Após as últimas operações policiais contra o meio anarquista, muito se disse e se escreveu – sendo na sua grande maioria uma queixa ou uma “condenação” à repressão por parte do poder – tanto em comunicados como nas opiniões. Tendo em conta a última operação repressiva e as reacções que se seguiram, consideramos importante dar a nossa perspectiva sobre os acontecimentos
Começando pela visão de que a repressão, que se tem vindo a abater sobre nós, é a resposta lógica do Estado aqueles que consideram (ou o Estado mesmo considera) como os seus/suas inimigxs – não entendemos os comunicados em que de uma ponta à outra se descrevem como vítimas (e, claro, com as palavras mais apropriadas) se roga ao Estado que deixe de lançar as suas hordas policiais de forma “indiscriminada” contra xs anarquistas. Que a repressão é injustificada, supostamente usa-se e abusa-se do termo “montagem”, que não fazemos nada de mal…que nos atacam por “pensar diferente”… tenta-se dar uma imagem de “normalidade” e, por todos os meios, que esta imagem pública seja o mais limpa ou socialmente aceitável. Faz-se o possível para se distanciar de discursos ou práticas violentas, caindo assim no jogo de poder, usando a mesma linguagem, fazendo distinções entre anarquistas “bons/boas” e “maus/más” fomentando deste modo a mesma criminalização.
Chegados a este ponto, entre estxs “anarquistas” há quem não tenha tido vergonha de conceder entrevistas aos meios de comunicação dando uma imagem lamentável e, o que é pior, situando-se como porta-vozes do “movimento anarquista” (e já de passagem por todos os movimentos sociais) estxs aspirantes a políticxs e guias de massas tentam fazer todo o possível para afastar o anarquismo de seu carácter subversivo e de confronto, pintando-o como um simples movimento de activismo social, vazio de todo o discurso e prática de confronto com o poder e a ordem existente.
Por outro lado há os discursos dos que falam continuamente sobre o terrível que é a repressão, que todxs estamos controladíssimxs, que não se pode fazer nada… estas atitudes não fazem mais que difundir o pânico e a paranóia colectiva e por trás destes discursos e atitudes estão aquelxs que escondendo o seu imobilismo usam, como pretexto, a omnipresença da repressão, os seguimentos, os clássico “a mim têm-me fichadíssimx”…etc, etc. Não estar disposto a assumir as coisas é uma decisão pessoal, mas esconder-se atrás de um medo descontrolado – e em muitos casos infundado – e dedicar-se a espalhar esse sentimento derrotista é perigoso é contraproducente. Isso não quer dizer que uns/umas sejam “bravxs” e xs outrxs “cobardes”, é totalmente normal ter medo das detenções nas delegacias de polícia, das prisões, dos espancamentos, das torturas e assassinatos realizados pela bófia ou pelos carcereiros …
No entanto, dar rédea solta ao medo permite o pânico e a paranóia – que por sua dá lugar aos discursos derrotistas que atraem a passividade e o imobilismo e ao é melhor “portar-se bem” tanto para si mesmx como para com o resto dxs companheirxs para não se acabar por ser o alvo de investigações policiais.
Como nota final sobre este assunto apenas dizer que, ainda que o Estado não tenha mostrado mais que a ponta do iceberg, isto não é nada comparado com o que poderia ter sido solto e, de fato, basta olhar para a repressão que se exerce actualmente noutras partes do mundo (e não é preciso ir muito longe) ou na própria Espanha há algumas décadas.
Deve ficar claro que, a partir do momento em que nos posicionemos como anarquistas, passamos a viver em risco permanente e com possibilidade de sermos atingidxs pela engrenagem repressiva – ainda que à margem das nossas práticas, pois como já se viu, há ocasiões nas quais a dita máquina repressiva procura acima de tudo provocar medo entre o inimigo, levando à frente qualquer um/a em vez de dar golpes certeiros – aos olhos do poder qualquer um de nós pode ser um objectivo.
Não obstante o desencadear das operações policiais, encarceramentos e difamações levadas a cabo (e do está por vir) o poder sabe que permanecemos, como sempre, indivíduxs aos quais não nos podem controlar nem assustar por mais que tentem – não poderão acabar com as nossas ânsias de destruir todo aquilo que nos oprime. Enche-nos de alegria comprovar que, apesar de todo o transcrito, não conseguiram deter a ofensiva contra o existente, há sempre continue sem ceder ao medo e à submissão social, passando ao ataque permanente. A acção multiforme anarquista continuou espalhando-se pelos diversos bairros, cidades e vilas em forma de publicações e textos combativos, cartazes, pintadas, faixas, sabotagem, incêndios e explosivos, cortes de ruas com barricadas com barricadas, confrontos, ataques a edifícios do poder e distúrbios durante manifestações…
Ainda que a tendência em Espanha tem sido para a não reivindicação das ações, pelo que muitas delas ficam mudas ou são silenciadas, sabemos bem que tudo isto tem vindo a ser sucedido em maior ou menor grau. A violência minoritária sempre continuou e continuará e, sim, falamos de violência, sem tabus ou complexos, pois estamos convencidos de que o poder não cairá por si nem nenhum messias cairá do céu com a solução debaixo do braço.
Não usamos palavras como “auto-defesa” ou “contra-violência” ou não falamos de violência anarquista apenas quando haja um contexto de levantamento de massas porque resulta mais aceitável. Temos comprovado que, apesar de tudo, a prática insurrecional e o ataque continua a ser possível, a polícia não pode estar em toda a parte, nem nos espiar ou controlar a todxs: um pouco de senso comum, uma boa planificação e vontade são mais do que suficientes para se comprovar que a imagem de um mundo controlado e pacificado não passa de uma ilusão e quebrar esta ilusão de tranquilidade está nas nossas mãos.
Porque frente aos ataques do poder e à miséria de alguns/mas “anarquistas” que só se preocupam em darem ares de bons/as jovens inocentes perante a sociedade, e salvar-se a si mesmxs, nós armamos os nossos desejos e paixões, passamos ao ataque. Frente às massas e à sua passividade apenas oferecemos a nossa agressividade, não esperamos nada deles e lançamos-nos em pleno à revolta anárquica permanente.
Somos xs revoltosxs que decidiram seguir de pé e assumir o risco por nos atrevermos a viver a anarquia aqui e agora.
Para nós, as palavras sem actos são palavras mortas, por isso aproveitamos este comunicado para reivindicar as siguintes ações em diferentes zonas de Barcelona:
O incêndio de vários veículos de diferentes empresas privadas oo estatais, a maioria deles de empresas de segurança.
Ataques a sucursais bancárias mediante la rotura dos vidros e do caixa eletrónico com martelos, pedras e tinta ou incêndio do mesmo.
Incêndio de contentores e destruição de diverso mobiliário urbano.
Através deste comunicado queremos saudar afectivamente xs nossxs presxs, especialmente Monica e Francisco que lestão há mais de dois anos em prisão preventiva sem baixar a cabeça, xs compas Nicola e Alfredo, xs compas do CCF e xs compas atualmente prisioneirxs no Chile, assim como todxs xs compas presxs em qualquer parte do mundo, tal como saudamos xs nossxs e recordamos xs que tombaram e a todxs aquelxs que dia a dia continuam a apostar no conflito e na insurreição permanente em todo o lado, fazendo da anarquia uma ameaço, de novo.
Por um Dezembro Negro em todo o lado!
Pela Internacional Negra de anarquistas da praxis!
Pela extensão do Caos e da Anarquia!
Nada acaba, a guerra continua…
Individualidades pela Dispersão do Caos – FAI/FRI
Nota: Desenho realizado no Chile por um compa em prisão preventiva, acusado na montagem “Caso Bombas”, há anos atrás.