A dançar com a morte há 24 dias.
Tento capturar num bocado de papel os últimos resquícios de pensamento estruturado, após os recentes desenvolvimentos e a nova rejeição das saídas educativas da prisão.
Desde os primeiros dias de greve que disse, na minha intervenção na assembleia solidária que teve lugar na Escola Politécnica, que a resposta negativa de Nikopoulos, que há muito afirmava não ser competente para decidir sobre tal, nada mais é do que uma estratégia do Estado cujo objectivo último é a minha exterminação. Esta análise politica foi absolutamente confirmada.
Primeiro, com o mandato para a minha alimentação forçada, da procuradora da prisão de Koridallos, Evangelia Marsioni – um acto que constitui uma verdadeira violação e que levou à morte de Holger Meins, na Alemanha, e de membros do GRAPO, em Espanha. Os médicos do hospital tiveram a dignidade de atirar ao lixo essa ordem do tribunal, negando-se a executar tal crime de Estado.
Em seguida quando o meu apelo foi rejeitado – tendo como fundamento o facto de terem de respeitar a decisão de Nikopoulos que é exatamente a mesma decisão contra a qual eu apresentei o apelo – num conselho judicial fora da prisão (um movimento legal que muitxs prisioneirxs escolhem, quando o conselho da prisão rejeita os seus pedidos).
Para todos aqueles com um mínimo de percepção politica, a intervenção do Ministério da Justiça. um dia antes da realização do conselho, foi uma ordem clara para a rejeição do apelo, tal como passarei a explicar:
O anúncio publicado pelo Ministério da Justiça menciona, ainda que de forma indirecta, que Athanasiou, Ministro da Justiça, não é competente para decidir a respeito, podendo ainda ler-se depois, no mesmo documento, que: “As saídas educativas são providenciadas exclusivamente pelo conselho da prisão, presidido pelo procurador, enquanto que para os imputados é necessária a aprovação do órgão judicial que ordenou a sua detenção temporária”.
Ou seja, a validade do meu apelo, nesse tribunal, foi anulada pelo Ministro, é tão simples quanto isto. Tudo isso mascarado com a proposta vazia de cursos de ensino à distância, por vídeo-conferência, em vez de saídas educativas, coisa que não é razoável, já que a presença física em certas aulas é obrigatória. Também levará à abolição total das saídas educativas, já que a solução da videoconferência será imposta a todos os presos.
Seguindo a mesma lógica, em breve, por motivos de segurança, só poderemos ver os nossos familiares através de ecrãs, nas horas de visita, o mesmo se passará nos tribunais. A tecnologia ao serviço da “correcção” e da justiça. Progresso humano ou processo de fascistização da sociedade… a História julgará.
Aqui, convém também mencionar o papel do juiz especial Eftichis Nikopoulos, que desde o meu primeiro dia em greve de fome assumiu claramente as ordens dos seus superiores políticos no Ministério da Justiça, o que explica o porquê de todos lhe atirarem as culpas. Como compensação por essa tarefa ele irá, mais cedo ou mais tarde, ser promovido ao tribunal supremo de Areios Pagos, exactamente o que aconteceu com Dimitris Mokas, que tinha liderado dezenas de campanhas repressivas anti-anarquistas. Ele goza agora o salário volumoso das élites judiciais de Areios Pagos. Casualidade? Não acredito.
Pela minha parte continuo, ultrapassando qualquer possibilidade de dar um passo atrás e responderei com LUTA ATÉ À VITÓRIA, OU LUTA ATÉ À MORTE.
Em todo o caso, se o Estado me assassinar com a sua atitude, o senhor Athanasiou e os seus amigos ficarão para sempre na história como um gang de assassinos, instigadores morais da tortura e assassinato de um preso politico. Esperemos apenas que existam aqueles espíritos livres que ajusticem à sua maneira o justo da sua justiça.
Concluindo, quero enviar a minha cumplicidade e amizade a todxs aquelxs que se têm posto do meu lado, de todas as formas e com todos os meios possíveis.
Por fim, algumas palavras para os meus irmãos: Yannis, que também está hospitalizado, Andreas, Dimitris e muitos outros. A luta também tem perdas, já que, no caminho de uma vida digna, temos de ir de mão dada com a morte, pondo tudo em xeque para tudo ganhar. A luta continua, com o punho contra a faca, uma e outra vez.
Tudo por tudo!
Enquanto vivamos e respiremos que viva a anarquia!
A 6 de Dezembro o nosso encontro é nas ruas da raiva!
Os meus pensamentos vaguearão pelas ruas de sempre.
Porque vale a pena viver por um sonho, mesmo que o seu fogo te queime.
E como nós costumamos dizer, força!
Ps. Obviamente, não posso controlar os automatismos sociais que se produzirão. No entanto, aos membros do Syriza e aos demais comerciantes da esperança que aqui vieram, pu-los fora, SEM DIÁLOGO, e sublinho que já afirmei oficialmente a minha negação de receber qualquer tipo de soro.
tradução recolhida do pt.indymedia e revisada a partir do grego