[14 Abril]
Esta é a nossa resposta ao assédio do poder e das suas forças repressivas contra o nosso círculo de solidariedade, famílias, amigxs e companheirxs. Diariamente estão a ser vítimas de perseguições, intimidações, assédio, agressões e sequestro por parte da polícia e, perante isto, tanto pelos nossos critérios como pela nossa convicção, e ainda mais por esta, é impossível ficarmos de braços cruzados.
Assim, hoje, 14 de Abril, damos início a uma mobilização como forma de protesto e de resposta à chantagem emocional que estamos a sofrer por parte do poder e das suas instituições repressivas. Levando à prática o nosso descontentamento de maneira insubmissa, como só a nossa essência consegue ser – utilizando o nosso corpo como barricada – iniciamos deste modo a paralisação das nossas actividades e uma greve da fome liquida dentro das prisões e exigimos:
– A saída imediata da prisão para Enrique Alfonso Guzman Amadeo, tendo em consideração a acusação ridícula e as provas delirantes contra ele apresentadas pelo ministério público.
– Estabelecimento da validação científica das provas de ADN. Existe uma certeza real da sua utilização 100% exacta e precisa para incriminar? Porque não se tem a certeza científica das análises de ADN quando se têm amostras com vestígios biológicos de várias pessoas e principalmente quando a utilização que o ministério público faz desta prova for de grande peso, quando na realidade não é prova -sobretudo a maneira como apresentam a prova no nosso caso, pretendendo fazer crer que o registo biológico que ficou depois de uma explosão é suficientemente válido e infalível apesar dos geneticistas e criminologistas terem rejeitado a sua validade e qualidade.
– Exigimos que cesse o assédio e a perseguição que as forças repressivas têm desencadeado contra o nosso entorno mais próximo, querendo dessa forma amedrontar e criminalizar aquelxs que não hesitaram em nos manifestar o seu amor e solidariedade activa e incondicional. Prova clara disto é a prisão do nosso companheiro Enrique – o qual sem nada que ocultar ou negar decidiu assistir-nos periodicamente, visitando-nos nos diversos centros de tortura e extermínio – assim como o sequestro de um amigo que foi agarrado pelo pescoço e obrigaram a entrar num carro em plena via pública.
Esta exigência de fim do assédio a que estamos sujeitos é tanto em relação ao que se passa fora como dentro dos recintos penais – tanto eu como a minha companheira Nataly estamos a ser diariamente acossadxs pelo serviço penitenciário do chile e a nossa resposta não tem sido nada submissa o que já nos custou vários castigos e agressões e muito claramente a intenção que temos de nos voltar a ver dentro da instância carcerária.
– Exigimos a solução imediata da situação da nossa companheira Nataly Antonieta Casanova Muñoz, já que desde que chegou à penal de san miguel se encontra em regime de castigo e isolamento severo e a instituição penal faz caso omisso da exigência de mudança de ala, deixando a nossa companheira num “limbo carcerário”. Exigimos a transferência imediata da nossa companheira para uma ala/torre onde possa ter contacto/relação com outras internas e mais horas de pátio, dado que desde a sua chegada aí só tem uma hora de pátio, sendo esta uma conduta/protocolo completamente irregular.
GREVE DE FOME LÍQUIDA DE MANEIRA INDEFINIDA
Juan Alexis Flores Riquelme
Ala 1
Santiago 1
Hoje, segunda feira, 13 de Abril, dei início a uma greve de fome líquida (só água potável) contra as retaliações dos aparelhos estatais ao nosso círculo mais próximo (familiares e amigxs). Farta dos delírios dos magistrados do ministério público da zona sul e das mentiras do magistrado Raul Guzman nos media corporativos, tentando incriminar Enrique Guzman e o incorporar à via fodida a que deram início na continuidade da sua investigação (espectáculo, perseguições, acossamento, ameaças e até o sequestro de um amigo às mãos da polícia civil) .
Confrontadxs com esta jogada do poder contrapomos a nossa consciência, afectos e ideias que rejeitam a imposição das suas leis antiterroristas ou o que quer que seja, pois só defendem a sua ordem de privilégios e vidas parasitárias.
Aqui entre os seus muros não estamos derrotadxs nem sós, como pretendem, continuamos insubmissxs, livres e dignxs, lutando novamente com o nosso corpo como arma contra aquelxs que desejam enjaular e enterrar sob o cimento a luta, a dignidade, o amor e a solidariedade.
Exigimos:
– A liberdade imediata do nosso irmão, amigo e companheiro Enrique Guzman, preso por ser do nosso círculo próximo e nos visitar.
– O fim das perseguições, assédios, sequestros e interrogatórios às nossas famílias e amigxs, por serem quem nos apoia neste cenário, em que o poder nos procura isolar.
– Do mesmo modo, exigimos o fim do assédio dos carcereiros a todxs xs presxs que enfrentem dignamente este lugar, cada tareia e humilhação terá sempre uma resposta, nenhum/a de nós está sózinhx. Destaco o assédio e os ataques cada vez mais violentos contra o meu companheiro Juan Flores, em relação a mim a situação é semelhante.
– As suas provas de ADN não têm validade científica tanto pela escassez e qualidade das amostras como pela variedade das misturas biológicas presentes – já que estas podem coincidir com muitas pessoas sendo estas provas apresentadas pela acusação do ministério público como as suas melhores provas. Exigimos a determinação da validade das provas por meio de análise de métodos e amostras. Considerando também todos os aspectos científicos, não só a acusação tendenciosa dos magistrados do ministério público.
– A modo pessoal faço saber – tanto ao meu círculo como a quem o encarceramento não seja indiferente – que desde o início dos 7 meses que levo de prisão preventiva me encontro em isolamento severo, só com uma hora por dia de pátio, sem nenhuma actividade recreativa para além daquelas que proporciono a mim própria – negando-me, deste modo. este regime qualquer oficina ou actividade recreativa presente na penal – justificando-se com o facto de que na nossa ala são muito poucas as internas. Eu convivo só com uma interna/presa, ocasionalmente com mais, mas todas rodam, sendo eu a única que se mantém nesta situação instável. Devido ao exposto anteriormente, exijo mudança imediata de ala.
SOLIDARIEDADE, AGITAÇÃO E AÇÃO FRENTE AOS AVANÇOS REPRESSIVOS
ABRAÇANDO CADA LUTA CONTRA A DOMINAÇÃO
Nataly Casanova Muñoz
CDP San Miguel
A familiares, amigxs e companheirxs. Ao conhecimento público.
Hoje, 14 de Abril, às 00:00 hrs, inicio uma greve de fome de carácter líquida (só água potável), com o objectivo que se cumpram as exigências que já indicarei. Trata-se de uma medida de luta e solidariedade, na qual pomos em risco a nossa vida e saúde. Esta decisão é motivada pelos últimos factos que atingiram o nosso círculo de próximxs, a detenção de Enrique, a perseguição e assédio do nosso círculo de próximxs e de solidárixs, as agressões e castigos exercidos pelos carcereiros a Nataly e Juan. Em resumo, todo um emaranhado de maquinações exercidas pelo poder e os seus aparelhos (imprensa, acusação do ministério público, polícias, etc.), com o objectivo de conter a solidariedade efectiva com xs nossxs companheirxs encarceradxs.
Sei que situações como esta não são novas, tanto neste país como noutros lugares distintos do mundo, tomamos/tomo exemplos de luta onde elas existam, por isso hoje e dentro das minhas possibilidades, mas bem reduzidas, decido jejuar em solidariedade com xs meus irmão/irmã. Esta luta é levada por nós contra aquelxs que dizem exercer a lei e tomar decisões para o bem da sociedade – apregoando a igualdade perante a lei quando as suas próprias leis e sociedade foram forjadas pela desigualdade que impera sob o domínio do capitalismo.
Não posso manter-me inerte e passivo perante este contexto repressivo que atinge xs meus irmão/irmã, por isso solidarizo-me com o jejum indefinido até que se cumpram as nossas exigências.
– A libertação imediata do nosso irmão e companheiro Enrique Guzman Amadeo, detido e sequestrado pelo Estado, graças à delirante imaginação de magistrados do ministério público e às suas ânsias de reprimir a solidariedade a presxs insubmissxs.
– Não mais agressões e assédios, por parte dxs carcereirxs, a Juan e Nataly. Tal como o cessação da perseguição e amedrontamento de familiares, amigxs e círculo solidário – por parte do Estado, magistrados do ministério público e polícias.
– A solução da situação carcerária de Nataly Casanova – companheira mantida em isolamento severo, desde o início da sua prisão preventiva (23 de Setembro de 2014), com 1 hora só de pátio e sendo-lhe negada a possibilidade de convivência com outras internas que não estejam castigadas, tal como o acesso a actividades recreativas e de aprendizagem (oficinas, etc.). Exigimos a transferência imediata a outra ala, na qual se remedie esta situação indigna.
– O esclarecimento científico da validade das provas de ADN. Segundo a qualidade e composição das amostras, dar conta da validade do método de análise e da certeza de seus resultados. Hoje estas provas de ADN são utilizadas como principal prova acusatória no caso, sendo que tanto a sua procedência como a qualidade desta dista muito da pretendida certeza científica que a acusação do ministério público pretende dar a estas “magníficas” provas.
Só a luta e a solidariedade entrega o que é negado pelo Estado, só assim se pode enfrentar este mundo construído por e para elx$.
Guillermo Duran Méndez
Em detenção domiciliária total