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Barcelona: Crónica da onda repressiva após a greve geral de 29 de Março

Segue-se uma pequena cronica dos factos mais importantes – do mês de Abril e primeira semana de Maio – que permitem seguir a agudização da constante repressão no Estado espanhol e, em particular, na Catalunha, após os acontecimentos da greve geral de 29 de Março.

Dadas as circunstâncias de estado de excepção que o regime democrático quis impôr, com a proximidade da Cimeira do Banco Central Europeu, realizada a 3 de Maio em Barcelona – para além da intenção de atemorizar o movimento anarquista e subversivo, através de detenções – e da histeria mediática dos  porta-vozes do Poder, fazemos um apelo aos/às compas para estar alerta e contribuir para as múltiplas tarefas de contra-informação, para que possamos difundir cada vez melhor, o que acontece, numa perspetiva revolucionária.

Após uma patética ação judicial e a Cimeira do Banco Central Europeu em Barcelona, no dia 4 de Maio Javi, Isma e Dani foram postos em liberdade sem fiança. No dia anterior a bófia tinha detido mais cinco pessoas em Iruñerria (Euskadi) acusadas de desordem pública durante a jornada da greve. Por seu lado, havia já sido levada a cabo uma nova operação repressiva , a 26 de Abril,  com a polícia a deter 7 pessoas e a invadir os seus domicílios, em Terragona, também no âmbito do 29M.

Mas a onda repressiva tinha começado já muito antes: Na manhã de terça-feira, 24 de Abril, tinha sido detida a secretária da Organização da CGT em Barcelona, Laura Gómez, de 46 anos de idade. Nessa altura, a sindicalista foi levada à esquadra da polícia de Les Corts, acusada de participação num ato de queima de papéis frente à entrada da Bolsa de Barcelona, no dia 29 de Março.

Algumas concentrações de solidariedade foram entretanto realizadas; depois de ter passado à disposição judicial,   Laura viu ser-lhe decretada prisão sem fiança com as acusações de incêndio e, por acréscimo, de danos, coações, delito de desordens públicas e delito contra os direitos fundamentais (25 de Abril).

Antes, na segunda-feira, 23 de Abril, tinha sido anunciada a apresentação oficial da nova ferramenta digital de repressão da polícia catalã. Trata-se, nem mais nem menos, de uma página de chibos para chibos, onde as autoridades fazem apelos de “cidadania” para que se delate e se passe informações sobre os/as manifestantes combativos/as que saíram às ruas a 29 de Março. Paralelamente, o Ministério do Interior tinha anunciado que: “Por motivo da Cimeira do Banco Central Europeu (BCE), a Espanha suspenderá o Tratado de Schengen e restabelecerá temporariamente os controlos fronteiriços com a França, desde as 0 horas do próximo sábado, 28 de Abril, até às 0 horas de sábado, 5 de Maio”.

Na tarde de domingo, 22 de Abril, levou-se a cabo a manifestação prevista em solidariedade com os três detidos da greve geral Javi, Dani e Isma – e com todos/as outros/as detidos/as pela mesma razão – que contou com a participação de mais de 2000 pessoas.

O protesto foi precedido por numerosos registros, realizados pela polícia catalã, colocada estrategicamente em todos os acessos à Praça da Catalunha, revistando as mochilas e exigindo provas de ADN a mais de uma centena de pessoas que se dirigiam para o centro da praça.

À cabeça da manif, compactada num único bloco, seguiam três faixas. Aquela seguiu sempre rodeada por carrinhas da polícia, tanto à frente como atrás. Na proximidade da rua Laietana, a marcha girou na direção do Forat de la Vergonya, onde foi lido um manifesto em homenagem aos/às processados/as pela montagem do caso 4F, antes de seguir o seu caminho até à zona pedonal de Lluis Companys.

Ao longo do seu trajeto, alguns/mas manifestantes realizaram pintadas contra a repressão de Felip Puig, o controlo social e as recentes detenções de dois estudantes da universidade de Barcelona e de um residente do bairro de Clot. Quando a manif estava a chegar à zona pedonal de Lluis Companys, recebeu o apoio de algumas pessoas que estavam presentes na Feira da Terra, situada a meio da zona pedonal, entre o Arco do Triunfo e o parque da Cidadela.

O ponto mais quente da marcha foi o momento em que esta passava diante do Tribunal Superior de Justiça da Cataluña (TSJC), totalmente rodeado de agentes anti-motim dos Mossos d’Esquadra, um edifício onde nos próximos días se há-de assinar a resposta ao recurso contra a detenção de Javi, Dani e Isma. Em concreto, será na oitava secção deste organismo judicial.

Debaixo do Arco do Triunfo foi lido um comunicado e também uma emotiva carta enviada por Javi, a partir do centro penitenciário Brians II (onde se encontra detido desde 1 de Abril).

Uma vez finalizada a marcha, assistiu-se a um estranho episódio policial: vários/as manifestantes encontravam-se sentados/as nos terraços dos bares da zona pedonal de Lluis Companys quando, de repente, agentes à paisana e anti-motins da polícia municipal levaram à força cinco pessoas. Duas delas foram detidas, acusadas de realizar pintadas ao longo da manifestação. Foram libertadas, por fim, nessa mesma noite, entre as 22h e 23 ou às 4h30 da madrugada, felizmente sem acusações.

Para além da manifestação, na Praça da Catalunha,a 22 de Abril,  um grupo de manifestantes colocou faixas em solidariedade com Stella Antoniou, anarquista presa nas masmorras gregas, e com todos/as os/as presos/as políticos/as. Contudo, a marcha de solidariedade foi marcada pelo mais recente episódio da caça aos lutadores/as desencadeada nos dias 19 e 20 de Abril.

A 19 de Abril seis pessoas foram detidas na Catalunha (4 em Barcelona e 2 em Tarragona) e, pelo menos, 12 mais em Irruña, País Basco, enquanto que na manhã de 20 de Abril, um numeroso dispositivo de anti-motins tinha assaltado os bairros de La Bordeta e Sant Andreu, registrando as casas dos/as 4 detidos/as, além das dos/as outros/as compas (confiscando objetos vários, o dinheiro encontrado e aterrorizando os/as residentes dos bairros).

O dogma da tolerância zero em relação ao movimento de resistência que propagam os altos cargos da bófia através da imprensa burguesa, também foi aplicado contra a concentração junto da esquadra da polícia de Les Corts em Barcelona, a 19 de Abril, em solidariedade com os/as detidos/as, naquele moment. Essa concentração foi rodeada pela bófia, que obrigou as pessoas a identificarem-se, uma a uma, antes de as deixar sair do local onde as retinha.

Para finalizar, a primeira fase do sequestro dos/as seis detidos/as na Catalunha tinha finalizado no sábado, 21 de Abril, com a sua libertação, no caso de dois deles/as, com a condição de se depositar uma fiança de 6000 euros. Uma semana antes, a 13 de Abril, na localidade de Esplugues de Llobregat os mossos tinha sido detido um companheiro como o presumível autor do ataque às caixas automáticas dos bancos. O dito companheiro está atualmente em liberdade provisória depois de ir a tribunal.

Além disso, as autoridades persecutórias acusaram duas pessoas mais, pela sua suposta participação, relacionando as 3 com um total de 13 ações e delitos penais similares. Não obstante, a investigação prossegue, embora se pretenda implicar o imputado e os denunciados com os distúrbios que se produziram a 29 de Março (onde um deles foi detido).

O que aqui se relata, ao fim e ao cabo, é a mínima contribuição ao processo de compreensão acerca dos dados específicos do último mes e das represálias contra os/as nossos/as companheiros/as na Catalunha.

O governo do Estado espanhol e os seus lacaios anunciaram já que vão transferir milhares de polícias na região para conter a raiva dos/as  oprimidos/as e manter a paz social que lhes alimenta a barriga. É por isso que nos detêm em massa, é por isso que nos destroçam olhos, cabeças e corpos, que nos retiram tempo de vida. Para matar a Rosa de Foc, no início do seu renascimento, nesta primavera ardente.

Para nós, os/as que entendemos a luta pela liberdade e a anarquia através do empenho diário pela extensão da solidariedade internacional e explosiva, é o momento de levantar bandeiras negras e apoiar a luta dos/as nossos/as irmãos e irmãs na Península Ibérica e nas periferias, criando simultaneamente, vínculos de comunicação entre lá e cá, seja onde for, estejam onde estiverem.

Não deixar ninguém nas mãos do Estado!
Ação direta e subversão!
Em frente companheiros/as, pela difusão do fogo!