Rede tradutora de contrainformação

Espanha: Carta da companheira Mónica Caballero a partir da prisão de Ávila

axionysolidaridad
Ação e solidariedade por Mónica e Francisco

Nas mãos do estado a força chama-se Direito, nas mãos do individuo receberá o nome de crime. Crime significa o emprego da força pelo indivíduo; somente pelo crime pode o indivíduo destruir o poder do estado, quando considerar que está acima do Estado e não o Estado acima dele. – Max Stirner

Nestes últimos dias, passados quase dez meses do meu encarceramento nas prisões do estado espanhol, é-me necessário entregar-vos estas palavras, queridxs companheirxs que lutam pela abolição de qualquer autoridade e o desenvolvimento integral de cada individuo.

Hoje em dia, o anarquismo é uma das maiores preocupações – em termos de segurança – de muitos estados ocidentais (e alguns orientais); nesta caça às bruxas de antiautoritárixs informais tudo vale, esta histeria repressiva é inerente à conquista da libertação total, é tão antiga quanto as ideias acratas o são. Pelo que, a todx aquelx que tente confrontar ou simplesmente questionar a ordem existente, x espera uma visita momentânea ou prolongada a um dos aprazíveis monumentos do extermínio humano. No meu caso o passar por alguma jaula não é novo. Quando te decides a lutar contra o poder estabelecido o castigo é uma das suas consequências, esta postura vai muito mais além da visão democrática de Inocente/Culpado, a qual não tem cabimento em alguém que quer destruir este mundo que se cimenta em leis nas quais não creio. Não reconheço juíz algum, o seu direito transforma-me em escrava, a sua justiça torna-me prisioneira.

No interior das prisões reluz o maior lixeira da sociedade. Aqui dentro, amachuca-se o indivíduo no mais profundo da sua essência;  a chantagem e a manipulação por parte dos tentáculos do Poder são misturados e transformados em política de reintegração social. Perante esta política a coerência é a minha vitória, manter-me incorruptível e digna é a luta diária.

Neste processo politico-jurídico-policial, levantado no princípio contra um grupo de companheirxs e que por último assentou no meu amado companheiro e em mim própria,  os aparatos do Poder usaram as mais diversas artimanhas, algumas chegando ao ridículo, mas quem mamou deste Sistema e tenta perpetuá-lo jamais compreenderá as nossas formas. Formas que quebram a hierarquia, que não recebem ordens de ninguém, que crescem e se multiplicam como ervas daninhas no seu sossegado e estéril jardim. O conjunto das ideias anarquistas desenrolam-se na complexidade da integridade individual; este individux livre associadx com outrxs indíviduxs acabam com esta sociedade apodrecida.

As formas e os modos com que os indivíduos confrontam o domínio são múltiplas e ilimitadas; nenhum é melhor ou pior, são apenas diferentes. Nenhum acrata que se considere como tal pode impôr o que fazer a alguém, muito menos permitir algum tipo de imposição.

No caminho da construção-destruição anarquista não possuímos (nem queremos) qualquer tipo de manual ou itinerário; nós construímos-los dia a dia com os nossos afins. Quanto aquelxs que acreditam que nós, antiautoritárixs, seguimos os postulados de algum companheiro “renomeado” à letra, digo-lhes que não compreenderam nada.

Se bem que ao longo da história, na luta contra a autoridade têm havido (e há) muitíssimos companheiros e companheiras valiosxs que deram grandes contribuições, isso não quer dizer que prestamos algum tipo de culto a algum ou alguma.

Queridxs companheirxs, gostaria muito de vos dedicar palavras em mais ocasiões, mas perante as limitações em que me encontro não tenho a certeza se poderei comunicar desta forma novamente.

Dentro de alguns meses vai realizar-se o julgamento contra nós; nessa altura tentarei manter-me à altura das circunstâncias, jamais baixarei a cabeça.

Envio um abraço fraterno a todxs xs que expressaram solidariedade connosco, cada gesto solidário ilumina as sombras destas frias paredes.

Aos e às prisioneirxs políticxs subversivxs que se encontram nas prisões do Estado chileno: estão presentes, sempre, nos meus pensamentos; ainda que esteja longe, estou com vocês. E a vocês, irmãos e irmãs livremente escolhidxs, rapidamente voltaremos a cruzar olhares.

Mão aberta ao e à companheirx, punho cerrado ao inimigo!
Morte ao Estado e viva a anarquia!

Mónica Caballero Sepúlveda
Prisioneira Política Anarquista
Prisão de Ávila, Setembro 2014
Território dominado pelo Estado Espanhol

(Notas da transcrição: estas palavras foram escritas pela Mónica no início de Setembro e deveriam ter sido publicadas há mais de um mês, mas por motivos que desconhecemos não chegaram às nossas mãos até agora, finais de Outubro.)

Para escrever a Mónica e a Francisco:

Mónica Caballero Sepúlveda
Centro Penitenciario Ávila
Ctra. de Vicolozano-Brieva, s/n
05194 Brieva, Ávila, España/Espanha

Francisco Solar Domínguez
Centro Penitenciario Villabona
Finca Tabladiello
33480 Villabona-Llanera, Asturias, España/Espanha