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Prisões de Korydallos: Nikos Maziotis, membro da Luta Revolucionária, na tentativa de escape e sentença de prisão perpétua

prison-breakTexto do anarquista Nikos Maziotis acerca da operação de escape das prisões de korydallos e da sentença de prisão perpétua proferida no âmbito do 2º julgamento da Luta Revolucionária

A tentativa de escape da prisão de Korydallos de helicóptero, a 21 de Fevereiro de 2016 – uma operação levada a cabo pela companheira Pola Roupa, membro da Luta Revolucionária – foi um ato revolucionário, uma ação de guerrilha para a libertação de prisioneirxs políticxs. Era um meio de continuar a actividade da Luta Revolucionária, uma resposta a operações repressivas do Estado contra a nossa organização e outrxs presxs políticxs, companheirxs que estão na prisão por atividade armada, além do mais. Foi, por conseguinte, um ato de solidariedade exemplar, de grande e única importância. A operação de escape da prisão foi um passo no sentido de continuar a atividade revolucionária armada; promovendo a luta pelo derrube do Estado e Capital; deitando abaixo a política do estabelecimento de programas de resgate impostos pela troika dos mandantes supranacionais do país, a CE, BCE e FMI, ao qual o ESM foi adicionado – através da promulgação e implementação do terceiro programa do memorando pelo governo liderado pelo SYRIZA. A luta armada nas circunstâncias actuais é mais oportuna e necessária do que nunca. O fracasso desta operação não nos irá dobrar. Lutaremos enquanto vivermos e respirarmos.

A Luta Revolucionária provou que tem permanecido de pé ao longo dos anos, não obstante os sucessivos golpes repressivos e sacrifícios; o sangue do companheiro Lambros Foundas, que foi morto em 10 de Março de 2010, num tiroteio com a polícia no distrito de Dafni, Atenas, durante uma acção preparatória da organização; as nossas prisões um mês depois, a 10 de Abril de 2010, na véspera da assinatura do primeiro memorando da Grécia; a minha prisão em 16 de Julho de 2014, em Monastiraki, Atenas, onde fui ferido na sequência de uma perseguição e tiroteio com a polícia. A Luta Revolucionária permaneceu de pé porque assumimos a responsabilidade política pela nossa participação na organização – na Grécia, fomos a primeira organização revolucionária e anarquista armada a fazê-lo – e porque defendemos a nossa história, as ações da organização e o nosso companheiro Lambros Foundas, que deu a sua vida para que o memorando não passasse; para transformar a crise numa oportunidade para a revolução social. Permanecemos de pé, como uma organização, porque não nos importava pagar o custo e o preço, porque não nos transformarmos em traidorxs ou desertorxs, porque nenhum/a de nós tentou salvar a própria pele no momento da repressão. É precisamente porque reivindicamos a responsabilidade política que ficamos vivos como organização, na prisão em 2010-11. Demos uma batalha política contra o inimigo no 1º tribunal especial. Uma vez libertadxs da prisão, após 18 meses em prisão preventiva, optamos por não nos render à prisão iminente e, em vez disso, passamos à  clandestinidade no intuito de continuar a luta armada e a atividade da organização.

O ataque da Luta Revolucionária – Comando Lambros Foundas, em 10 de Abril de 2014 contra o Banco da Grécia – uma sucursal do BCE, uma das organizações mais popularmente odiadas que compõem o quarteto de mandantes supranacionais – também o foi contra um edifício que abrigava o escritório do representante permanente do FMI na Grécia, anulou a operação repressiva de 2010 e continuou a estratégia da organização, lançada em 2009, com os ataques à sede do Citibank e a uma das suas filiais, uma filial do Eurobank e à Bolsa de Atenas. Durante anos a Luta Revolucionária viu-se confrontada com a ponta de lança da repressão do estado – uma vez que lidar com a organização e a atividade revolucionária geralmente armada é uma prioridade importante para a sobrevivência do sistema – visando eliminar o inimigo interno para a suave execução e implementação da lista de programas de resgate, que constituem as políticas de genocídio social e limpeza de partes da população.

Em 2007, o Departamento de Estado dos EUA e o Estado grego colocaram recompensas de 1 milhão de dólares e 800 mil euros, respectivamente, após o ataque da organização com um anti-tanque RPG à Embaixada dos EUA em Atenas. Em 2010, o governo Papandreou celebrou as nossas detenções e um funcionário do governo afirmou que tinham impedido um golpe que acabaria com a economia, na véspera da assinatura do primeiro memorando e no meio do medo de colapso da economia grega. Em 2014, depois de termos passado à clandestinidade e de termos sido condenadxs a 50 anos de prisão pelo 1º tribunal especial, o governo Samaras colocou uma recompensa de 2 milhões de euros pelas nossas cabeças – um milhão pela companheira Roupa e outro milhão por mim. A minha prisão, três meses após o ataque da Luta Revolucionária contra o Banco da Grécia, foi comemorada pelas autoridades gregas. Os funcionários dos EUA felicitaram-nos pela minha recaptura e fizeram declarações sobre a estabilidade política. Medidas especiais foram implementadas depois da minha prisão e, em Dezembro de 2014, fui transferido para a recém-inaugurada prisão de segurança máxima tipo C, sendo esta a primeira transferência de um prisioneiro político, já pré-anunciada desde a minha recaptura. Em Abril de 2015 estava incluído na lista de “terroristas internacionais”, designados pelo Departamento de Estado dos EUA, embora estivesse na prisão. As autoridades desencadearam uma caça ao homem para prender a companheira Roupa. Tudo isto demonstra que combater a Luta Revolucionária tem um grande significado para o sistema. Ou seja, a repressão contra a Luta Revolucionária e a aplicação de memorandos, juntamente com a estabilidade política do sistema, vão de mãos dadas.

O último elo na cadeia da repressão do sistema é a decisão do 2º processo contra a organização Luta Revolucionária, poucos dias após a tentativa de escape da prisão. Fui condenado a prisão perpétua pelo ataque à bomba contra o Banco da Grécia, mais 129 anos por duas expropriações de agências bancárias e por ter disparado sobre os polícias que me perseguiram em Monastiraki. A imposição da mais severa sentença que lhes foi possível, em relação ao ataque da organização contra os chefes do país, é uma decisão política consciente e não apenas um exagero processual. Como já foi dito, esta decisão não visa aterrorizarem-me a mim – porque sabem que não me arrependi e permanecerei sem arrependimento – mas sim aquelxs que queiram optar pela luta armada, companheirxs anarquistas / meio anti-autoritário e outrxs lutadorxs no seio da sociedade. Esta decisão política – aplicada pela primeira vez na Grécia no que diz respeito a um ataque com explosivos que ocorreu após um aviso telefónico, com danos materiais e sem feridos – destina-se a várixs destinatárixs e envia uma mensagem de intimidação, a de que xs lutadorxs que optem pela atividade revolucionária armada serão tratadxs com a máxima severidade.

Esta decisão demonstra o endurecimento cada vez maior do sistema contra o seu inimigo número um – a Luta Revolucionária, combatentes armadxs. Não é difícil entender por que é que é cada vez mais duro, mais duro até que os anteriores – num momento em que o governo liderado pelo SYRIZA tem já votado o terceiro memorando. A disparidade do tratamento penal nos 1º e 2º julgamentos pode dar origem a interpretações erradas; Por isso, gostaria de salientar o seguinte: Desde a promulgação de leis anti-terrorismo em 2001 e 2004 que esta legislação especial constitui uma opção política do Poder, a fim de lidar da forma mais efectiva possível, com a guerrilha urbana na Grécia, como se esta fosse a maior ameaça para o sistema; A disposição na legislação anti-terrorismo permite prisão perpétua – não por homicídio mas por explosão, como resultado de que havia perigo para os seres humanos ou de que uma lesão ocorresse. Eu fui condenado a prisão perpétua ao abrigo desta disposição. As decisões de tribunais especiais em julgamentos contra combatentes armados são decisões eminentemente políticas; os elementos no dossier de acusação são frequentemente de importância secundária. Por exemplo – como ficou demonstrado durante as audiências judiciais do 2º julgamento contra Luta Revolucionária em relação ao ataque da organização contra o Banco da Grécia – embora tivesse havido um telefonema de aviso antes da explosão, dando 50 minutos, os agentes de segurança permaneceram no interior do edifício sobre as instruções do supervisor de segurança do banco da Grécia. O próprio supervisor de segurança admitiu que há um regulamento padrão que obriga o pessoal de segurança a ficar no interior do edifício, apesar da ameaça de explosão. O mesmo aconteceu na sede do banco Piraeus, localizado em frente ao Banco da Grécia, onde os oficiais de segurança permanecem no interior do edifício, sob as instruções do cabecilha de segurança do banco. Como demonstrado no 1º julgamento contra a organização, o mesmo também tinha ocorrido em 2 de Setembro de 2009 no ataque da Luta Revolucionária ao edifício da Bolsa de Atenas, onde o pessoal de segurança permaneceu lá dentro, conforme ordenado pelo chefe de segurança.

Ficou assim demonstrado que aqueles que são responsáveis ​​por causar perigo aos seres humanos são os executivos do poder económico e os mecanismos e estruturas centrais do sistema, tais como bancos e bolsas de valores – os que consideram que as pessoas e populações inteiras possam ser desgastáveis; até mesmo os agentes de segurança das suas instalações. Porque, para eles, os seus lucros estão acima de tudo; os seus lucros, banhados no sangue e miséria, substituem a própria vida humana. Estes são os mecanismos que o povo grego considera responsáveis pela política implementada ao longo dos últimos seis anos, o que resultou em milhares de mortes e milhões de pobres, destituídos e pessoas com fome. Estes são os mecanismos cujos executivos (banqueiros, os principais acionistas, grandes empresários) ao lado de seus subordinados (políticos de governos gregos) o povo grego considera responsáveis pela desvalorização da vida de milhões de pessoas, pelos suicídios e pauperização; não os combatentes da Luta Revolucionária. Os ataques da Luta Revolucionária contra tais mecanismos e estruturas são, em grande medida, popular e socialmente aceites.

Tenho sido coerente no confronto com o inimigo nos tribunais especiais, tanto no 1º como no 2º julgamentos contra a organização. Isto implica assumir a responsabilidade política, a defesa política da atividade da Luta Revolucionária, da luta armada e da Revolução para o derrube do Estado e Capital, sem importar nem o custo nem o preço. Este é o dever de cada lutador, de todo o anarquista, de todo o revolucionário que se depara com juízes e órgãos do inimigo. A sentença a 50 anos de prisão, no 1º julgamento, foi baseada na assunção de responsabilidade política. É por isso que fomos condenadxs como cúmplices em 16 ações da organização, pelo teorema de responsabilidade coletiva, ao invés de sermos condenadxs como perpetradorxs reais. A resposta do Estado ao fato de eu manter a coerência na minha trajetória como lutador e continuar a defender a Luta Revolucionária, e, por extensão, a luta armada e a perspectiva de Revolução e derrube do sistema, foi o resultado do 2º julgamento, onde fui condenado a prisão perpétua por uma ação, o ataque à bomba contra o Banco da Grécia. Toda a minha trajetória após as prisões iniciais em 2010, o fato da Luta Revolucionária permanecer viva durante a detenção pré-julgamento em 2010-11, o fato da companheira Roupa e eu tivessemos defendido a atividade da organização na 1ª tribunal especial, a nossa escolha de não nos entregarmos à prisão, de ir para a clandestinidade e continuar a luta armada e a atividade da organização, com o ataque contra o Banco da Grécia, toda essa trajetória e todas estas escolhas são baseadas na assunção da responsabilidade política para a nossa participação na Luta Revolucionária, após ter sido capturado em 2010. Isto é o que o Estado tentou atingir através da decisão do 2º julgamento contra a organização.

A minha sentença de prisão perpétua foi uma mensagem aos/às lutadorxs que assumem a responsabilidade política e não repudiam a sua actividade e participação na sua organização.

As coisas estão a tornar-se cada vez mais claras para os combatentes que querem resistir e para xs presxs políticxs. O dilema “rejeição ou prisão perpétua” (nos velhos tempos era execução por fuzilamento) entra em vigor; um dilema colocado pelo Poder, um dilema que nos velhos tempos era “rejeição ou morte”.

Ao longo dos anos, para se suprimir qualquer perspectiva revolucionária, o Estado não se limitou apenas à predominância militar sobre os seus rivais – tenta a sua derrota política, forçando-os ao repúdio político. No caso da guerrilha urbana na europa ocidental, nos anos 70 e 80, especialmente em Itália, o alvo de repúdio político não era as suas convicções ou identidade política, antes a luta armada como sendo um dos meios de luta e de organizações da guerrilha urbana. Na Grécia, o dilema colocado pelo Poder uma vez foi este: ou repúdio ao comunismo, ou prisão e, noutras circunstâncias, a execução por fuzilamento. Hoje em dia, mais indirectamente, o dilema é este: ou a escolha de luta revolucionária armada com custos e consequências pesadas, ou a renúncia à luta revolucionária armada como sendo um dos meios de luta. Ou a assunção da responsabilidade política pela participação de alguém numa organização armada e na defesa da sua actividade, ou a aceitação da perseguição do Estado, do repúdio a uma organização armada e a pertença de alguém a ela e , por extensão, da luta armada, em face do medo de ir para a prisão.

Noutros períodos, mais difíceis, como a ocupação e a guerra civil, o preço a pagar para a luta era o pelotão de fuzilamento; e não apenas para a luta armada. Muitxs lutadorxs confrontadxs com o “repúdio ou morte” preferiram o pelotão de fuzilamento; claro que não queriam se tornar mártires, mas porque acreditavam que o repúdio é uma vergonha e desgraça; como tal, consideravam-no pior do que a morte. Havia militantes armadxs e guerrilhas do ELAS (Exército de Libertação do Povo Grego) e DSE (Exército Democrático da Grécia), mas também lutadorxs que não travam a luta armada, que permaneceram impenitentes e foram enviadxs aos milhares para o pelotão de fuzilamento durante a Ocupação e a guerra civil; foram executadxs em Goudi, no  campo de tiro Kessariani, nos campos de Chaidari e Pavlou Mela, em Makronissos e Corfu, em Yedi Kule. Da mesma forma, na Espanha, após a vitória de Franco, milhares de anarquistas armadxs que lutaram pela revolução em 1936-1939, e travaram a guerra de guerrilha até 1975, foram enviadxs para pelotões de fuzilamento em Campo de la Bota, Montjuïc, Carabanchel, ou estrangulados pelo método do garrote – usado como meio de execução para hereges durante a Inquisição.

A luta pela derrube do Estado e Capital é uma atividade que exige convicções inabaláveis, responsabilidade, coerência, comprometimento, envolvimento político, vontade de ferro e conhecimento político e teórico de princípios e experiências da tradição revolucionária histórica. Como podemos sequer falar de luta, da libertação social, revolução, anarquia, pedir aos outros para participar numa luta subversiva com todos os custos e as consequências que isso implica, se nós mesmxs não formos capazes de assumir a responsabilidade pelas nossas escolhas políticas?

Pela primeira vez em décadas – desde a era do Estado do pós-guerra, quando as guerrilhas do ELAS que foram excluídxs pelo Tratado de Varkiza de 1945, que não reconhecia a sua actividade como sendo política, bem como os do DSE que permaneceram na prisão durante pelo menos 15 anos – há uma perspectiva de que xs presxs políticxs condenados a 25 anos ou prisão perpétua para a ação revolucionária armada permanecerão muitos anos nas prisões do Estado marioneta grego contemporâneo da elite económica supranacional. Estamos a passar por um período em que o poder está, mesmo que indirectamente, a tentar arranjar dilemas para apresentar as suas credenciais, mais uma vez como no passado, para nos quebrar com o espectro do encarceramento a longo prazo.

A luta pela Revolução Social, para derrubar o Estado e o Capital, deve continuar apesar das dificuldades, os custos e consequências. Nunca entregaremos as armas da nossa luta.

SEM PAZ, SEM TRÉGUA COM O ESTADO E O CAPITAL

LUTA ARMADA PELA REVOLUÇÃO SOCIAL

HONRA PARA SEMPRE AO COMPANHEIRO LAMBROS FOUNDAS, MEMBRO DA LUTA REVOLUCIONÁRIA

Nikos Maziotis, membro da Luta Revolucionária

em inglês l turco via isyandan.org