemente”, afirma Koch, de 81 anos.

O jornalista Cleaver afirma: “Depois da guerra não havia juízes na Alemanha, então os velhos juízes nazis foram usados e mantinham a criminalização (sic) do que eles fizeram e de quem éramos”. Koch, que até agora usa o seu apelido ou código de Edelweiss Mucki”, diz, falando acerca dos Piratas: “Restam apenas cinco de nós em Colônia. Quatro dos meninos e eu”.

A história dos piratas está obtendo, embora lentamente, o devido reconhecimento. Julich publicou suas memórias e contribuiu de várias maneiras para dar o merecido reconhecimento aos Piratas. Ele apoiou a liberação do filme alemão de 2005, “Edelweiss Pirates”, dedicado a Schink e dois outros adolescentes, proclamando-os “corajosos lutadores” e a sua bela voz pode ser ouvida em uma gravação recente de “Há guerra em Xangai”, uma canção popular pirata. “É a guerra em Xangai” era uma canção romântica dos Piratas, que era cantada ao redor do fogo nos acampamentos”, explica Julixh. “Foi uma canção política, era dirigida aos estrangeiros, com o desejo de companheirismo e independência”.

Os nazis não cantavam essa canção porque ela não era coerente com a sua ideologia.

O fato de os Piratas terem feito florescer a sua própria maneira de estar no mundo foi motivo suficiente para impulsioná-los para a ação e suficiente forte para apoiá-los, para fazê-los suportar as crueldades que os esperavam, é infinitamente impressionante. Pode ter sido devido a esses jovens que resultaram tão claras as atrocidades do regime nazi e por isso a sua decisão de oposição foi tão total.

Sua decisão foi de resistência e, como conseqüência, portanto, foi plena de dificuldades, assim como também pleno foi o seu desejo de liberdade, pois, como diz uma de suas canções: “Nossa música está cheia de liberdade, amor e vida. Nós somos os Piratas de Edelweiss”.

Tradução > Liberdade à Solta
agência de notícias anarquistas-ana

Fonte: www.portaloaca.com